Sassaricando – Oscar Nora – 29 de abril de 2020

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Foto: Thais Magalhães/CBF

Ontem à noite na Suécia, por volta das 21 horas, a temperatura marcava dois graus célsius. Neste momento em que o prezado leitor generosamente lê este texto, o frio na capital é menos frio, alguma coisa perto dos 10 graus. Estocolmo, capital sueca, é uma cidade atípica composta de 12 ilhas e 50 pontes. Guardadas as proporções até lembraria Recife, não fosse o frio que faz por lá.
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O brasileiro, especialmente os da minha idade, gostam de falar da Suécia. Naquele país onde o esqui e o hóquei no gelo são os esportes prediletos, o futebol tem sua vez com cerca de 3.500 clubes inscritos nas ligas locais. Como diria Nelson Rodrigues, na Suécia, em 1958, o futebol do Brasil rompeu o complexo de vira-lata iniciando a caminhada para potencia mundial no futebol.
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Nos anos de 1950, quando 200 mil torcedores assistiram no Maracanã a perda do título mundial para os uruguaios, a seleção brasileira de futebol se tornou uma equipe deprimida. Em 1954, na Copa da Suíça, a recuperação do prestígio internacional era o que se esperava. Para evitar lembranças ruins até o uniforme foi mudado. Naquela Copa do Mundo, a primeira na Europa do pós guerra, o Brasil usou camisas amarelas e calções azuis, uniforme que recebeu do locutor Geraldo José de Almeida o apelido de seleção canarinho.
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Embora tendo uma estreia avassaladora, goleando a seleção do México por cinco a zero, a desorganização da seleção brasileira era tanta que os jogadores não sabiam que o empate frente aos iugoslavos classificava os dois times para as quartas de final. Os brasileiros lutaram até o final e, sem conseguir alterar o 1 a 1 no placar, alguns atletas chegaram a chorar no ônibus antes de saber que estavam nas quartas de final.
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Do mundial na Suíça participou a fantástica equipe da Hungria, campeã olímpica de 52, transbordando super craques como Ferenc Puskás, Hidegkuti, Kocsis, Bozsik e Czibor. Castilho, Pinheiro, Didi, Djalma Santos, Nilton Santos e Julinho Botelho, alguns dos nossos craques na época, não conseguiram segurar a máquina magiar. Derrota por 4 a 2 e grande pancadaria que ficou conhecida como a batalha de Berna.
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Quatro anos depois, esfolado pelas duas trágicas Copas anteriores, houve bom senso e foi montado um esquema de rígida organização. A delegação que viajou para a Suécia contava até com um psicólogo. O treinador Vicente Feola abandonou o tradicional 4-2-4 e inventou o 4-3-3, esquema tático onde Zagallo atacava e recuava para marcar no meio-campo.
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Castilho, Gilmar, Djalma Santos, Mauro, De Sordi, Bellini, Orlando, Zózimo, Oreco, Nilton Santos, Garrincha, Joel, Mazzola, Dino Sani, Didi, Moacir, Pelé, Vavá, Dida, Pepe, Zagallo, deram conta do recado e o Brasil conquistou seu primeiro título mundial apaixonando o mundo e particularmente os suecos.
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Perenal, a paixão de mais de meio século dos suecos pelo futebol do Brasil está sendo renovada desde julho de 2019, quando a treinadora sueca Pia Sundhage passou a ser treinadora da seleção brasileira feminina de futebol. Renovando o brilhantismo dos nossos incríveis craques de 1958, agora, em menos de um ano, Pia tem o incrível retrospecto de seis vitórias, quatro empates e apenas uma derrota.
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Orgulhosos de sua filha vencedora, Pia acaba de ser nomeada Mulher Sueca do Ano. Se vencer o desafio de obter a inédita medalha de ouro na Olimpíada de Tóquio, não será surpresa se for eleita novamente a mulher do ano, dessa vez no Brasil.

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