O garoto franzino, 16 anos, dentuço, boca meio aberta, sentado no banco dos reservas, abriu um sorriso quando foi chamado. Grandalhão, levantou-se arrumando o calção e se dirigiu ao técnico à beira do gramado para ouvir as instruções do treinador.
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O ano era 1992, o uniforme do São Cristóvão de Futebol e Regatas, o treinador Jairzinho e o estádio era o da Colônia Santo Antônio, em Barra Mansa. O jogador era Ronaldo Fenômeno. Depois de brilhar no futsal, ele estreava como titular no futebol de campo, naquela partida amistosa contra o Barra Mansa FC.
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Barra Mansa se orgulha de estar nessa história da brilhante carreira do jogador, três vezes eleito o melhor do mundo. História escrita em belas jogadas e 831 gols marcados ao longo das suas passagens pelo Cruzeiro – seu primeiro contrato profissional, PSV Eindhoven, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, Milan e Corinthians.
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Consagrado mundialmente como notável craque, em 1997, na seleção brasileira, ele se sagrou campeão da Copa América e da Copa das Confederações. A consagração definitiva estava prevista para 1998, na Copa do Mundo na França, seu primeiro mundial.
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Entretanto, o momento mais dramático de Ronaldo aconteceu nessa Copa. No dia da decisão final contra a França, Ronaldo foi hospitalizado, abatido por uma misteriosa convulsão. Confusamente diagnosticada como estresse e até como ataque epilético, Ronaldo teve baixa apenas 75 minutos antes da partida começar.
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Diante dos acontecimentos, Zagallo optou por escalar Edmundo em seu lugar, mas foi vencido pela insistência de Ronaldo em jogar. Sua atuação foi desastrosa e a França derrotou o Brasil por 3 a 0. O assunto queimou lenha em gigantesca fogueira de opiniões e acendeu holofotes para políticos astutos que criaram uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
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Ronaldo – que um dia foi Ronaldinho, depois R9 e finalmente Ronaldo Fenômeno, embora milionário, ainda atuou mais alguns anos suportando injúrias, dores no joelho e intermináveis assédios da imprensa até descalçar definitiva as chuteiras.
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Hoje empresário, Ronaldo é o dono e presidente do Real Valladolid, Clube de Futebol espanhol que disputa a segunda divisão do país. Sábado passado fez o mesmo com o Cruzeiro. Depois que o conselho deliberativo aprovou a constituição jurídica, tornou-se dono e presidente do clube mineiro.
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O gesto é de carinho para um clube a quem, ele reconhece, tem muito a retribuir. Mas os 400 milhões de reais que ele vai investir, tornando-se sócio majoritário com 90% das ações do clube, servem como inspiração para muitos clubes de enorme potencial que, por incompetência, falta de zelo e conflitos políticos, estão caindo pelas tabelas.