RESENDE
Está sendo constituído um projeto para implantação de um Centro de Memória Negra em Resende. Um grupo de trabalho, liderado pelo ex-ministro e idealizador do Estatuto da Igualdade Racial, Eloi Ferreira, a ex-ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o ex-vereador e atual secretário de Turismo de Resende, Tiago Vieira (Tisga), se juntou a profissionais voluntários para construção desse projeto. Seria o primeiro Centro de Memória Negra do Sul Fluminense. O prazo para elaboração do projeto é de 120 dias.
A cidade está situada estrategicamente na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, e ficou conhecida pela produção do café, iniciada em 1774, e que até hoje está marcada nos prédios históricos do município, onde também, caracteriza-se pela escravatura praticada por alguns fazendeiros naquela época. A intenção, com o centro é que Resende dê o primeiro passo rumo à reparação e homenagem à memória daqueles escravizados.
O atual prefeito, Diogo Balieiro Diniz, inclusive, já publicou uma portaria (n984 de 25 de maio de 2023), designando o secretário como responsável do grupo. A primeira reunião aconteceu na última semana, no gabinete do prefeito, e teve como objetivo discutir as avaliações técnicas e definir um local para o centro, onde funcionará como um museu para atrair turistas, mas, também, contar a história das pessoas negras escravizadas, e que foram as verdadeiras contribuintes para o crescimento econômico na cidade e região, ainda que, tragicamente, de forma exploradora.
“Resende chegou a ter mais de 20 mil escravos no auge do café, e mostrar essa história, atualmente, através de um equipamento de tamanha relevância, colocará a cidade como um destaque para todo o Brasil e, inclusive, internacionalmente, onde a própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pode vir a reconhecer e contribuir com o equipamento. Não medirei esforços para trabalhar e buscar recursos para implantação do Centro de Memória Negra em Resende”, afirmou o ex-ministro de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira.
O centro, segundo a ex-ministra da Cultura, Ana de Hollanda, contribuirá para a repercussão da história não apenas de Resende, mas dos fatos verídicos do período antes da abolição. “Do ponto de vista antropológico, a cultura de um povo pode ser reconhecida por sua língua, por seus costumes, sua música e dança e por suas crenças transmitidas de pais para filhos. Mas os fatores históricos e as influências externas devem ser consideradas. O Vale do Paraíba, e Resende em especial, viveram no século XIX um período economicamente muito rico devido à produção de café. Mas a plantação do café era toda feita pela mão-de-obra de negros escravizados, o que fez com que a população africana ou afrodescendentes, com sua cultura, mesmo oprimida ou proibida, resistisse e influenciasse grandemente a cultura popular brasileira de hoje”, destacou, completando que o resgate dessa história é uma reparação que governo e instituições vêm procurando fazer para melhor explicar a nossa verdadeira cultura.
Segundo o secretário Tiago, o espaço será muito mais que um museu, com todos os equipamentos digitais e também arquivos da história do município. “Me senti honrado e orgulhoso por ser designado pelo prefeito para a criação e coordenação do grupo de trabalho, junto a profissionais incríveis que a cada dia cresce a minha admiração. Ver este equipamento criando forma e viabilidade para ser construído é gratificante. Será um marco para Resende, sendo importante para vários segmentos, inclusive, para o próprio turismo, pois, quem vier visitar o centro, vai se alimentar, hospedar, e conhecer outros locais da cidade. Com esse novo equipamento cultural, consequentemente, podemos melhorar a arrecadação no município, e fomentar uma política pública do AfroTurismo no Vale do Paraíba”, disse, completando que próximo passo será a implantação do centro, com recursos de Brasília.
Além dos ministros e do secretário, fazem parte do grupo profissionais da Prefeitura Municipal, das secretarias de Desenvolvimento Urbano, Obras, Assistência Social e Direitos Humanos, Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, Fundação Casa de Cultura Macedo Miranda (FCCMM), Arquivo Histórico, Comunicação, Ordem Pública, Educação, e outros departamentos, além de profissionais de entidades privadas e sociedade civil que foram convidados pelo secretário a participarem de forma voluntária.