Iniciei o ano de 2021 à frente da Seeduc-RJ com a missão de viabilizar a volta às aulas de 700 mil alunos no sistema híbrido, remoto e presencial, em meio a um dos piores momentos da pandemia de Covid-19. Com o apoio decisivo dos nossos educadores públicos, vencemos esta etapa praticamente sem evasão escolar. O tempo passou, deixei a gestão estadual em junho, e novamente vejo a educação brasileira diante de uma realidade desafiadora neste novo ano que se inicia.
Em linhas gerais, o maior obstáculo continua sendo tratar a educação como política de estado e não de governo. É preciso garantir que o planejamento de gestão sobreviva para além dos mandatos eletivos e que não sofra a pressão cruel do calendário eleitoral. Hoje, temos como exemplo um quadro preocupante de 244 mil jovens e crianças fora da escola em todo Brasil, por conta da descontinuidade nos estudos regulares durante a pandemia. Resgatar estes alunos pode não dar votos como a realização de grandes obras, mas é o que precisa ser prioritário no país, sob risco desta legião de excluídos, diante da grave crise social em que vivemos, não encontre o caminho de retorno às salas de aula.
Outra tarefa que se impõe à educação pública também é uma consequência direta da pandemia. Para dar conta do modelo híbrido de ensino, com aulas pela internet, a tecnologia e a conectividade finalmente chegaram à rede de escolas públicas estadual. No período em que estive na Seeduc-RJ, investimos em qualificação profissional, equipamentos, produção de conteúdos próprios, aplicativo exclusivo e navegação gratuita para alunos e professores através do link patrocinado. Agora, com a volta das aulas presenciais no segundo semestre, é necessário adaptar todas estas ferramentas disponíveis para novas rotinas que explorem o universo de possibilidades pedagógicas do ambiente virtual.
Aliar a tecnologia à educação ganha ainda mais importância se levarmos em conta que a partir de 2022, a conexão 5G chega ao país. A sociedade deve acompanhar de perto o cronograma de implantação, para que as escolas públicas sejam de fato uma prioridade, como previsto no edital de concessão. Mas ao mesmo tempo é necessário preparar e ambientar os educadores para novidades, como a realidade virtual e a inteligência artificial, que já são uma realidade em diversos países. Atrasar o ingresso na “Educação 5G” das escolas públicas aumentaria ainda mais o fosso da desigualdade no nosso país.
Recentemente me perguntaram qual conselho daria a um jovem estudante do ensino médio da escola pública. Respondi da seguinte maneira: seja qual for o tamanho do obstáculo, a melhor forma de superá-lo sempre será através da Educação. Se dedique aos estudos, mas também exerça o seu papel de cidadão, para cobrar condições adequadas de ensino para todos. Estar preparado para novos desafios é essencial.
Comte Bittencourt
Professor, ex-deputado estadual e
ex-secretário estadual de Educação