Um dos filmes mais esperados de 2023 estreou, mas será que dá medo mesmo? Vem ver o que achei, sem spoiler!
Por Yuri Melo
O novo filme de terror da produtora queridinha dos cinéfilos, A24, estreou cheio de promessas, mas será que ele atendeu as expectativas ou decepcionou?
Primeiro quero dizer que acho um erro entrar no cinema cheio de expectativa, às vezes é inevitável, mas o ideal é ir de mente aberta para aproveitar a jornada que o filme propõe e não ficar querendo que o filme se molde ao que você gostaria de ver. Tendo dito isso, vai a minha primeira questão com esse novo longa de terror, Fala Comigo é de um subgênero muito clichê do terror que é a possessão, além disso, acompanha um grupo de adolescentes fazendo besteira, o que também é um clichê, ou seja, teria tudo para ser só mais um filme lugar-comum, porém a direção nos conduz com maestria por uma obra que foge de maneira muito natural das conveniências desse gênero e cria regras próprias para se apreciar esse filme.
O normal em um filme desse estilo é a narrativa nos fazer gostar muito dos personagens para podermos sentir muito com os riscos que eles correm e com o medo de eles morrerem, mas a dupla de diretor e roteirista Danny e Michael Phillippou optam por nos fazer não simpatizar com a protagonista, pois ela tem questões complexas que não gostamos de lidar e se apresenta como alguém “problemática”, o núcleo mais próximo a ela tem sua relevância, mas não nos é dado informação suficiente para nos importamos e os coadjuvantes são apenas isso mesmo, rapidamente o filme exclui o perigo a eles para que não se perca tempo com isso, ou seja, Fala Comigo vai à contramão do tradicional do gênero e começa a se tornar muito interessante.
Mesmo sendo “chatinha” a trajetória da protagonista nunca se torna desinteressante, as questões que a rodeiam e a construção do perigo que ela está passando nos prende e faz com que a gente queira saber onde isso vai dar.
Foto: Divulgação
Beleza, falei falei, mas e aí, como filme e principalmente como terror, é um bom filme? Sim, eu achei um excelente filme, os irmãos Phillippou dirigiram com uma sensibilidade e perspicácia de diretores experientes, mesmo sendo o primeiro longa deles, a criação da ambientação de medo, a crescente da problemática, a mitologia criada para o filme, tudo isso é de uma maestria gigante. No filme os adolescentes seguram uma mão “embalsamada” e falam Fala Comigo e a partir dai podem falar com um espírito que se apresente, essa premissa nos remete a todas as brincadeiras sobrenaturais que fazíamos na adolescência como copo, compasso, hinja e essas coisas, ou seja, cria uma identificação com os personagens e o que eles estão fazendo, mas a mão é bem mais macabra que as nossas brincadeiras! Além disso, as “burrices” que os personagens fazem é muito justificada e plausível com a fase da vida deles, adolescência, onde a gente realmente faz M, então isso não nos incomoda e nos faz embarcar na trama com eles. O perigo e o terror são crescentes e realmente dão medo, com direito a cenas perturbadoras como é marca registrada da A24, destaque para a cena do pé (quando vocês verem vão lembrar).
Então agora que já falei que é um bom filme de terror, vou falar sobre os textos nas sublinhas do filme, o primeiro é a similaridade com o uso de drogas, o uso da mão começa muito legal, divertido, viciante, uma personagem chega a descrever a sensação com algo incrível e surreal, mas assim como nas drogas começa a se usar demais, se viciar e as coisas vão saindo de controle e vidas começam a ser destruídas, então existe aí uma reflexão muito interessante, mas, além disso, eu vi uma questão muito forte com o ser ouvido, ser aceito, literalmente no filme você tem que pegar a mão de alguém e falar Fala Comigo, isso mostra a nossa necessidade de ser ouvido e o quão devastador pode ser quando ninguém no ouve, o quão longe nos vamos para ser aceitos e principalmente nos tempos que vivemos, o quanto suportamos toda a exposição do nosso mundo onde falamos e falamos, mas de fato ninguém escuta. Essa reflexão para mim foi muito forte, porque a dupla de diretores soube nos colocar na pela desses adolescentes que estão em uma fase da vida onde tudo é muito extremo.
Sobre as atuações, total destaque para a Sophie Wilde que faz a Mia, ela soube trabalhar muito bem as emoções e alternar nos momentos que foi preciso, sem dúvida uma atriz para gente ficar de olho! O restante do elenco também está muito bem, ainda bem sendo um elenco tão novo, todos entregaram boas atuações, mas como disse não tem muito espaço para eles, então o destaque fica para Sophie! Curiosidade, a mãe da amiga da Mia é a atriz que fez Sr dos Anéis e se apaixona pelo Aragor.
Foto: Divulgação
As partes técnicas como de costume na A24 estão excelentes, a maquiagem é incrível e dá muito medo, a ambientação dos sons nos emerge no filme, mas o destaque fica para fotografia que dá um show, os quadros mais longos quando é preciso e mais agitados quando os personagens estão “curtindo” as possessões, as visões em reflexos, a rima visual do canguru no começo com o final do filme, que além de ser uma rima visual traz uma reflexão muito grande sobre as nossas atitudes com os outros e também o fato da protagonista estar sempre de amarelo que é a cor da vergonha, tudo no filme parece muito bem pensado.
Enfim Fala Comigo é um filme que dá muito medo por ter uma mitologia crível e assotadora conduzida por diretores jovens e com muito talento, sem dúvida estamos vendo o nascimento de uma franquia. Se você gosta de terror e de um filme que te faz refletir, pode ter certeza que vai curtir Fala Comigo!
Valeu Muito o valor do ingresso!
