O mês de maio ganhou uma cor. Não é a do romantismo dos casamentos, nem das flores da primavera lá do hemisfério de cima. Aqui, maio se pinta de laranja. E não é por festa, é por urgência. O Maio Laranja é o mês dedicado ao combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Um tema que, convenhamos, muita gente ainda prefere fingir que não existe.
Mas existe. Existe nas esquinas, nas redes, nas próprias casas. Existe onde o olhar desvia, onde o vizinho não quer se meter, onde o silêncio vira cúmplice.
A campanha surge como um grito coletivo: “Protejam nossas crianças!” E esse grito é necessário porque, segundo dados do Disque 100, no Brasil uma denúncia de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre a cada 10 minutos. Isso, claro, sem contar os casos que nunca chegam às estatísticas — os que moram no silêncio.
É desconfortável falar sobre isso? Sim, e deveria ser. Porque desconforto gera movimento. E movimento, nesse caso, salva vidas, protege infâncias, impede que cicatrizes invisíveis acompanhem esses pequenos pelo resto da vida.
O símbolo da campanha é uma flor. Parece leve, parece simples. Mas carrega um recado poderoso: toda criança tem o direito de florescer. De crescer em segurança, em amor, em dignidade.
Falar sobre abuso é também falar sobre educação, sobre prevenção, sobre escuta ativa. É ensinar, desde cedo, que corpo tem dono, que segredo que dói não é segredo, que quem ama cuida — e não machuca.
Por isso, neste Maio Laranja, fica o convite — ou melhor, a convocação: observe, escute, pergunte, denuncie. Porque quando se trata de proteger uma criança, não existe meio termo. O silêncio, aqui, não é neutro.
E que, quem sabe, um dia, a gente possa colorir maio só de flores — e não de luto, dor e urgência.
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.