BARRA MANSA
O mês de setembro marca a campanha mundial de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, conhecida como Setembro Amarelo. Mais do que reforçar a necessidade de diálogo aberto sobre saúde mental, o período também levanta debates sobre a importância do autocuidado e das redes de apoio como ferramentas de prevenção ao adoecimento psíquico.
Para aprofundar esse tema, Tainá Mani Almeida – psicóloga formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar pela Universidade de Brasília (UnB), gestalt-terapeuta pelo Instituto Dialógico do Rio de Janeiro e docente da Nova UBM desde 2022 –faz alguns apontamentos.
Segundo a especialista, estratégias de autocuidado vão muito além das práticas mais conhecidas, como exercícios físicos e meditação. “Na contemporaneidade situações com altos níveis estressores tem se tornado cada vez mais comum em nossa vida, dessa forma pensar em estratégias de autocuidado e preservação da saúde mental é fundamental. Essas estratégias precisam estar vinculadas a promoção de tempo de qualidade, a partir do contato interpessoal e de laços afetivos. Encontrar atividades que preconizem o bem-estar, como um hobby, que pode estar localizado em atividades mais convencionais, como o hábito da leitura, assistir a um filme, ouvir músicas, frequentar espaços de troca e socialização, ou até mesmo as mais criativas, relacionadas a produções artísticas e aulas de trabalho manual”, frisa.
Ela ressalta, no entanto, que esse processo deve ser entendido de forma coletiva: o bem-estar individual só se sustenta em uma sociedade que garanta respeito, segurança e estabilidade.
Autocuidado como prevenção
Outro ponto destacado por Tainá Mani Almeida é o papel do autocuidado na prevenção do adoecimento mental. Para ela, esse processo passa pela criação de espaços que estimulem vínculos e relações mais humanizadas.
“Trabalhar a prevenção significa trabalhar as ferramentas e os recursos anteriores ao adoecimento, é nesse momento que se deve trabalhar, exemplificar e indicar quais são os serviços, as possibilidades e o que pode ajudar o indivíduo a identificar os primeiros sinais do adoecimento psíquico, mas também os sinais de estafa, adoecimento físico e a necessidade de buscar ajuda. É na construção de espaços de conivência humanizados que os sujeitos podem se perceber, se cuidar e construir relações nas quais seja possível perceber e cuidar de seus pares também”, afirma.
Na visão da psicóloga da Nova UBM, escolas e empresas desempenham um papel fundamental nesse processo, promovendo uma cultura contínua de cuidado, e não apenas reativa diante de crises.
Autocuidado digital
Em um cenário em que as redes sociais ampliam a cultura da comparação, o cuidado com a saúde mental no ambiente digital também se torna urgente. “Entendendo que o contato do indivíduo com o mundo é constante e que cada experiência, inclusive no ambiente digital, pode ser fonte de crescimento ou de sofrimento, a depender da forma como é vivida. Diante do uso das redes sociais e da cultura da comparação, é importante orientar os sujeitos a se perceberem no aqui-agora: como se sentem ao navegar, o que pensam, quais sensações surgem em seus corpos e quais necessidades emergem nesse contato”.
Ela explica que, a partir dessa consciência, é possível estabelecer limites claros, como restringir horários de uso, silenciar conteúdos que causem sofrimento e, quando necessário, optar por pausas de desconexão.
Redes de apoio e pertencimento
Embora o autocuidado seja muitas vezes tratado como um ato individual, Tainá reforça que ele só se sustenta em redes coletivas de apoio. “É preciso compreender que mesmo o autocuidado sendo uma ferramenta pessoal, ele se origina em uma prática de cuidado e atenção coletiva, em relações que preconizem o bem estar, praticas humanizadas e respeitosas. Sendo assim a formação de redes de apoio e cuidado são fundamentais para um autocuidado real, uma vez que são essas redes que podem facilitar um deslocamento, uma conexão, uma divisão de tarefas, possibilitando assim trocas autênticas, acolhimento e sustentação mútua, favorecendo a saúde emocional e a construção de sentidos de pertencimento e de suporte na vida”.
Autocuidado como necessidade, não luxo
Por fim, a especialista lembra que é preciso desconstruir a ideia de que o autocuidado é algo supérfluo. “O autocuidado não deve ser compreendido como um luxo nem egoísmo, mas sim como um movimento essencial de contato consigo mesmo. Cuidar de si é reconhecer suas necessidades, limites e possibilidades no aqui-agora, criando base para estar inteiro nas relações e no mundo que nos cerca”.
Ela acrescenta que enxergar o autocuidado como uma necessidade fundamental passa por ressignificar sua prática. “Incentivar as pessoas a enxergar o autocuidado como necessidade passa por ressignificar o terno e prática: não como algo supérfluo, mas como um gesto de responsabilidade com a própria vida, com a qualidade do tempo que atribuímos a nós e aos que vivem conosco e também, com a qualidade dos vínculos que estabelecemos”.
Assim, no contexto do Setembro Amarelo, a mensagem da psicóloga da Nova UBM é clara: cuidar de si mesmo e dos outros é um movimento de vida, que fortalece vínculos, promove resiliência e contribui para uma sociedade mais saudável e acolhedora.