SUL FLUMINENSE
Depois de um ano de pandemia e diversas medidas para impedir a propagação da Covid-19, o colapso na área da saúde segue assustador. Pessoas espalhadas pelo país morrendo sem leitos de Unidade de Tratamento Intensivo e o mais novo recado do vírus é que a idade não mais importa. Antes eram os idosos os que mais se afetavam, hoje familiares perdem pessoas com menos de 40 anos e sem comorbidades. Porque os jovens estão ficando cada vez mais vulneráveis ao vírus? O que precisa ser feito? O A VOZ DA CIDADE conversou com profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente, para mostrar o agravamento da situação no Brasil e também no Sul Fluminense.
Nesta semana, o Brasil registrou pela primeira vez mais de quatro mil mortes por Covid-19 em um só dia. O número é desesperador, são mais de 13 milhões de pessoas contaminadas e 340 mil mortes no país. No Sul Fluminense, são mais de 100 mil infectados e quase três mil vidas perdidas e sonhos ceifados.
O médico pneumologista de Barra Mansa, Gilmar Zonzin, relatou ao jornal a gravidade da situação nos hospitais da região. “A doença dominou completamente o ambiente hospitalar aqui no Sul Fluminense. Pacientes com idade entre 35 e 65 anos, tem sido o grosso dos casos graves com a doença em alto impacto e com a letalidade elevadíssima. Ela tem se apresentado com características impactantes e inflamatórias atribuídas as novas variantes. Especialmente a que foi evidenciada em Manaus, com uma velocidade rápida de progressão. Tem acontecido também a clássica colocação de que no Brasil, a cada cinco pacientes que tem ido para ventilação mecânica e apenas um em média tem sobrevivido”, disse o médico, reforçando que quando as pessoas ainda menosprezam a doença não sabem como está dentro dos hospitais e como famílias estão sendo destroçadas com o que tem acontecido.
LEITOS X DEMANDA
De acordo com o médico, um dos grandes problemas seria que o grupo dessa faixa etária não está perto de se imunizar contra a doença, ficando vulnerável diante da situação por circularem demais e serem um pouco menos receosas em relação à Covid-19. Outra questão é em relação ao desequilíbrio entre a disponibilidade de leitos e a demanda. “Você observa os hospitais sendo obrigados a cancelar cirurgias eletivas, converter enfermarias, centros cirúrgicos e CTI geral em unidades de terapia intensiva dedicadas a Covid-19 para conseguir atender a alta demanda. Mas as outras doenças continuam acontecendo. Enquanto a vacina anda em passos tão lentos e a doença em passos tão rápidos e os suportes que temos de saúde se esgotando, as medidas de contenção de isolamento precisam ser endurecidas tentando evitar que as catástrofes sejam ainda maiores”, disse Zonzin.
Sobre os idosos, o médico disse que nesse momento o grupo está se mostrando estatisticamente um pouco menos presente com casos graves de Covid-19 e possivelmente fatais, até também pelo fato de estarem sendo vacinados.
HOSPITAIS CHEIOS E EQUIPES ESGOTADAS
O A VOZ DA CIDADE conversou também com uma enfermeira que está atuando na linha de frente contra Covid-19 em um hospital de Volta Redonda e preferiu não se identificar. Segundo ela, antes de março a quantidade de pacientes jovens internados era bem menor. “Hospitais cheios, equipes sobrecarregadas e com o emocional abalado. Mesmo sendo nosso serviço às vezes choramos quando perdemos um paciente, pois sabemos que aquela pessoa é o amor de alguém, e poderia ser alguém próximo da gente naquelas condições. Pacientes de 30 e poucos anos que rapidamente pioram seu quadro clínico e não reagem como se espera após a intubação, consequentemente evoluindo ao óbito”, lamentou.
A enfermeira relata a sua realidade e dos profissionais de saúde da região durante um colapso na saúde. “Quando um paciente falece ou recebe alta, já tem outro na fila pra ocupar aquele leito, então a equipe de higienização limpa o leito e os técnicos de enfermagem o organizam da melhor forma para realizar a admissão do próximo paciente. Os casos aumentaram muito do meio de março pra cá, antes tínhamos poucos leitos ocupados e agora estamos praticamente com lotação máxima. Quando comecei a trabalhar existiam apenas quatro Centros de Tratamento Intensivos (CTI) e agora o hospital está com 11 CTIs abertos e lotados”, contou a profissional se referindo ao Hospital Regional.
“É SURREAL PERDER ALGUÉM TÃO NOVO PARA ESSA DOENÇA”
O morador de Barra Mansa, Gustavo Nogueira de 26 anos, perdeu recentemente para Covid-19 dois primos jovens, sem nenhuma comorbidades. “Um dos meus primos tinha 39 e o outro 42 anos, ambos eram pessoas ativas e saudáveis. É surreal perder alguém tão novo para essa doença. Um veio a falecer na terça-feira e o outro na quarta-feira. Depois que você passa por essa situação, muda tudo. Saber que tem algum parente seu nas estatísticas, é uma sensação de impotência. Queria deixar claro para as pessoas que elas precisam se cuidar, ficar em casa se possível, e que tenham empatia. Hoje você está bem e amanhã talvez não esteja mais aqui”, lamentou.