SUL FLUMINENSE
A crise econômica provocada pela Covid-19 intensificou o quadro do desemprego e queda na renda da família brasileira. Em diversos lares, os idosos, boa parte deles aposentados, representam a base da renda ou auxiliam diretamente no orçamento.
A participação de idosos na renda familiar foi tema de pesquisa recente em âmbito nacional realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas. O levantamento indica que 91% dos brasileiros com mais de 60 anos contribuem financeiramente para o sustento da casa, sendo que 52% são os principais responsáveis. Entre os que continuam trabalhando e já estão aposentados, 71% dos idosos mencionaram a complementação da renda como principal motivo, 56% querem se sentir produtivos e 50% buscam manter a mente ocupada.
Em Resende, o aposentado José da Silva, 73, mantém serviço de frete de cargas complementando a aposentadoria. “É uma atividade que gosto e faço nos horários apropriados. O frete ajuda no salário da aposentadoria, rende em torno de R$ 700 e me faz sentir ativo, atuante. Durante a pandemia tudo subiu de preço, alguns filhos perderam seus empregos, outros tiveram redução de salário. Pra mim, o ideal é seguir trabalhando e mantendo a renda familiar da forma que puder”, comenta.
Segundo o presidente da CNDL, José César da Costa, não é só a crise econômica que explica a participação direta de idosos na renda familiar, mas também a mudança demográfica e comportamental dessa população. “Há muitos casos em que a renda do aposentado é a única maneira para sustentar o lar de uma família que perdeu emprego, principalmente nesse momento de crise e de aumento do desemprego, mas o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o avanço da medicina e suas atitudes nesta fase da vida também são fatores importantes. Hoje, os idosos são mais ativos, têm mais autonomia financeira e trabalham por mais tempo, seja por necessidade ou porque se sentem dispostos e mais felizes desenvolvendo alguma atividade produtiva”, explica.
O também aposentado Roberto dos Santos, 74, trabalha na área da construção civil colaborando com a renda familiar. “A aposentadoria rende em torno de R$ 1.600 e com o serviço nas obras consigo em torno de R$ 2 mil, quando o mês rende. Escolhi há alguns anos seguir adiante pra me manter em atividade e também por saber que a experiência conta neste ramo. Acho que somos mais exigentes, comprometidos e pontuais que os jovens, por exemplo”, comenta.
Num comparativo com o ano de 2018, cresceu em 10 pontos percentuais o total de idosos que exercem alguma atividade profissional totalizando atualmente 46%. A pesquisa revela ainda que, em média, estes idosos pretendem trabalhar até os 74 anos. No entanto, 46% não sabem até que idade pretendem trabalhar, uma queda de 15 pontos percentuais em comparação com 2018. “Tenho minha aposentadoria e gosto de trabalhar com artesanato e tortas. Isso ajuda a complementar a renda, sou uma profissional microempreendedora mesmo aposentada. Minha atividade contribui para as contas da casa, ajudando filhos e netos”, comenta a doceira Ana Maria Costa, 69.
PRECONCEITO COM A IDADE
O levantamento da CNDL/SPC Brasil/Offer Wise Pesquisas indica que a maioria dos idosos relata dificuldade para voltar ao mercado de trabalho. Ao menos 35% dos que exercem atividade profissional atuam como autônomos ou profissionais liberais, enquanto 19% trabalham de maneira informal (sobretudo nas classes C, D e E) e 15% são servidores públicos.
Apesar de estarem cada vez mais inseridos no mercado de trabalho, 40% dos idosos que exercem atividade profissional relataram dificuldade para conseguir uma oportunidade de trabalho, sendo o preconceito com a idade o principal motivo identificado (24%). “O aumento da expectativa de vida faz com que essa parcela da população permaneça por mais tempo no mercado de trabalho e muitas vezes volte a exercer alguma atividade profissional mesmo após a aposentadoria. A discriminação, com certeza, é uma das maiores barreiras a serem trabalhadas e descontruídas, e cabe às próprias empresas, instituições, setores privados e públicos, encontrarem uma melhor forma que valorize o profissional com mais de 60 anos”, afirma o presidente da CNDL.
De acordo com o levantamento, 42% dos idosos estão procurando trabalho, sendo que 16% desejam uma oportunidade como autônomo/freelancer e 13% encaram qualquer oportunidade, independentemente do formato.
A situação de desemprego, falta de oportunidades e insegurança na economia também afeta diretamente os idosos, uma vez que 88% dos que estão em busca de emprego afirmaram que não têm sido chamados para entrevistas, e 53% não acreditam que conseguirão uma oportunidade de emprego nos próximos três meses.
DESEMPREGADO EM CASA
De acordo com a pesquisa, metade dos entrevistados relatou que tem pelo menos um desempregado em sua casa. E a maioria (63%) afirmou que conhece alguém que perdeu o emprego ou fechou o negócio na pandemia.
O levantamento reforça ainda a independência financeira de boa parte dos idosos, já que 61% relataram que não recebem nenhum tipo de ajuda financeira. Por outro lado, 35% recebem ajuda de dinheiro ou possui renda complementar. “A pandemia fez o país alcançar a triste marca de 14 milhões de desempregados. O aumento do desemprego explica a dificuldade dos idosos em conseguir emprego, até pela necessidade de maior isolamento desse público. Mas, uma vez controlada a propagação do vírus, a tendência é que o retorno dessa população ao mercado volte a crescer”, destaca José César da Costa.