NOVA IORQUE/SANAÃ
Quase oito anos desde o agravamento do conflito no Iêmen, mais de 11 mil crianças foram mortas ou feridas no país. Somente entre julho e setembro deste ano, pelo menos 74 menores apareceram na lista de mortos ou feridos por minas terrestres. No total, 164 foram vítimas desse tipo de explosivo.
As Nações Unidas informam que o número pode ser ainda maior, uma vez que as milhares de crianças mortas ou feridas pertencem a um grupo de incidentes que foram verificados pela ONU.
Insegurança alimentar e desnutrição aguda
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, pediu uma nova trégua dos combates no país. Segundo a diretora-executiva da agência, Catherine Russell, durante outubro e novembro, o tempo da pausa negociada pela ONU, 62 crianças perderam a vida ou ficaram feridas em função dos combates.
A guerra no Iêmen também causou uma das piores crises humanitárias do mundo. Em quase oito anos de confrontos, mais de 23,4 milhões de pessoas, incluindo 12,9 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária e proteção. O número representa quase 75% de toda a população do Iêmen.
Uma outra consequência da guerra é a insegurança alimentar. Quase 2,2 milhões de menores sofrem de desnutrição aguda. E 540 mil crianças abaixo de cinco anos já têm o problema e estão lutando para sobreviver.
Doenças preveníveis afetam milhões de crianças
Catherine Russell lembra a visita que fez ao hospital em Aden, onde ela conheceu um bebê de sete meses e a mãe dele, Saba, sofrendo de desnutrição. Ela contou que milhares de crianças perderam a vida e centenas de milhares correm risco de morte por causa da fome ou de doenças evitáveis.
Uma outra consequência da guerra no Iêmen é a destruição da infraestrutura do país árabe. Mais de 17,8 milhões de pessoas, dentre elas 9,2 milhões de menores, não têm acesso à água potável, saneamento e serviços de higiene.
Apenas metade do sistema de saúde funciona, e quase 22 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados e tratamento.
As campanhas de vacinação estão estagnadas em todo o país com 28% das crianças menores de um ano perdendo o calendário de imunização. A falta de água potável coloca as crianças sob risco de cólera e outras infecções e doenças como sarampo, difteria e outros surtos.
A chefe do Unicef alertou sobre a crise na educação dos menores iemenitas. São 2 milhões de alunos fora da escola, um número que pode saltar para 6 milhões de crianças sem ir ao colégio porque pelo menos uma em cada quatro escolas no país foi destruída ou danificada.
Menino alvejado por franco atirador teve perna amputada
Catherine Russell afirmou que se as crianças do Iêmen esperam ter qualquer chance de futuro na nação árabe, as partes em conflito, a comunidade internacional e agentes com influência sobre a guerra devem proteger e apoiar esses menores.
Durante a visita ao Iêmen, ela conheceu um centro de reabilitação e prótese e um menino, Mansur, que teve a perna amputada na altura do joelho após ser alvejado por um franco atirador. Russell disse que nenhuma criança deveria passar por isso e que somente uma trégua poderá iniciar o caminho da paz para as famílias e o povo do Iêmen.
O Unicef está pedindo US$ 484,4 milhões para responder a crise humanitária em 2023. Este ano, a agência da ONU conseguiu apoiar programas de combate à desnutrição de 260 mil crianças em mais de 4,5 mil instalações de saúde.
Além disso, cerca de 1,5 milhão de lares receberam apoio financeiro a cada trimestre beneficiando 9 milhões de iemenitas dentre as ações de socorro às vítimas da guerra no país.