BARRA MANSA
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou alta de preços de 1,01% em fevereiro deste ano. A taxa é superior às observadas em janeiro deste ano (0,54%) e em fevereiro do ano passado (0,86%). Essa é a maior taxa para um mês de fevereiro desde 2015 (1,25%). Dados foram divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com o resultado, o IPCA acumula taxa de inflação de 1,56% nos dois primeiros meses do ano. Em 12 meses, o IPCA acumulado chega a 10,54%.
Em fevereiro, os principais responsáveis pela alta de preços foram educação (5,61%) e alimentação e bebidas (1,28%).
Mas um item em específico vem chamando atenção: a cenoura. O preço do legume está chamando a atenção dos consumidores e virou até meme na internet depois que o quilo do alimento passou a ser encontrado entre R$ 10 a R$ 14, nos primeiros meses do ano. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de fevereiro, o valor aumentou 50% sobre o mês anterior. Foi a maior alta no grupo de alimentos, seguida pela da batata inglesa (20%).
De acordo com o gerente de um supermercado, Marcelo Silva, a inflação da cenoura é consequência, principalmente, das chuvas intensas que afetaram as principais plantações do país. “A cenoura teve essa elevação devido àquela questão das chuvas fortes da região de Minas Gerais e Bahia, no inicio do ano, o que prejudicou bastante a colheita. Ainda não se conseguiu declinar esse preço porque houve uma quebra na safra e provocou perda nas colheitas das cenouras”, afirma Marcelo.
A dona de casa Mônica Priscila, relembra que desde o inicio da pandemia a gente teve que obrigatoriamente aprender a driblar o preço alto dos produtos. “Todo ano eu aguardava ansiosa o início do outro ano achando que as coisas melhorariam. Mas não tem sido essa a realidade, já me falta criatividade e tenho procurado receitas na internet para sair da mesmice diária. Tudo está muito caro e tenho usado, por exemplo, cada vez menos legumes e até verduras, já achei cenoura a R$ 12 e alface a R$ 4, bolo eu passei a comprar industrializado porque sai muito mais barato. A rotina da casa tem ficado cada vez menos saudável pois opto pelo industrializado para economizar, seja no almoço no lanche do café da manhã e da tarde e até mesmo na merenda da minha filha. Hoje basicamente é isso: o mais barato tem sido a opção e o mais saudável tem ficado de escanteio e somente quando vejo vantagem em comprar o produto eu compro”, destaca.
OUTRAS ALTAS
No caso da educação, o que pesou foi o fato que os reajustes praticados no início do ano letivo, nos cursos regulares, são incorporados ao IPCA em fevereiro. Os reajustes médios foram de 8,06% para o ensino fundamental, de 7,67% para pré-escola, de 7,53% para o ensino médio, de 5,82% para ensino superior e de 2,79% para pós-graduação. Os demais grupos de despesas apresentaram as seguintes taxas de inflação: habitação (0,54%), artigos de residência (1,76%), vestuário (0,88%), saúde e cuidados pessoais (0,47%), despesas pessoais (0,64%) e comunicação (0,29%).
Efeito guerra
Do pão em São Paulo, ao supermercado nas grandes capitais europeias, passando pelo interior da África, a guerra na Ucrânia ameaça elevar os preços de alimentos pelo mundo. Dados divulgados pela FAO, a agência de alimentos da ONU, revelam que o confronto militar entre duas potências agrícolas – Rússia e Ucrânia – deve levar ao aumento de mais de 20% em média nos preços de alimentos no mundo.
Segundo a FAO, mesmo antes da guerra eclodir, o mês de fevereiro já registrou a maior alta nos preços de commodities agrícolas. Mas, com o conflito, a previsão é de que a tendência seja de um aumento ainda maior a partir de março e abril, com até 30% das terras aráveis ucranianas não podendo ser utilizadas. De acordo com a agência, apenas parte do abastecimento global conseguirá ser substituído por produtos de outras regiões do mundo. O restante, porém, viveria de fato uma escassez. A previsão é de que as sanções sobre a Rússia e a destruição na Ucrânia afetarão a produção e exportação de cereais, milho e outros bens durante o ano de 2022. Hoje, a Rússia é o maior exportador de trigo do mundo, enquanto a Ucrânia ocupa a 5ª posição. Juntos, eles são responsáveis por um quinto do abastecimento global do produto, além de 5% do milho. No total, ucranianos e russos correspondem a 30% do comércio mundial de cereais.