SUL FLUMINENSE
Estar com as contas em atraso é um problema que afeta não apenas a vida financeira, mas também a saúde física e mental dos endividados, segundo indica a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) com brasileiros com contas em atraso há pelo menos três meses. O resultado divulgado nesta segunda-feira, 16, indica que oito em cada dez inadimplentes (82,2%) afirmaram ter sofrido com algum tipo de sentimento negativo ao descobrir que estavam endividados.
A ansiedade foi o sentimento mais indicado, apontada por 63,5% dos ouvidos, seguida de estresse e irritação (58,3%), tristeza e desânimo (56,2%), angústia (55,3%) e vergonha (54,2%). Entre as mulheres, a angústia e a vergonha por dever foi a resposta mais frequente (57,6%) se comparado com os homens (49,4%). “O levantamento é importante porque evidencia algo de que já desconfiávamos, que as frustrações e incertezas provocadas pela inadimplência não se restringem ao campo financeiro, tendo impacto significativo também na saúde física e emocional dos endividados”, explica Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
No Sul Fluminense é comum encontrar pessoas que convivem com sentimentos semelhantes, em virtude das contas em atraso. “Eu fico triste e com vergonha, sem dúvida, até porque isso ocorre pelo valor elevado de tudo que precisamos comprar e pelos imprevistos. Um problema de saúde em 2018 como minha filha alterou todo o padrão de vida da minha família. Eu e meu marido temos nomes restritos”, comenta a comerciária Viviane Dias, de Resende. A pesquisa mostra ainda que 75% tiveram o padrão de vida afetado pelas dívidas e 30,8% temem não conseguir quitar as dívidas.
A situação de inadimplência é capaz até de tirar o sono dos endividados, literalmente: 42,8% relataram terem sofrido com insônia ou excesso de vontade de dormir e 32,3% apresentaram modificações no apetite, sentindo mais ou menos fome do que de costume. Além disso, quatro em cada dez endividados (40,8%) procuraram se dedicar a atividades que os ajudassem a não pensar nos problemas advindos das contas em aberto, 28,2% aliviaram suas ansiedades em algum vício (como cigarro, bebida ou comida) e 24,7% acabaram comprando mais do que de costume – ou até perdendo o controle do consumo.
Segundo Kawauti, nem todos os consumidores conseguem lidar com a inadimplência de forma racional. “Muitas vezes, a pessoa fica tão frustrada ao descobrir que está endividada que busca evitar lidar com a situação alimentando comportamentos negativos, como descontar em vícios ou até em compras excessivas. Esse tipo de atitude pode aumentar ainda mais as dívidas, gerando uma espécie de círculo vicioso e deixando o inadimplente em uma situação pior do que estava antes”, explica a economista.
QUEDA DE PRODUTIVIDADE
Além de afetar a saúde física e mental, as dívidas também podem ter impacto na dimensão profissional e social dos inadimplentes. Três em cada dez entrevistados ficaram mais desatentos ou menos produtivos no trabalho e/ou nos estudos após descobrir que estavam endividados. Para completar, 17,2% dos trabalhadores inadimplentes relataram ter ficado mais impacientes com os colegas, enquanto 16,7% andaram mais irritados, chegando a cometer agressões verbais contra familiares e amigos e 7,6% ficaram tão nervosos que chegaram a partir para a agressão física. “Caso a pessoa não identifique ou busque controlar esse tipo de comportamento no ambiente de trabalho, ela pode correr o risco de perder o emprego, ficar sem fonte de renda e, consequentemente, se afundar ainda mais nas dívidas. Por isso, é de extrema importância que a pessoa tenha maturidade para encarar o problema de frente, por mais desconfortável que seja”, alerta Marcela