BARRA MANSA
Uma família de Barra Mansa procurou o jornal A VOZ DA CIDADE para denunciar uma grave agressão contra um homem, de 37 anos, ocorrida no início do mês de março durante atendimento ambulatorial na Santa Casa. Eles relatam que chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para encaminhar o paciente, que faz acompanhamento neurológico e faz uso de medicamentos, até o hospital, mas que já na unidade, o rapaz foi agredido por um motorista do Samu com uma barra de ferro, tendo necessidade de intervenção cirúrgica devido a gravidade dos golpes. Todos os envolvidos explicaram que as medidas necessárias estão sendo tomadas e o caso está sendo investigado na 90ª Delegacia de Policia (DP).
A mãe da vítima, que prefere não se identificar, explicou que no dia 3 de março o rapaz teria ingerido bebida alcoólica, com permissão médica, mas por ele não ter costume, acharam melhor naquele dia o encaminhar pela primeira vez ao hospital para tomar a medicação. Ela conta que o rapaz tem uma vida normal, faz duas faculdades e não é agressivo, e somente há poucos anos passou a fazer acompanhamento neurológico.
“Ele não se negou em nenhum momento ir até ao hospital e nem a tomar a medicação. Fizemos só por precaução mesmo. Chamamos o Samu e eles chamaram o Corpo de Bombeiros para acompanhar meu filho até o hospital e até o caminho da unidade, até a entrada dele na ambulância, que ele não se opôs, foi tudo normal”, relatou a mãe, dizendo que no veículo foi o filho e um bombeiro na parte de trás e na frente o motorista e outro funcionário do Samu.
Ela conta que seguiu de carro e no hospital, ainda tudo normal, ela e o filho foram levados para uma sala com pouca iluminação. “Achei estranho, não havia movimento algum, e me chamaram para fazer a ficha do meu filho. Eu fui, e minutos depois passei a ouvir muitos gritos. Questionei o que era e tentei voltar, mas a porta estava trancada no acesso para ir ao quarto”, disse. “Fiquei muito nervosa e depois vi de longe a correria e um homem, em uma maca, com muito sangue. Não me lembro quanto tempo durou a minha angústia, mas acho que somente umas duas horas depois vim saber que aquele homem ferido era o meu filho. Eu não reconheci meu filho de tanto sangue”, relatou, citando que as câmeras de segurança do hospital registraram toda a agressão.
Ela conta que depois, umas seis pessoas a chamaram em uma sala, entre elas dois médicos, dizendo o que houve. Segundo ela, quando pode falar com o filho, ele contou que saiu do quarto para procurar a mãe pelo mesmo caminho que entrou, sendo agredido, não sabe porque, pelo motorista. Já o acusado teria relatado que o paciente teria pego uma pedra para atacar a ambulância.
Segundo a mãe, quando ela esteve na delegacia descobriu que foi aberto um boletim de ocorrência contra o filho dela por degradação ao patrimônio público. “Ele ficou internado e nos quase três dias que passou no hospital, ficou sob escolta policial, e eu tive que pagar uma fiança para ele ser solto. Ou seja, ele acabou preso, mesmo que não na sede da delegacia”, explicou a moradora.
Ela conta que a família fez um novo registro na 90ª Delegacia de Polícia de tentativa de homicídio e que aguarda justiça quanto ao caso. “Nunca pensei que isso fosse possível. Meu filho em nenhum momento foi agressivo ou atentou contra alguém. Não sei como um serviço público que trabalha para salvar pessoas e agir dentro de qualquer tipo de situação age dessa forma. Creio que sejam qualificados para o serviço, mas dentro do que aprendem, nunca imaginei que tirar a vida de uma pessoa é o propósito, é ao contrário, eles salvam vidas, não tiram”, reconheceu a mãe, finalizando: “Eu até agora não acredito no que vivemos. Eu ainda estou com medo do que possa acontecer. Isso não pode ficar assim”, concluiu.
A 90ª Delegacia de Polícia, procurada pelo A VOZ DA CIDADE, não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
POSICIONAMENTO DA SANTA CASA
Já a Santa Casa, procurada, confirmou que o rapaz foi encaminhado pelo Samu para serviço ambulatorial conforme relatado pela mãe. “No entanto o fato ocorrido foi praticado por um colaborador do Samu, não tendo a Santa Casa ligação com a agressão relatada. Todas as medidas para conter a violência foram tomadas imediatamente pela nossa equipe e o paciente foi encaminhado para os devidos cuidados”, disse em nota.
A unidade esclareceu ainda que se trata de um caso isolado e que a instituição já tomou todas as providências necessárias para coibir qualquer tipo de ato desta natureza no hospital. Explicou que devido ao exercício legal de suas funções, os colaboradores do Samu têm acesso às dependências da instituição, dessa forma, não estão previstas qualquer meio de agressão. “Frente ao ocorrido, como meio cabível para cessar este tipo de atitude, a Santa Casa notificou a coordenação do Samu sobre o ocorrido, solicitando que o colaborar envolvido no incidente seja impedido de ter acesso às dependências do hospital até que sejam apurados os fatos”, informou a equipe de comunicação da Santa Casa, frisando que o caso já está sendo apurado pela 90ª DP seguindo os trâmites legais e que o hospital está colaborando para o inquérito, seguindo à disposição para quaisquer esclarecimentos.
A unidade finaliza dizendo que fatos isolados como o ocorrido são apurados e tratados com todo sigilo e integridade. Que a instituição zela pelo atendimento humanizado de todos seus pacientes, é contra qualquer tratamento em desacordo com os princípios da integridade humana e repudia qualquer tipo de violência.
POSICIONAMENTO DO SAMU
O jornal também procurou o Samu para saber o posicionamento e se o motorista foi afastado de suas funções. O responsável pela comunicação do serviço disse que “foi aberta uma sindicância interna para apurar o ocorrido sendo o registro realizado na delegacia pela equipe que prestou o atendimento”. Disse também que ”as medidas administrativas só são tomadas após o parecer da comissão de sindicância e que a mesma será realizada em caráter de urgência e divulgada assim que definida”.