Ex-professores de Rebeca Andrade e Flávia Saraiva falam do orgulho de terem dado aulas para as medalhistas olímpicas

As duas ginastas estudaram em Ciep de Três Rios, enquanto treinavam na cidade

Por Tânia Cruz
as medalhistas rebeca andrade e flávia saraiva estudaram em três rios entre os anos 2012 e 2013 divulgação

TRÊS RIOS
As provas da Ginástica Artística nas Olimpíadas de Paris trouxeram fortes emoções aos servidores do Ciep 456 – Prof. Marcos Costa Reis Dutra, em Três Rios, no Centro-Sul Fluminense, escola onde as medalhistas Rebeca Andrade e Flávia Saraiva estudaram entre os anos 2012 e 2013, quando cursavam os ensinos Fundamental e Médio, em um período em que a escola ainda se chamava Marco Polo.
Devido ao incêndio no Centro de Treinamento (CT) oficial no Rio de Janeiro, em 2012, elas foram morar na região para frequentar o CT da cidade, dividindo seus dias entre os estudos e a dedicação ao esporte. Apesar da pouca idade na época, entre 11 e 14 anos, as então alunas da rede estadual já colecionavam medalhas em campeonatos que disputavam.
A professora de Matemática delas, Liliane Camponez, explicou que além das duas, outras nove ginastas também estudavam no Ciep. “Muitas como a Rebeca, nem eram do Rio de Janeiro, mas mesmo assim estavam lá, lutando contra os desafios, contra a saudade da família e até com as dores nos pulsos por conta dos treinos. Elas eram crianças, mas já amavam a Ginástica”, disse a professora.
MOMENTO
Com um carinho enorme, a docente lembrou um momento que a marcou profundamente quando dava aula para elas. Na ocasião, nossa medalhista de ouro e maior medalhista brasileira, Rebeca Andrade, teve uma atitude que já demonstrava seu grande coração. “Na sala ela não parava de me olhar enquanto eu passava o conteúdo. Intrigada, eu perguntei o porquê dela estar me olhando tão profundamente e ela disse que estava admirando meu trabalho e que não entendia como eu conseguia dar as aulas. Eu sorri e disse a ela que era eu quem não entendia como ela conseguia fazer tudo aquilo na Ginástica e que eu não conseguiria sequer dar meia cambalhota. Expliquei que tínhamos habilidades distintas e brinquei ao dizer que, além disso, havia uma grande diferença entre nós, ela ganhava medalha e eu não”, lembra com sorriso.
Após a cena, Rebeca foi embora e preparou uma surpresa para o dia seguinte, só não sabia que com isso ficaria imortalizada no primeiro lugar do pódio mais querido que alguém pode conquistar, o coração de alguém. “No dia seguinte ela chegou com a mochilinha dela, sentou bem na frente e disse que tinha uma surpresa para mim, mas que só me daria se eu prometesse guardá-la. Eu disse que sim, que adoraria ganhar um presente. Foi então que ela tirou um objeto dourado da mochila e me disse “você merece uma medalha”, me dando de presente uma das medalhas que já havia conquistado pela Confederação Brasileira de Ginástica”, concluiu emocionada a professora enquanto exibia a premiação que ganhou da atleta há mais de 10 anos.
CARINHO
O carinho dos servidores com elas sempre foi conhecido. O professor que dá o atual nome à escola, Marcos Costa Reis Dutra, conhecido como Formiguinha, foi diretor na época das meninas, mas faleceu em 2019 vítima de AVC. Sobre o cuidado dele com as alunas-atletas, o atual diretor-adjunto, Bruno de Carvalho, que trabalha na escola há 15 anos, contou sobre a chegada delas e o recebimento por parte do colégio. “
O Formiguinha respirava educação, ele era um grande entusiasta das meninas e abriu as portas da escola para que fizéssemos o acolhimento delas, pensando um horário que fosse melhor para que elas pudessem conciliar estudos e treino. Vejo esse papel da escola com muita satisfação, pois ao abrirmos as portas para nos adaptar ao ritmo delas, acabamos por contribuir com os frutos que elas ainda estavam semeando. Isso não é um privilégio, é um apoio para que os atletas não abandonem a sala de aula.
O professor disse ainda que elas tinham orgulho em desfilar com a escola no feriado da Independência, com sua tradicional parada de 7 de Setembro, mas que hoje muitos alunos duvidam que elas estudaram no Ciep. “Aí a gente mostra as fotos pra que eles entendam que com estudo e dedicação eles também podem alcançar seus objetivos. Elas são exemplos pra todos nós. É muito bacana ver um ex-aluno virar atleta de alto rendimento. Lá em casa todos nós torcemos muito por elas”, declarou o docente.
ATUAL ALUNA TREINOU COM AS MEDALHISTAS
A atual aluna do Ensino Médio do Ciep 456, Bárbara Cristina Costa (16 anos), treinou com as ginastas no CT de Três Rios quando tinha apenas seis anos. Ela lembrou como era ver Rebeca e Flavinha, na época já uma inspiração para as novas gerações, como ela. “Eu fugia dos meus treinos para ver os delas. Eu achava muito legal olhar elas treinando na barra fixa. Uma vez por semana até fazíamos aulas juntas, mas o treino delas era bem mais avançado por conta da diferença de idade. Eu achava muito legal tudo que elas faziam, admirava elas e queria ser igual a elas. Hoje eu vejo na TV, torço, grito e penso como o mundo é pequeno”, refletiu a estudante que atualmente é professora auxiliar de dança, sua outra paixão.
Devido ao treino intenso no CT, nas aulas de Educação Física não havia necessidade de explorar ainda mais as meninas. Com essa orientação, o professor da disciplina, Diego Magalhães, lembrou dos anos em que esteve com as medalhistas e dos desafios que elas tinham. Elas já eram grandes promessas da Ginástica, na época, então já tinham um treino muito intenso pela manhã e à noite no CT. Às vezes chegavam na escola exaustas e com dores. Lembro que uma vez a Flavinha estava no canto da quadra e notei que ela estava com a mão machucada por conta dos treinos delas. Sempre havia lesões musculares e articulares devido ao treino puxado, então aqui na escola o ritmo era mais tranquilo. Elas abriram mão de uma fase importante de suas vidas para chegarem onde chegaram e fico muito orgulhoso por elas. Como professor de Educação Física isso me motiva. Acredito que o esporte ajudou muito na disciplina delas.
Desta forma, com o acolhimento, o apoio, o carinho e a sensibilidade dos servidores e alunos da rede, sonhos como os delas puderam ser realizados, fazendo com que a escola seja muito mais do que o lugar do saber, mas também um lugar onde os objetivos se constroem, os caminhos se cruzam e os sonhos passam a ser metas. Agora, a unidade, assim como todas as escolas da rede, seguirá com seu papel de produzir bons cidadãos para a sociedade brasileira e até mesmo mundial, como Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, nossas eternas medalhistas.

as duas medalhistas olímpicas na sala de aula quando estudavam em três rios divulgação

As medalhistas Rebeca Andrade e Flávia Saraiva estudaram em Três Rios entre os anos 2012 e 2013- Divulgação

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