RIO DE JANEIRO
O cruzamento de dois estudos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o Diagnóstico do Estado do Rio e a Pesquisa Orçamento Firjan-Ibope junto à população fluminense, revela a existência de dois mundos paralelos: aquele demandado pelos habitantes e a realidade da alocação dos recursos. Os documentos foram divulgados nesta terça-feira, 9, em coletiva na sede da Federação, no Rio. A pesquisa, encomendada pela Firjan ao Ibope Inteligência, teve por objetivo identificar as prioridades da sociedade em relação ao orçamento do governo estadual. Segundo o levantamento, elas são, nesta ordem: Saúde, Educação, Segurança Pública, Geração de Emprego e Renda, Saneamento e Transportes.
O Diagnóstico do Estado do Rio, porém, mostrou que juntas, em 2017, essas áreas receberam apenas 36,7% do orçamento. Enquanto isso, a maior parte das verbas estaduais foi destinada ao custeio da Previdência e da máquina pública: 37,4% e 24,95%, respectivamente. “Fica claro que existe um descasamento brutal entre as prioridades de alocação de recursos do estado em relação às necessidades da população”, afirmou o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira. O levantamento com a população fluminense foi feito no mês de junho. Houve 1.204 entrevistas presenciais e domiciliares, com pessoas de idade superior a 18 anos, em 37 municípios. Em paralelo, a Firjan elaborou o diagnóstico sobre os gastos públicos, a fim de comparar os resultados. “Num ambiente em que a crise fiscal impõe dificuldades para a gestão do orçamento, a priorização alinhada com os anseios da sociedade precisa ser o objetivo do novo governo”, aponta Jonathas Goulart, coordenador de Estudos Econômicos da Federação.
PREVIDÊNCIA
O diagnóstico mostra que a Previdência Social está voltada para atender apenas 1% da sociedade fluminense. “Esse gasto impacta brutalmente o restante da população. Hoje, 35% dos jovens do estado, de 18 a 24 anos, estão desempregados. É preciso dar emprego, educação de qualidade a esses jovens; dar dignidade às famílias que precisam de saúde, de saneamento básico. Não resolver o problema da Previdência é socialmente injusto e imoral”, cobra Eduardo Eugenio Vieira. Os estudos apontam ainda que nove entre 10 entrevistados destinariam a maior parcela do orçamento do estado à Saúde Pública, porém o setor recebeu apenas 9,2% das verbas, em 2017. Para metade das pessoas ouvidas, o governo deveria deixar de gastar com a máquina pública. Mas a realidade é bem diferente. O estado descumpriu o mínimo estabelecido na Constituição para a área de Saúde e ultrapassou os limites legais para endividamento e despesas com pessoal.
Outro dado em destaque é que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, ficou abaixo da meta estabelecida para 2017 e retrocedeu a níveis próximos ao de 2011. Além disso, outras despesas encolheram de tamanho, como o Bilhete Único, que de 2014 a 2017 sofreu um corte de 38%; e os investimentos na UERJ, que reduziu em 46%.
Segundo Eduardo Eugenio, os estudos da Federação têm entre seus objetivos pautar a discussão do problema no momento em que se aproxima o segundo turno das eleições para o governo do Rio de Janeiro. “A luz vermelha foi acesa. A sociedade precisa entender o que é preciso ser levado em consideração. E os candidatos precisam focar nisso e explicar como utilizarão os recursos”, afirma.