BARRA MANSA/BRASÍLIA
O Brasil bateu recorde de ocorrências de eventos hidrológicos e geohidrológicos no ano passado. Os dados foram divulgados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Foram contabilizados 1.161 eventos, sendo que 716 (61,7%) desses foram hidrológicos, como transbordamento de rios, por exemplo; e outros 445 (38,3%) foram de natureza geológica, como deslizamentos de terra. O Cemaden elaborou um ranking com dez cidades com maior número de ocorrências no país e Barra Mansa apareceu na quinta posição.
Em primeiro lugar está Manaus (AM) com 23 ocorrências, seguida de São Paulo – 22, Petrópolis – 18, Brusque (SC) – 14, Barra Mansa – 14, Salvador (BA) – 11, Curitiba (PR) – 10, Itaquaquecetuba (SP) -10, Ubatuba (SP) – 9 e Xanxerê (SC) – 9. Pela primeira vez o país fechou o ano com mais de mil ocorrências. Na média, no Brasil foram registrados pelo menos três eventos hidrológicos e geohidrológicos por ano.
Ao A VOZ DA CIDADE, o coordenador da Defesa Civil de Barra Mansa, João Vitor da Silva Ramos, relembra que o ano de 2023 para a cidade foi muito preocupante. “No âmbito geológico o que aconteceu equiparou o município a Petrópolis e a São Sebastião, isso entre ocorrências de deslizamentos e escorregamentos de terra. A nossa única diferença é que não tivemos óbitos. Foram 450 ocorrências no ano passado. O que amenizou a situação foi monitoramento constante da Defesa Civil e a inclusão de área de risco. O DRM fez uma avaliação e o laudo informou que grande parte do solo na cidade não tinha resistência adequada, ou seja, um problema geológico”, explicou.
Ele ainda apontou que um volume muito alto de chuva no período de novembro de 2022 a março de 2023. Foram 2,3 mil milímetros. “É muita coisa. A média por mês é de 150 mm a 200 mm por mês”, disse, completando que nesse mês de janeiro a média está alta. “Já registramos até o dia 24, 382 milímetros de chuva na cidade. Ainda temos mais sete dias para fechar o mês”, afirma.
Segundo o Cemaden, a mudança no clima pode explicar o recorde de desastres naturais registrados no país em 2023. O coordenador da Defesa Civil de Barra Mansa disse que o El Niño e a La Niña estão ocasionando mudanças no padrão das chuvas em relação a média histórica. Especificamente na cidade, a topografia prejudica e deixa frentes frias condensadas em Barra Mansa, contribuindo para a formação de grandes tempestades. “Recebemos a previsão de chuva diariamente, mas no outro dia, muitas vezes, há alteração por conta do El Niño. Agora o alerta nem está mais sendo emitido por regiões, mas sim para todo o Estado”, explicou João Vitor, informando que nesta quarta-feira mesmo recebeu a previsão de chuvas na cidade até segunda-feira, 29.
E essa constância de chuvas é pior do que aquela que é mais forte, pois enxarca o solo, o que ocasiona deslizamentos e desmoronamentos. Por isso, a Defesa Civil está em alerta. “Aqui temos caracterizados três níveis geológicos, o primeiro é quando começamos a receber volume de chuva, o segundo é quando começa a saturar o solo, que é onde estamos agora, e o nível três é quanto as ocorrências começam. Não chegamos ainda nesse nível, mas estamos em alerta”, avisou João.
NÚMERO DE ALERTAS EMITIDOS
O Cemaden monitora 1.038 cidades diariamente. Além das ocorrências, o órgão também elaborou ranking de municípios que mais emitiram alertas de desastres. Em 2023 foram emitidos 3.425 alertas entre janeiro e dezembro, o que representa uma média de pelo menos nove diariamente. Petrópolis foi a cidade que mais concentrou alertas, 61. São Paulo em segundo luar com 56, seguido de Manaus, 49; Belo Horizonte (MG), 40; Rio de Janeiro, 35; Juiz de Fora (MG), 34; Angra dos Reis, 30; Recife (PE), 26; Teresópolis, 25; Nova Friburgo, 25.
RIO PARAÍBA DO SUL
De acordo com a Defesa Civil de Barra Mansa, o alto acúmulo de água na Represa do Funil tornou necessária a abertura do vertedouro, em 100m³. Apesar de cheio, o Rio Paraíba do Sul está com vazão em 467m³, significando que até o momento não há risco de transbordo. A Defesa Civil segue em alerta, monitorando os rios, em caso de ameaça e transbordamento as sirenes serão acionadas e os moradores serão alertados por meio de SMS.
“Hoje contamos com dez equipamentos de sirenes nas áreas mais críticas. Até o momento não é necessária a instauração de pânico, mas vamos seguir com o nosso trabalho de preservar vidas e informar a população sobre os riscos”, disse.
Os principais pontos críticos no momento, segundo João, são os bairros: Centro, na altura da Av. Argemiro de Paula Coutinho, Ano Bom, Roberto Silveira, Vila Maria, Vila Nova, Vista Alegre, Nova Esperança, São Luiz, Boa Sorte, Piteiras, Colônia Santo Antônio e a Vila dos Remédios, no distrito de Floriano.
IMPACTOS FINANCEIROS
O relatório do Cemaden apontou que dos 1,1 mil desastres registrados no país, foram registradas 132 mortes associadas às chuvas, 9.263 pessoas ficaram feridas ou enfermas e 74 mil desabrigadas, além de 524 mil desalojadas. Os prejuízos financeiros nas cidades somam cerca de R$ 25 bilhões.
Em Barra Mansa o prejuízo foi alto. Foi solicitado R$ 76 milhões para obras. Desses, R$ 29 milhões já foram aprovados para contempladas seis obras. Outras nove continuam a espera da liberação da União para execução.