E se a pandemia do coronavírus que hoje aflige o mundo tivesse acontecido cem anos atrás ou até mesmo lá por volta de 1950, 60 ou 70? O que teria acontecido ao mundo do futebol? Certamente, nada tão crítico como está acontecendo agora, com os clubes desesperados porque o caixa que estava doente, foi parar na UTI.
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Em 1920, com uma população perto de chegar aos 2 bilhões de terráqueos, nosso mundo já havia passado pela dizimadora Peste Negra. Navegava há anos com o tifo. Acompanhava, com suspiro profundo, os momentos finais da gripe espanhola enquanto orava, em solidariedade cristã, pela alma dos 20 milhões que perderam a vida.
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Em 1920 havia campeonatos em quase todas as capitais do estado. No Rio, América, Andarahy, Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras – do bairro de São Cristóvão, Mangueira, São Christóvão e Villa Isabel disputaram o torneio ganho pelo Flamengo. O Vasco da Gama não participou, punido por ter incluído em sua equipe jogadores da cor negra.
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30 milhões de brasileiros, mais da metade nascidos depois que o Império escafedeu-se e o país passou a ser República, assistiam estranha dança na cadeira do poder. Como aconteceu com Tancredo Neves, Rodrigues Alves morreu antes de tomar posse como presidente. Delfim Moreira, driblando greves, assumiu mandato tampão de 255 dias até a chegada do novo titular Epitácio Pessoa.
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Como um centro-avante rompedor, o paraibano de Umbuzeiro superou bloqueios, deixou desnorteadas sucessivas revoltas e marcou seu ultimo gol no dia 15 de novembro de 1922 quando foi embora para casa. Vieram Arthur Bernardes e Washington Luiz governante até a revolução de 1930.
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Por mais que fossem anos eletrizantes, em 1920 o futebol não tossiu nem teve febre alta. Em nossa região, O Barra Mansa FC comemorava 12 anos de idade e o Resende FC 11. Os ferroviários de Barra do Piraí se preparavam para fundar o Central SC dois anos depois e, no perfume da elite da cidade pérola do paraíba, o Royal SC estava gestando para nascer em 1925.
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Bem diferente dos dias atuais, naquela época os jogadores não recebiam salário, lavavam o próprio uniforme e a maioria comprava a própria chuteira. Embora já houvesse atletas profissionais, no máximo, quando o time vencia a partida, o que se pagava era um agrado chamado “bicho”.
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Os anos passaram e um surto de salários altos contaminou o futebol. Em 1995, 62 mil reais era o salário mensal de Romário; o maior do Brasil, um assombro. O surto virou epidemia e agora virou pandemia. Neymar está abrindo mão de uma proposta de quase 600 milhões de reais para renovar com o Paris Saint Germain. O salário do Fred, na marca do pênalti para voltar ao Fluminense, é de 800 mil reais mensais.
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Como está, nem máscara nem álcool gel salvará o futebol. E muitos clubes caminham ofegantes para o óbito, supondo que os respiradores artificiais da televisão são a milagrosa fonte da salvação eterna.