Brain Hot é o efeito que conteúdos digitais rápidos e altamente viciantes causam no cérebro. Vídeos curtos, jogos com reforços imediatos, desenhos frenéticos: tudo isso dispara picos excessivos de dopamina, gerando uma espécie de vício no estímulo rápido. O problema? A vida real não tem esse ritmo. E o cérebro da criança começa a perder a capacidade de regular emoções, manter foco e se envolver em tarefas mais lentas, como brincar, estudar ou socializar.
Exemplos práticos:
– Vídeos com músicas chiclete, cortes rápidos e excesso de cores como febre do “tralaleiro tralala” e similares, que parecem inofensivos, mas hiperestimulam o cérebro infantil;
– Joguinhos com recompensas rápidas como Roblox, Subway Surfers e Free Fire, que não permitem intervalos, forçando o cérebro a buscar sempre o próximo “prêmio”;
– Desenhos superacelerados: como Cocomelon, Baby Shark Remix, que deixam qualquer brincadeira real parecer “chata” em comparação.
O Brain Hot impacta todas as crianças, mas em crianças neurodivergentes ele piora os prejuízos já existentes, principalmente nas funções executivas e na atenção.
Estamos criando uma geração de crianças cada vez mais conectadas e… cada vez mais desreguladas. O termo “Brain Hot”, cunhado de forma popular para descrever o cérebro em estado de hiperestimulação digital, não é uma moda: é um grande alerta. E o impacto desse “superaquecimento cerebral” é ainda mais grave quando falamos de crianças neurodivergentes, aquelas que já têm particularidades em seu desenvolvimento, como TDAH, autismo, dislexia, por exemplo, bem como outras condições do neurodesenvolvimento.
Crianças com TDAH, TEA, dislexia ou outros transtornos já possuem, por natureza, uma vulnerabilidade nas funções executivas (controle inibitório, flexibilidade cognitiva, organização e regulação emocional). O uso desregulado de telas potencializa as dificuldades:
No TDAH: a impulsividade se intensifica, o foco já frágil se reduz ainda mais, e os momentos de tédio — fundamentais para o desenvolvimento do autocontrole — são eliminados. Crianças se tornam mais agitadas e reativas.
No Autismo: o hiperfoco em telas pode isolar a criança do mundo real, aumentando estereotipias, irritabilidade e crises de frustração quando desconectadas. A interação social espontânea diminui drasticamente.
Na Dislexia: o consumo excessivo de conteúdo visual rápido substitui práticas essenciais de leitura e processamento auditivo, o que impacta diretamente o desenvolvimento da linguagem.
Como você ode ajudar seu filho?
Estabeleça rotinas claras de tela: estabelecer horários previsíveis reduz ansiedade; Priorize conteúdo educativo e lento: conteúdos calmos ajudam a treinar a paciência; Organize um tempo obrigatório de atividades não digitais: artes, esportes, brincadeiras livres; Construa um ambiente previsível e rotina visual para neurodivergentes; Oriente, ofereça novas formas de brincar, pois aprendemos pelo vinculo, motivação, repetição , estruturação de rotinas e imitação.
Vamos juntos!!!
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.