RESENDE
Em assembleia realizada no início da tarde desta terça-feira, dia 3, após várias reuniões entre representantes dos Correios e do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro (Sintect-RJ), regionalmente e também em Brasília, os carteiros da agência dos Correios de Resende deliberaram pelo fim da greve, após 28 dias de mobilização, mantendo o estado de greve. Os profissionais que trabalham no Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) paralisaram suas atividades no dia 5 de junho, reivindicando melhores condições de trabalho na sede e a contratação da Mão de Obra Temporária (MOTs), com ao menos nove profissionais auxiliando no serviço de entrega das encomendas e correspondências na agência Resende, que é responsável ainda por Itatiaia e Porto Real. Durante a greve, o CDD realizou apenas a entrega de Sedex (Serviço de Encomenda Expressa Nacional) e PAC (sigla adotada aos fretes que significa Prático, Acessível e Confiável) remetidos no Rio de Janeiro. O acesso da população às suas postagens, cartas e encomendas, retirando direto na unidade, foi vetado pela empresa durante a greve.
O impasse na deliberação sobre a greve decorreu durante a segunda e terça-feira. Os Correios não remeteram os MOTs para Resende, conforme acordado em reunião, dia 29, no Rio, com membros do Sintect e dos grevistas. Além disso, a empresa manteve a condição apresentada há cerca de 20 dias, que é isentar 50% dos dias paralisados dos grevistas mantendo a perspectiva de após superar entraves burocráticos, consolidar o contrato de novos carteiros temporários para Resende. Colocada em pauta de discussão e votação, na assembleia realizada na Praça da Concórdia, a maioria optou por encerrar a greve: 51% contra 49%. Desta forma, os profissionais em greve retornam às suas atividades a partir das 7 horas desta quarta-feira, dia 4. “A greve terminou. Em votação na assembleia foram 51% votos a favor da proposta da direção dos Correios e 49% contra. É frustrante porque termina sem recebermos ganho algum da nossa pauta de reivindicação inicial. Com quase 30 dias de paralisação, a maioria teme ficar também sem o vencimento integral, uma vez que investimentos na unidade e a chegada de novos trabalhadores não ocorreram, segue sem previsão devido às dificuldades de os Correios firmarem contrato”, comenta o carteiro Hallisson Nunes, representante dos grevistas junto ao Sintect.
Ele lembrou que o serviço apesar de ser retomado tende a apresentar lentidão. “Teremos 50% dos dias paralisados abonados e o restante pagaremos ainda realizando hora extra. Estamos frustrados, porque nossa luta é por melhorias na unidade o que geraria um serviço de qualidade, eficiência para a população. Com pouca mão de obra na unidade, seguirão a lentidão nas entregas, as filas e desconforto para aqueles que virão até a unidade tentar retirar suas correspondências, enfim. É prejuízo ao carteiro, que lutou e não teve evolução. Infelizmente a direção dos Correios não acatou o que pedimos. Teremos ao menos quatro meses de hora extra pra acertar a demanda de entregas. A informação mais recente dá conta de que existem em torno de 200 mil objetos retidos em Benfica e Nova Iguaçu, devido à greve de Resende”, argumenta o trabalhador que participou das reuniões ao lado dos diretores do Sintect-RJ, Marcos Sant’Aguida e Esmeralci Silva. “A porcentagem foi apertada, a greve terminou, mas a categoria permanece em estado de greve. Isso é por tempo indeterminado, se a empresa não cumprir a pauta pode ser deflagrada a greve a qualquer instante. A população tem que entender que a greve foi em prol da melhoria para eles mesmo, pois o serviço já estava precário antes da mobilização”, afirmou Esmeralci Silva.
Segundo a direção do Correios, após diálogo e negociação entre os representantes da empresa e os representantes dos trabalhadores, os empregados do CDD Resende decidiram retornar ao trabalho. “Ficou definido que 50% dos dias paralisados serão descontados e 50% dos dias serão compensados de acordo com a necessidade dos Correios. Os empregados foram informados da previsão de chegada dos funcionários terceirizados na próxima semana”, diz. Sobre as entregas, a previsão de 10 dias para ser regularizada. “Em aproximadamente dez dias, a entrega da carga da unidade será normalizada. Para que isso ocorra, serão realizadas horas extras e mutirões nos finais de semana”, afirma a empresa.
POPULAÇÃO ELABORA ABAIXO-ASSINADO
Durante a greve são quase 200 mil objetos de encomendas via Sedex e PAC remetidos de outros estados ou até de outros países tendo como destinatário endereços abrangidos pelos Correios de Resende, retidos nos Centro de Tratamento de Cartas de Benfica, no Rio, e na cidade de Nova Iguaçu. Assim, os usuários em geral reclamam seus prejuízos e transtornos sem as encomendas. Um abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas e comunidades de usuários insatisfeitos surgiram através das redes sociais.
Membros desse movimento protestaram nesta terça-feira, diante da CTC Resende, no Centro. “Tenho quatro encomendas entre Sedex e PAC que desde maio aparecem no código de rastreio que estão retidas em Benfica, no Rio, com destino a Resende. Pela Ouvidoria dos Correios recebemos a informação que a unidade não estava em greve. Vindo aqui, não temos permissão para retirar o que pode estar na unidade e nem informação de prazo do que esta fora, para chegar até Resende. Vendo a situação criei um grupo de discussão nas redes sociais (o Cadê Minhas Encomendas?) e elaborei um abaixo-assinado encaminhado ao presidente dos Correios, Carlos Fortner. São 525 assinaturas, média de 100 ao dia. Queremos ao menos o direito de retirar o que é nosso, independente da greve ou não”, questiona o vendedor Leandro Coutinho, 36 anos, morador da Morada da Montanha. Idealizador do manifesto, Coutinho pretende encaminhar o documento para o Ministério Público e ainda a Justiça Federal, além da direção nacional dos Correios.
SEM FANTASIA
O universitário Róbson Menezes, 30, endossou o manifesto reclamando do prejuízo de ficar de fora de eventos que participa na região. Fã dos cosplay, o hobby onde os participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa, ele tenta receber a fantasia de um personagem do seriado Cavaleiros do Zodíaco. “Fiquei de fora do Anime Fan Fest, em Volta Redonda porque não recebi minha fantasia e corro o risco de ficar de fora de outro importante evento Cosplay este mês, em São Paulo, onde a premiação é valiosa. A Ouvidoria dos Correios diverge das informações que temos da gerência local. Quem paga nossos prejuízos pelas mercadorias paradas? Pagamos um serviço por prazo específico a ser entregue e não ocorreu. Alem da fantasia, já comprei livros e também não recebi. Só tive prejuízos e buscamos nossos direitos”, afirma o morador do Surubi.
PREJUIZO DE R$ 5 MIL
Proprietária de um brechó pelas redes sociais a vendedora Natália Alves, 38, também foi até os Correios protestar pelas suas encomendas, retidas em Benfica. “Meu prejuízo soma quase R$ 5 mil. Trabalho com um brechó online e faz mais de 30 dias que aguardo mercadorias pelos Correios e não recebo. Preciso trabalhar. Não entendo, porque não remetem de Benfica para Resende e aqui nos permitem retirar pessoalmente? É um desrespeito. Não somos contra a categoria em greve, mas contra a metodologia adotada neste período pela direção dos Correios. Alegam que devido à greve não há nenhum atendimento. Torço pelo fim da greve e a retomada dos serviços”, disse a vendedora pela manhã, antes da assembleia definitiva no início da tarde.