BARRA MANSA/SUL FLUMINENSE
Dando continuidade às atividades do Circuito da Democracia, por ocasião do mês de reflexão sobre o golpe de 1964, o Observatório de Direitos Humanos, em conjunto com o Centro de Memória do Sul Fluminense Genival Luiz da Silva (Cemesf), realizaram uma roda de conversa com o tema ‘O que resta da ditadura’. O debate aconteceu nesta quinta-feira, no Parque da Cidade, local do Antigo Batalhão de Infantaria Blindada do Exército (BIB). O objetivo foi debater sobre os acontecimentos no período da ditadura.
Foram convidados para a mesa de debate Chico Alencar, historiador e ex-deputado federal; Geralzelia Streva, irmã de um dos quatro soldados torturados e mortos no BIB, em 1972; Vicente Melo, jornalista e ex-preso político; Alejandra Estevez, Professora da Universidade Federal de Volta Redonda (UFF) e pesquisadora do Centro de Memória; e como mediador do debate o ativista cultural, Carlos Eduardo.
O Parque da Cidade de Barra Mansa, abrigou o 1º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB) entre 1950 a 1973, onde, segundo o levantamento da Comissão da Verdade, aconteceram diversas torturas. Na roda de debate, Geralzelia Streva contou sobre seu irmão, Gilmar Ribeiro da Silva, que foi uma das vítimas da tortura no período ditatorial. “Meu irmão era um soldado e servia no BIB de Barra Mansa. Um dia foram buscá-lo em casa, disseram que estava faltando motoristas e que ele precisaria cobrir o horário. Dois dias depois nós ficamos sabendo que ele tinha sido preso. Ele passou por 11 dias de tortura antes de morrer”, disse em entrevista ao A VOZ DA CIDADE.
Geralzelia ainda afirmou que esse debate serve para não deixar a verdade morrer. “Nós que fomos diretamente atingidos, sabemos como realmente foi aquele período, e contar essa história aos outros, é tentar fazer com que não se esqueçam da história”, expôs, relatando que o crime contra o seu irmão foi o único crime militar punido durante a ditadura.
De acordo com o historiador, Chico Alencar, o debate é um reavivamento da memória de um período sombrio da história e uma forma de resistência. “Algumas pessoas querem ocultar a história e retroceder tudo o que já avançamos. Encontros como esse são sempre importantes para que a gente não fique prisioneiro da falta de perspectiva”, disse, acrescentando que o mundo está vivendo uma época de pós-verdade. “É um movimento mundial de indução a desinformação. Uma das coisas que influencia nesse acontecimento são as redes sociais que estão estimulando que cada um seja dono da sua própria verdade e com um pensamento não crítico, sem a percepção da diversidade”, lamentou.
Centro Memória, Verdade e Direitos Humanos
Através do Centro de Memória do Sul Fluminense Genival Luiz da Silva (Cemesf), vinculado ao ICHS/UFF, o Centro Memória, Verdade e Direitos Humanos (CMVDH), que funcionará como uma espécie de museu, no Parque da Cidade de Barra Mansa, e contará a história, identificando como e onde ocorreram as torturas e mortes no período da ditadura.
De acordo com Alejandra Estevez, o projeto está na primeira fase, onde a etapa visa o lançamento de dois editais para a contratação de consultores que irão elaborar o projeto arquitetônico o museológico. “Nós prevemos que ao longo desse ano, esses projetos serão elaborados. Em seguida entraremos na segunda etapa, que será a captação dos recursos”, contou, explicando que ainda não há uma data definida para a conclusão de todas as etapas.
Alejandra ainda disse que o Parque da Cidade já conta com dois projetos de extensão. Um deles é o Cine Arquivo, que é a exibição de filmes que são chamados de arquivo, que já acontece desde 2018; e, o projeto Visitas Guiadas, que começará no mês de maio, onde serão contadas as histórias do batalhão e dos presos que passaram pelo local.