BARRA MANSA
O Conselho Municipal de Cultura realizou na quarta-feira, 19, uma audiência pública no plenário da Câmara de Vereadores, no Centro, para debater as obras da Igreja Matriz de São Sebastião. No local estiveram presentes cerca de 80 pessoas, prós e contras ao projeto, além da presença do bispo diocesano Dom Francisco Biasin e do padre Milan, titular da Matriz. O objetivo do encontro foi ampliar o repertório da comissão, obter mais informações e ouvir a população em geral, para que seja realizado um relatório final com todas as informações levantadas. Dez pessoas tiveram a oportunidade de falar no encontro.
O fato importante que foi observado, é que ainda não existe um inventário técnico do tombamento, que determina o que deve ou não ser tombado na igreja, apesar da estrutura ser considerado Patrimônio Cultural, e, de acordo com a apresentação do conselho, na igreja os únicos itens originais do século XIX, são os três sinos instalados na torre direita e o relógio.
No dia 30 de novembro foi realizada a apresentação do projeto, e, para a elaboração do relatório a comissão, formada por oito integrantes (quatro da sociedade civil e quatro do Poder Público), foram dois encontros com pesquisas históricas e técnicas, e, uma visita técnica na igreja, para observar os elementos do prédio que justifiquem a preservação, dentro dos elementos técnicos.
Segundo o presidente da Fundação Cultura, Marcelo Bravo, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) teria solicitado que a obra não tivesse continuidade até que toda discussão fosse esclarecida e resolvida, e, para a audiência, a comissão destacou três eixos de trabalho para nortear o relatório: Jurídico, Estrutural e Histórico.
A parte jurídica fala sobre as duas leis, vigentes no município, que afetam as obras na Matriz, a Lei 4.602/2016 e a 4.492/2015, e, uma lei de 1992 que declara a igreja, entre outros prédios do Centro de Barra Mansa, como Zona Especial Histórica. O eixo estrutural fala da obra em questão arquitetônica, material utilizado, o projeto executivo apresentado e as normas técnicas de acessibilidade. E, por fim, o levantamento histórico que mostra todas as intervenções que a igreja sofreu durante seus quase 160 anos.
PRÓXIMOS PASSOS
O presidente da Fundação Cultura explicou que até no início de janeiro será elaborado um relatório, ainda inconclusivo, com uma diligência para que a igreja responda, como, por exemplo, a questão do orçamento da obra, para poder construir um relatório final e encaminhar a todas as autoridades competentes.
Marcelo Bravo citou também a importância da criação de um inventário especificando o que é ou não é tombado na igreja. “É necessário elaborar um documento específico e técnico do que deve ou não ser tombado. E, tanto o MP, quanto a comissão, podem pedir um inventário especificando os itens de tombamento”, disse, completando que quando isso acontecer será o primeiro do município. Para ele, a obra continuará ou não depois que o inventário for feito.
No final da audiência, foi especificado que existem três possíveis decretos para o caso de obras na igreja: aprovação do projeto, aprovação com ressalvas (como, por exemplo, somente o piso ou obras de acessibilidade) ou, rejeição total do projeto.
INTERVENÇÕES NA MATRIZ
A Igreja Matriz de São Sebastião foi finalizada em 1860, e desde então passou por diversas descaracterizações. Em 1939 a Igreja Matriz de São Sebastião passou por uma reforma que mudou o batistério e a sacristia; o altar-mor, a capela do santíssimo Sacramento e os altares laterais foram restaurados; o forro foi substituído e o piso de madeira foi retirado para a instalação de ladrilho hidráulico e paredes internas pintas. De 1958 a 1962, aconteceu uma completa descaracterização da igreja. As pilastras, ilustrativas, do altar foram retiradas, as paredes laterais foram demolidas para ampliar o local e o levantamento do andar superior, e, além do novo teto em concreto, nessa obra também foi construído o painel atual.
De acordo com a apresentação do conselho, nem as portas e janelas da igreja são as originais. Apenas os três sinos instalados na torre direita e o relógio são os itens do século XIX.
JUSTIFICATIVA DAS OBRAS
Uma das razões para a realização das obras da igreja é para atender a lei de acessibilidade. Outro motivo para a o início da primeira parte da obra, seria para atender as orientações do Vaticano, pois uma mureta dividindo os celebrantes dos fieis já não faz mais parte das diretrizes do Vaticano.
Durante as considerações finais da audiência, Dom Francisco Biasin destacou também que a imagem de um triângulo, no atual painel, não representa a experiência de Deus. “O triangulo surgiu entre o século XVII e XVIII, que dizia que só tinha valor aquilo que conseguia explicar diante da ciência e o conhecimento da razão, portanto, viram no triângulo uma representação do Pai, Filho e Espírito Santo. Isso foi um engaiolar a experiência de Deus em uma forma geométrica”, disse.
Ainda de acordo com o Bispo, o painel tem o seu valor, pois é fruto de uma época. “Mas acredito que é importante entender a evolução da concepção de Deus na vida do seu povo. Se a gente olhar a história de forma ampla, muitas vezes foram dadas resignificações a expressões litúrgicas. E se há uma proposta, não é para tirar o que foi no passado, mas para interpretar o novo conceito” afirmou.
ABAIXO-ASSINADO
Foi entregue no evento o abaixo-assinado a igreja com cerca de mil assinaturas contra a descaracterização do painel. “Se for usar como desculpa as descaracterizações anteriores, o que nos garante que não vão mudar daqui a um tempo dando essa mesma justificativa. Aí nunca um patrimônio histórico será mantido”, Anderson Nunes, uma das lideranças da Igreja São Pedro, do bairro Cotiara.