VOLTA REDONDA
A partir da vivência da psicóloga, pesquisadora, professora e doutoranda Sandra Duarte Antão, com adolescentes da comunidade Paraíso de Cima na cidade de Barra Mansa, em 2018, surge o Programa Ginga. A realidade da localidade era encontrada atravessada pela vulnerabilidade social e a identidade étnico-racial desses adolescentes indicava o retrato da desigualdade social no Brasil: são adolescentes negros que compõe essa estatística.
Em entrevista ao A VOZ DA CIDADE, Sandra explicou que, essas reflexões levaram a compreender a importância da psicologia na luta antirracista, através do desenvolvimento de uma intervenção para estimular a construção da identidade étnico-racial. “Espero com meu trabalho contribuir para que o racismo não apague a identidade daqueles que estão se construindo e que reconheçam a força e o potencial que existe na história do povo negro”, frisou a professora.
A doutoranda lembrou ainda, que este projeto pretende apresentar desdobramentos práticos para que os adolescentes saibam se posicionar para questionar a lógica racista que sustenta a sociedade, tendo como objetivo geral a implementação de um programa psicoeducativo antirracista para promoção da identidade étnico-racial de adolescentes.
ESTIMULAR A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
Através dessa intervenção, ainda de acordo com a professora, almeja-se estimular a construção do conhecimento através do respeito, do apoio à diversidade e na erradicação do preconceito e discriminação racial. “O Programa contém diversas temáticas reflexivas acerca do racismo no Brasil, bem como jogos adaptados da cultura africana para estimular a aprendizagem dos adolescentes”, disse.
Lembrou também a professora que, no ano de 2024, comprometida com a formação dos alunos do curso de psicologia no Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB-Ferp), Campus Aterrado-Volta Redonda, lançou o projeto de extensão Ginga: por uma escola antirracista, onde desenvolve reflexões acerca da promoção de uma Psicologia Decolonial no espaço acadêmico e convida os alunos a construirem um pensamento crítico acerca do embranquecimento da academia e a visão colonial na produção de conhecimento no Brasil.
EQUIPE DE PESQUISA
Ainda segundo a professora, o Projeto Ginga conta com uma equipe de pesquisa e já foi desenvolvido inicialmente com 20 adolescentes integrantes de projetos sociais dos bairros Paraíso de Cima, em Barra Mansa, e Santa Cruz, em Volta Redonda, durante o mês de março de 2024. Além disso, foi adaptado para o contexto escolar, tendo sido aplicado para cerca de 60 adolescentes do 8º ano do Colégio Getúlio Vargas, em Volta Redonda. Declarou ainda, que pretende, sobretudo, que esta seja uma pesquisa capaz de fortalecer a identidade negra, gerando adolescentes mais informados e mais seguros de si. Para assim, poderem trilhar um caminho para descolonização do saber.
No momento, Sandra está em Moçambique, tendo sido aprovada no 1º edital Atlânticas do Programa Beatriz Nascimento mulheres negras na ciência, uma parceria do Ministério da Igualdade Racial e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Ela estará desenvolvendo parte de sua pesquisa de Doutorado na Universiade Eduardo Mondlane de setembro a dezembro de 2024, compreendo as contribuições das perspectivas africanas dos fenômenos psicológicos, cooperando assim para a internacionalização da ciência e principalmente para a formação de novas redes de enfrentamento às desigualdades no Brasil, visando principalmente condições para que a promoção de saúde dos adolescentes negros sejam prioridade no país. Lembrou que o projeto de Doutorado está ligado à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) sob orientação da professora Ana Cláudia de Azevedo Peixoto.