BARRA MANSA
As academias estão no grupo de atividades mais afetadas pela crise sanitária no Brasil. Metade delas está com dívidas em atraso. É o que mostra a 11ª edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia de Covid-19 nas Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com a pesquisa, o faturamento do setor chegou, em maio, a um patamar 52% abaixo do que seria normal para o mês. Na edição anterior da pesquisa, realizada em fevereiro, o segmento estava 42% abaixo do normal. Essa piora de cenário fez com que esses empresários se tornassem os mais preocupados entre todos os setores analisados: 72% alegam que estão com muita dificuldade de manter o negócio.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, destaca que as academias, assim como o setor de eventos e turismo, precisam da presença do público para funcionar. “Ao longo da pandemia, muitas inovaram nas aulas e consultorias online para segurar minimamente o faturamento. O Sebrae tem reforçado a orientação em relação aos protocolos de prevenção e no acesso a crédito, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Apesar da reabertura das academias, a maioria das pessoas ainda se sente insegura de se exercitar em ambientes fechados. Por isso, é tão importante avançarmos de forma mais ágil e efetiva no processo de vacinação”, explica.
A personal trainer e sócia de uma academia, Isabella Guimaraes Machado, é uma das empreendedoras que tem passado por momentos difíceis durante a pandemia. “A vida virou de cabeça para baixo, tivemos que dispensar funcionários e hoje faço de tudo na academia, sou personal, dou aulas, sou recepcionista, enfim, tudo. O número de alunos caiu drasticamente e estamos nos arrastando. Conseguimos passar pelo período mais difícil, pois o proprietário do imóvel não nos cobrou aluguel durante os sete meses que ficamos fechados. E nós nos viramos do jeito que dava: seja dando aulas online, nas casas ou alugando kits para os alunos se exercitarem. E agora trabalhando muito com os poucos funcionários que o estabelecimento manteve”, cita.
De acordo com ela, lucro é algo que não existe mais. “Não temos lucro quase nenhum, o dinheiro que entra é apenas para cobrir os gastos, estamos sobrevivendo da vontade de fazer dar certo, acreditando que isso vai passar, dinheiro mesmo é contado, usando estratégias de promoções, pacotes, buscando alunos inativos tudo para suprir despesas que não tem como fugir como luz, água, aluguel”, destaca.
Crédito
O estudo mais recente do Sebrae, que analisa o cronograma de vacinação, mostra que, nesse ritmo, apenas em outubro haverá boa parte das MPE micro e pequenas empresas com o faturamento recuperado aos níveis pré-pandemia.
Com esse resultado, as academias se juntaram novamente ao grupo dos mais afetados, que é composto por pequenos negócios que atuam no turismo e economia criativa, ambos com nível de faturamento de -68%. Beleza (-53%) e logística e transporte (-50%) também apresentam queda.
Melles destacou que os donos de academias também são os que mais procuram as instituições financeiras para obter crédito em 2021. De acordo com a pesquisa, 55% solicitaram empréstimos desde janeiro, sendo que 36% procuraram essa ajuda entre os meses de abril e maio.
Segundo o Sebrae, no acumulado do ano, o número de pequenos negócios desse setor que tentaram crédito é 10 pontos percentuais superior à média (45%). Dos que procuraram crédito, 48% receberam uma resposta positiva ao pedido. Outras atividades que também apresentaram um aumento na procura por crédito foram a indústria de base tecnológica, beleza, serviços de alimentação e construção civil.