Sem Spoiler – A Mulher Rei

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De volta as telonas Viola Davis da vida a uma general africana em uma história com muitas camadas.

A Mulher Rei é um filme baseado em fatos históricos reais, com muita ação e drama, que conta a história do Reino de Daóme e suas guerreiras lendárias.

Dirigido pela Gina Prince que tem no currículo trabalhos como Old Guard da Netflix, a diretora mostrou para o que veio e entregou um trabalho excelente que sem dúvida veremos nas premiações ano que vem. Eu vou destacar aqui a direção de ação, toda a estratégia de câmera e coreografia estão lindas, muitas vezes ele demora pra cortar a cena e nos deixa ver o quão habilidosas eram as guerreiras e também consegue nos mostrar o como aquelas mulheres que eram fisicamente menores que os homens que elas enfrentavam conseguiam mata-los com golpes muito habilidosos. Mas além disso, junto com a roteirista Dana Estevens elas souberam contar a história além da ação, um drama pessoal e uma mancha na história da humidade, com muita sensibilidade e sem nunca apelar para os clichês. Então sem dúvida fizeram um grande filme.

Divulgação

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Saindo da direção diretamente, vamos falar das atuações; Viola dando um show como sempre e não aceito nada menos que um Oscar para essa mulher! Ela compôs uma personagem forte, pulso firme que impõem respeito, mas que já sofreu muito e se tornou rígida com isso, porém, isso não faz ela feliz. O tempo todo que ela está em tela dá uma sensação de que ela está se segurando pra não explodir ou chorar, como se tivesse que se provar a todo segundo, simplesmente incrível. Mas a Thuso Mdebu que dá vida a Nawi é um espetáculo à parte, a intensidade com a qual ela interpreta essa jovem que sonha em ser uma guerreira é algo de tirar o fôlego, no silêncio ou nas explosões ela passa muitas camadas. Além dela quero falar também da personagem interpretada pela Lashana Lynch, Izogie, ela ganha nosso coração com os seus sonhos e sua força, sua delicadeza e amizade junto com sua capacidade em batalha, sem dúvida é uma das melhores personagens do filme.

Agora sobre o roteiro, arco, narrativa, é um filme extremamente bem amarrado, não tem nenhuma ponta solta que ele não acerte até o final e ainda mostra um período histórico que foi um dos mais cruéis da humanidade, porém dessa vez visto por uma outra ótica, mostrando por dentro de um Reino Africano, humanizando todos aquelas pessoas e te colocando a refletir o quão bárbaro foi tudo o que aconteceu, e aqui não digo nem só a escravidão em si, que é a coisa mais horrível do mundo, mas o como ela foi feita, o como os pretos eram levados a pensar que esse era o fardo deles e eles eram completamente desumanizados nesse processo pra que aceitassem isso. Então ver um longa-metragem, blockbuster, abordando e levando isso para milhões de pessoas com tanta sensibilidade e respeito é algo que me faz muito feliz. Mas como nem tudo são flores, o roteiro na minha opinião comete um erro, que não posso dizer aqui pra não dá spoiler mas, vamos dizer que ele abusa do direito da coincidência e também tem uma personagem que é um espécie de antagonista que é mal desenvolvida e colabora para um estereótipo feminino que não achei interessante dentro do contexto do filme, ela não é desenvolvida e não soma nada ao arco dos personagens, acaba ficando ali só como acessório de cena para criar uma falsa tensão com a protagonista.

Nos quesitos técnicos o filme acerta em tudo, figurino é maravilhoso e sem dúvida vai estar nas premiações, direção de arte impecável, fotografia muito assertiva, sabendo a hora de deixar o plano mais longo ou cortar e usando e abusando dos planos mais abertos para mostrar toda a beleza e cultura da África, mas a cereja do bolo fica para a trilha sonora, toda ela é de arrepiar, as músicas intercaladas na montagem com momentos de preparação, o silêncio nos momentos onde só o barulho do vento pode ser ouvido e nosso coração acelera pelo o que está por vir, é algo sensacional.

Além de tudo isso o filme tenta encaixar um romance que fica extremamente deslocado e só serve a um proposito, mas ainda bem que a diretora não optou por dar muita atenção a esse romance. Porque A Mulher Rei é na sua essência um filme de ação com uma camada de drama muito forte e bem feita, mas quando tenta encaixar o romance ou mesmo a parte política do Reino acaba não fazendo isso muito bem por não ter tempo para desenvolver essas nuances, mas isso não atrapalha nossa experiencia e é surreal poder ficar essas 2h e 14 minutos vivendo todo aquele universo.

E pra fechar, é sem dúvida um filme que vale a pena ser visto nos cinemas, por conta de toda sua grandiosidade, e peso histórico que ele tem nos tempos de hoje é algo louvável e vale todo o nosso apoio para que a indústria pare de apagar a história preta e apenas contar as histórias de cavaleiros europeus, precisamos de mais blockbusters como esses!

Vale muito o valor do ingresso! Super Indico!

 

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