Caro deputado André Cecilianio, o senhor acaba de me decepcionar. Quando o conheci, no seu gabinete de prefeito de Paracambi, levado pelo amigo comum Celso do Amaral, fiquei bem impressionado com aquele promissor jovem de 33 anos. Mas, agora, o senhor mancha essa impressão. Pisa na bola, comigo e com milhões de pessoas.
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O senhor e seus colegas Bebeto, Márcio Pacheco, Eurico Junior, Carlos Minc, Coronal Salema e Alexandre Knoploch merecem cartão vermelho com essa proposta inconsequente de trocar o nome do Estádio Mario Filho para Pelé. Anunciada no alto-falante do estádio, em dia de clássico, a manifestação da arquibancada certamente seria, ridicularizando o despautério, uma estrondosa e indignada vaia.
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O senhor como os senhores Carlos Minc, Eurico Junior, Alexandre Knoploch e Bebeto são parlamentares experientes. Como podem ter feito uma tabelinha tão fútil, chutar pela linha de fundo e, ainda por cima, evitar apreciação mais profunda arrogando o regime de urgência?
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Nos jargões do futebol, um deles desdenha os que jogam para a arquibancada, mas não creio que seja seu caso. Prefiro supor que tenha sido um gol contra. Daqueles, sabe, que o zagueiro tenta desviar a bola, porém, desastrado, coloca a bola no fundo da rede do seu próprio time.
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Infelizmente o senhor não viu, ao vivo, Pelé jogar. Quando ele marcou o milésimo gol o senhor tinha um ano de idade. Depois, 6 quando ele deixou o Santos e nove quando ele saiu do New York Cosmos e definitivamente abandonou o futebol. Mas é claro que é perene a história de Pelé.
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Como o senhor, somos fãs de Pelé, do rei do futebol, do atleta do século, do maior goleador do mundo em todos os tempos, por isso o admiramos até hoje. Mas trocar o nome Estádio Mário Filho para o nome de Edson Arantes do Nascimento ou Pelé não faz sentido. Pelé já está imortalizado no hall da fama do Maracanã. E, em Maceió, já existe o Estádio Rei Pelé.
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Como Pelé no gramado, o jornalista Mario Filho foi um craque, um grande craque no jornalismo esportivo. Sua ousadia, firmeza, coragem e luta incessante, estão eternamente impregnadas nas toneladas de aço e concreto do Maracanã. Como diria seu irmão Nelson Rodrigues, Mario Filho foi decisivo na construção do maior do mundo banindo o complexo de vira lata do povo brasileiro nos anos 50.
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Como um dom Quixote real, sem armadura, mas com a tinta e papel do seu Jornal dos Sports – primeiro jornal brasileiro dedicado apenas ao esporte – Mário Filho enfrentou o então deputado federal Carlos Lacerda, inimigo político do prefeito Marechal Ângelo Mendes de Moraes. Jogando duro, Lacerda criticava a obra pelo custo e localização. Mario Filho enfrentou o time do Lacerda e colocou a bola na cara do gol para o prefeito Mendes de Moraes que determinou a construção do maior estádio do mundo, fazendo um golaço.
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Se regimentalmente for possível, caro deputado Ceciliano peça a anulação do projeto que o senhor lidera. Recue essa bola murcha. No futebol, quando o armador da jogada percebe congestionamento na linha do ataque ele recua. Aí, a bola, redondinha, tratada com carinho nos pés e cabeças talentosas, novamente é levada ao ataque e até ao fundo da rede adversária, com a plateia satisfeita aplaudindo o gol de placa.
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Por favor, deputado Ceciliano, aja antes que o governador vete.
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