Relatores da ONU afirmam que uso político do discurso de ódio estimula ataques a tiro nos EUA

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Na sequência dos massacres no Texas e em Ohio, relatores da ONU alertaram nesta quarta-feira, dia 7, que a promoção do racismo e do discurso de ódio por figuras políticas estimula crimes como os do último final de semana. Na visão da especialista em direitos humanos Tendayi Achiume, esse tipo de manobra populista transforma lideranças políticas em cúmplices dos episódios de violência.

“Não pode haver dúvida de que o uso do discurso de ódio, da intolerância, do fanatismo e do racismo por políticos e líderes, para assegurar ou manter o apoio popular, torna esses indivíduos cúmplices da violência que se segue (a esses discursos)”, afirmou Tendayi, que é relatora das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada.

Também sobre os ataques nas cidades de El Paso, no Textas, e Dayton, em Ohio, o presidente do Grupo de Trabalho da ONU sobre Pessoas Afrodescendentes, Ahmed Reid, disse que “os Estados Unidos precisam reconhecer o impacto direto que o racismo, a xenofobia e a intolerância têm na promoção da violência e na criação de medo e instabilidade em comunidades de minorias étnicas e religiosas”.

“Perpetuar o racismo perpetua a violência”, enfatizou o especialista independente.

Um atentado terrorista no último sábado deixou 22 mortos na cidade texana de El Paso, localizada na fronteira dos EUA com o México. Treze horas mais tarde, no estado de Ohio, um homem atirou contra pessoas num bairro boêmio do município de Dayton, na madrugada de domingo. Nove morreram e outras 27 ficaram feridas.

Os dois relatores da ONU encorajaram os Estados Unidos a tratar os massacres e casos semelhantes como “uma questão de supremacia branca e de racismo”, tendo em vista o recente pronunciamento da Associação Americana de Psicologia, que confirma que as doenças mentais não explicam suficientemente a proliferação de ataques a tiro no país.

Os especialistas lembraram ainda que “as conexões entre os ataques a tiro e a ideologia extremista branca (já) são bem fundamentadas e que a celebração dessas atrocidades em redes sociais nacionalistas brancas é comum”.

“O uso crescente de uma linguagem sectária e tentativas de marginalizar minorias raciais, étnicas e religiosas no discurso político funcionaram como um chamado à ação, propiciando a violência, a intolerância e o fanatismo”, acrescentaram Reid e Tendayi.

Na visão dos especialistas, “os manifestos e publicações das redes sociais desses atiradores refletem um discurso político que desvaloriza e desumaniza as pessoas com base em sua raça, religião, status de imigração ou etnicidade”.

“Os atiradores em vários ataques em massa citaram essa retórica, junto com ideias expostas por movimentos nacionalistas brancos e movimentos populistas, como inspiração”, ressaltaram os relatores.

Reid e Tendayi disseram que “a recusa, diante de incidentes repetidos, em tomar ações imediatas e diretas para prevenir novos atos de terrorismo doméstico exacerba a cumplicidade desses políticos e líderes com a violência”.

“O uso (de questões) de raça para instilar medo, ganhar votos ou poder, ou mascarar injustiças, precisa acabar. Os que têm privilégio e poder têm uma responsabilidade acentuada para mitigar – não, encorajar – o racismo, a intolerância e o fanatismo. Comunidades e líderes em todos os Estados Unidos devem assumir seriamente as suas obrigações em prevenir novas tragédias e proteger os direitos humanos de todos, igualmente e sem condições”.

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