Quem elas pensam que são?

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Manuais não existem para ensinar como lidar com elas, embora muitos já tenham sugerido o passo a passo ao longo de séculos de luta para terem direitos iguais aos homens. Garantias essas no que se refere ao reconhecimento de terem a mesma capacidade para ocupar e desenvolver plenamente os mesmos cargos profissionais; realizarem as mesmas tarefas que o gênero oposto – e já provaram isso, apesar de por vezes serem superiores na realização da função e ainda receberem menos por isso.
E embora muitas tenham aderido ao padrão estético que dita como tem que ser seu corpo, como se o colocasse a serviço e agrado alheio, muitas romperam a barreira de um era patriarcal e não relevam essa história de manual – aqueles que orientam como manusear objetos e que sempre, ironicamente, tentaram implantar a fim de dizer o que e como elas são. Mas, qual é o seu papel na sociedade atual? Pode-se afirmar que a mulher de hoje tem uma maior autonomia, liberdade de expressão, bem como emancipou seu corpo, suas ideias e posicionamentos?
Segundo o sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, ela deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente na sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades, dando voz ativa a seu senso crítico. “Deixou-se de acreditar numa inferioridade natural, devido ao gênero, diante da figura masculina; embora as diferenças sexuais sempre foram valorizadas ao longo dos séculos pelos mais diferentes povos em todo o mundo. Mas acabam por acumular algumas funções domésticas assimiladas culturalmente como se fossem sua obrigação e não do homem – funções de dona de casa. Da mesma forma, infelizmente a questão da violência contra a mulher ainda é um dos problemas a serem superados, embora a ‘Lei Maria da Penha’ signifique um avanço na luta pela defesa de sua integridade”, destaca Paulo Silvino.
E com uma infinidade de predicados, de décadas de barreiras que ainda se rompem e muita luta por serem vistas não apenas como mãe ou donas de casa, o A VOZ DA CIDADE resolveu hoje, dia Internacional da Mulher, dar espaço para elas se expressarem; enaltecendo o que quiserem sobre elas mesmas; ainda que uma pequena fração do que são, afinal, cada uma detém um universo dentro de si.

Ser Mulher é…

Mariana Angelim, 25 anos, veterinária

“Ser guerreira. A mulher tem que correr atrás: estudar, trabalhar, se cuidar e ainda se dedicar aos filhos. Ainda existe o machismo, há um assédio, um desrespeito muito grande conosco. Alguns homens falam coisas horríveis, às vezes só por estarmos com uma roupa mais curta. No mercado de trabalho a gente já se impôs e hoje assumimos o papel que era do homem”

Denyse Singulani, empresária e presidente da Aciap-BM

“Um emaranhado de vivências e emoções. É ter sensibilidade para olhar o mundo. É ter opiniões próprias e valores que fazem com que você possa acreditar em si mesma e, consequentemente, ser muito mais segura de suas ações. Isso é fundamental para tomar decisões importantes na vida. Desempenhar todos os nossos papéis é um desafio enorme, mas traz muita satisfação e nos motiva a fazer cada vez mais. Gosto dessa nossa capacidade de ser, ao mesmo tempo, firme e sensível, focada e multitarefa. Enfim, estar preparada para os dias de hoje, que exigem pessoas mais flexíveis e abertas às transformações”

Marcela Oliveira, 19 anos, vendedora

“Um privilégio! É ótimo ser mulher, nós temos a nossas regalias: conseguimos emprego mais fácil, conseguimos sustentar as famílias e fazer várias coisas ao mesmo tempo. É preciso ter um olhar mais otimista, mas ainda há muita repressão, muito preconceito. Apesar disso, vamos superando”.

Regiane Pereira, 26 anos, vendedora

“Ser batalhadora. A gente é muito guerreira. A mulher evoluiu e hoje não é mais o ‘sexo frágil’. O que falta agora é só haver mais igualdade”.

Marlene Fernandes, mestre em Comunicação e Cultura, pedagoga e professora universitária

“Mais do que nunca, ser mulher é ser dona de si e do seu próprio discurso. Porque forças sociais conservadoras se organizam explicitamente, como nunca vi em meu tempo de vida, em instituições tendo têm como bandeira a nossa submissão total às suas normas e regras medievais”.

Janaína da Conceição Marcelino Melo, 32 anos, dona de casa

“Ser lutadora, guerreira. É poder exercer várias tarefas ao mesmo tempo: trabalhar, cuidar da casa, dos filhos, do marido e ainda ter tempo para si. É encontrar e superar as barreiras”.

Elidiane Cristina Barros, 24 anos, promotora de vendas

“É uma tarefa muito difícil. É trabalhar e ainda ter tempo para ser mãe, esposa. É conseguir conciliar tudo isso e viver sob intensa pressão. Mas mesmo assim ser mulher é ótimo”.

Vanessa Rosário de Carvalho, 20 anos, promotora de vendas

“É algo bem difícil, mas com o nosso jeitinho conseguimos nos sobressair, superar todas as dificuldades. Antigamente era bem pior, hoje somos muito mais independentes”.

Maria de Lurdes, 68 anos, costureira

“É difícil. É a violência, o machismo, os salários menores em comparação com os homens, algumas sofrem preconceito por causa da idade. Mas apesar de tudo isso não nos abate e vamos à luta”.

Fátima Lima, educadora e vice-prefeita de Barra Mansa

“É ser presente em todos os espaços, mesmo não sendo vista, reconhecida, nem respeitada. É ter a capacidade de resistência ao contemplar a morte das companheiras, a cada momento, por causa das violências. Resistir para não morrer! É ser empoderada, mesmo que digam que ela não pode. É ser capaz de dar a luz um filho somente por amor. É não desanimar cada vez que tem que provar sua competência para a sociedade e mostrar que sensibilidade não tem a ver com sexo frágil. Ser mulher é ser firme e flexível. É não se calar diante das injustiças, mas erguer a voz na luta pela igualdade de direitos. É se reinventar todos os dias; ora porque é afetada pelas vulnerabilidades, ora divando diante das belezas da vida! Ser mulher é conseguir desempenhar todos os papeis a ela propostos e não perder a condição de mulher. Ser mulher é ter aguçada a capacidade de conquistar, agradecer, de criar, de celebrar. Mulher é amor, é paixão; é vida. Ser mulher ser a imagem e semelhança de Deus”.

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