Qual o valor do abraço entre pai e filho diante do cenário de pandemia de coronavírus?

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PINHEIRAL

Franciele Aleixo

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Pandemia, morte, dor, choro, coronavírus, isolamento, comércio fechado, desemprego, filas, máscaras, álcool gel, economia estagnada. Essas são algumas das palavras que tomaram parte do cotidiano do brasileiro nos últimos tempos desde que a pandemia de Covid-19 se instalou mundialmente. Hoje, o A VOZ DA CIDADE, traz um acalento aos nossos leitores e conta a emocionante história de um abraço, após 40 dias de isolamento, entre pai e filho.

A família mora em Pinheiral. Diogo Baronto é técnico em enfermagem e trabalha em um pronto socorro de um grande hospital particular de Volta Redonda. A esposa, Thatiane Araújo, e o filho Arthur são do grupo de risco, o que causou reflexão e a decisão de Diogo se isolar da família. “No hospital não tem como saber se o paciente tem Covid ou não, e também como muitos casos são assintomáticos, não tem como eu ter certeza de que me infectei em algum momento. Minha família é do grupo de risco. Thati por ter problemas respiratórios e Arthur por uma deficiência sanguínea que restringe a vários remédios, inclusive o cloridrato de cloroquina, uma das formas testadas para o tratamento. Eu jamais me perdoaria se eu levasse essa doença pra dentro da minha casa e colocá-los em risco”, explica Diogo.

Além de toda essa pandemia, ele contraiu dengue neste período tão difícil. “Fiquei de atestado médico por dez dias por conta da dengue. Quando eu voltei, já tinham casos em Volta Redonda, e eu já sabia de casos onde eu trabalho. Essa decisão de ficar isolado, para mim, soou como uma obrigatoriedade de cuidado com a minha família. Ao mesmo tempo, uma decisão de esforço diário de resiliência. Confesso que tem sido difícil. Uns dias mais difíceis que os outros”, apontou.

Thatiane explica um pouco da rotina do isolamento da família. “Moramos no primeiro andar e meus pais moram no segundo. Diogo decidiu ficar sozinho. Arthur e eu ficamos com meus pais que são idosos e hipertensos, ou seja, também do grupo de risco. A gente se fala bastante, liga por vídeo. Eu quem levo as refeições e também tivemos um abraço. De máscaras, luvas, toalha no cabelo, choramos bastante, depois fui direto pro banho e coloquei todas as roupas para lavar”, relembra.

PLÁSTICO DO AMOR

Arthur tem cinco anos e tem a difícil missão de aprender e entender tudo o que está acontecendo ao seu redor. “Estamos tentando tornar tudo mais leve para ele não sentir tanto, quando contamos foi triste. Ele chorou um pouco e disse que ficaria com saudade do pai, mas entendia o porquê de não ficar junto dele. Ele é bem compreensivo, se a gente conversa e explica os motivos, ele absorve muito fácil. Faz cartas diárias para o pai, brincam da janela, manda lanches por um elevador improvisado. As vezes Diogo sobe a escada de máscara e eles conversam a distância. Nos primeiros dias que fez isso, Arthur saia correndo em direção ao pai pra mostrar algo ou contar e tínhamos  que afastá-los. Foi muito difícil e Diogo já dava sinais de muita tristeza”, relembra.

Da internet para o lar de Pinheiral, veio uma solução: o plástico do amor, como o próprio Arthur apelidou a situação. “Vimos um caso parecido na internet e resolvemos copiar. Além disso, no dia do abraço eu já estava em casa já 48 horas, tomei banho, coloquei a máscara, não tive contato direto com ele em nenhum momento. Depois de 40 dias eu tinha que fazer isso, já não aguentava mais, acho que nem ele, pois o sorriso e a satisfação que ele demonstrou foram emocionantes”, contou Diogo emocionado.

O profissional de saúde da linha de frente ainda destaca que a ideia já está sendo copiada. “Destaco a enfermagem, que nesse momento tão difícil, é capaz de abrir mão da própria família para seguir em sua profissão e zelar pelos pacientes e enfrentar essa pandemia. Um salve a todos os meus colegas guerreiros da área de saúde. E quem puder, fique em casa, cuide dos seus. Quero destacar que eu provavelmente não sou o único nessa situação. Através do post que a minha esposa fez, vi em vários comentários pessoas que também iriam aderir a ideia do plástico para enfim poder abraçar seus queridos”, cita.

Thatiane relembra momentos de fragilidade do marido antes do abraço. “Estávamos conversando e Diogo viu o plástico. Nos dias anteriores, ele já estava bem sensível e fragilizado. A distância já estava fazendo mal a ele. O poder de um abraço é sem tamanho, depois disso, ele se diz mais fortalecido para enfrentar o coronavírus e estar na linha de frente”, diz.

Sobre tudo isso a família de Pinheiral dá um recado importante a você, leitor. “É muito triste ver pessoas vivendo uma vida normal, com churrascos entre amigos nos finais de semana, festas de aniversário cheias de gente, viagens com famílias diferentes. O isolamento e as pessoas em casa virou férias, toda vez que vejo um post com situações assim sinto como se a minha família fosse desrespeitada. Estamos lutando contra algo invisível, desconhecido e de proporções sem tamanho, se cada um fizer a sua parte, vamos superar. Sigamos vivendo um dia de cada vez, respeitando as orientações e torcendo para que as pesquisas mostrem o melhor caminho para a solução disso tudo”, conclui Thatiane.

 

 

 

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