BARRA MANSA
ROZE MARTINS
O trabalho minucioso de diversos profissionais de Barra Mansa promete ser a “cereja do bolo” de muitas das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro que, no próximo domingo (2), segunda-feira (3) e terça-feira (4), vão desfilar na Marquês de Sapucaí, além de algumas de São Paulo, que também vão abrilhantar o Sambódromo do Anhembi. Isso se deve ao fato de que, há décadas, todo o brilho, as cores e o glamour do carnaval das duas principais capitais do país ficam sob a responsabilidade de uma empresa familiar de confecção, que vem atravessando gerações e produzindo os acessórios e adereços dessas agremiações.
A mão de obra das tradicionais bordadeiras de Barra Mansa, para o carnaval de 2025, teve início em maio do ano passado e, nessas duas últimas semanas, foi intensificada, conforme contam os empresários Sérgio Barra Mansa e Jéssica Calvano.
Tudo isso para que as escolas do Grupo Especial do Rio, como Portela, Unidos da Viradouro – campeã do Carnaval 2024 –, Imperatriz Leopoldinense, Unidos da Grande Rio, Paraíso do Tuiuti e Unidos de Vila Isabel, assim como as da Série Ouro: Unidos de Padre Miguel, Unidos de Niterói e São Clemente, além das paulistas Rosas de Ouro, Gaviões da Fiel e Dragões da Real, possam brigar pelo título de campeãs.
“O trabalho desenvolvido aqui, para essas grandes escolas, é todo feito à mão, embora, depois de pronto, muitos pensem que foi feito à máquina. Nós pegamos o risco que os carnavalescos nos enviam por fotos, ampliamos, bordamos e levamos para aprovação. Sendo aprovado, eles aplicam na fantasia e nos carros alegóricos. Temos uma equipe grande de bordadeiras e entendemos que é muito importante valorizar esse trabalho da indústria do carnaval, onde culturalmente tudo é artesanal, desde o barracão, a escultura e as ferragens até a parte do brilho, onde entra a mão de obra daqui, com os paetês que elas bordam para a montagem das roupas”, explicou o empresário.
Negócio de Família
Ao contar sobre a origem dos bordados na cidade, Sérgio Barra Mansa disse que tudo começou com sua tia, Jardas Dantas, que aprendeu a técnica no Chile e a introduziu entre familiares em Barra Mansa. Sua mãe, que era contadora, também começou a trabalhar na empresa de confecção e foi repassando os serviços para os filhos. “Minha mãe passou para mim e agora estou passando para meus filhos, netos e minha nora, que está à frente da empresa”, disse.
Sobre o fato de o carnaval representar um dos maiores eventos culturais e econômicos do país, ele fez questão de ressaltar o quanto isso ajuda muitas famílias na cidade. “É um complemento no salário do marido; as bordadeiras vão bordar, as filhas também vão bordar. Então ajuda muito, muito mesmo, entendeu?”, enfatizou o empresário. Ele acrescentou que, devido aos enredos afro, que este ano vão marcar presença na avenida, a empresa está se adaptando a uma tendência que não exige tanto brilho nas fantasias.
Conforme destaca a empresária Jéssica Calvano, por se tratar de um trabalho que vem se tornando escasso, a confecção está se disponibilizando a ensinar as técnicas para interessados, como forma de ampliar a mão de obra da empresa nos próximos anos. “Se tiver alguém querendo aprender, pode nos procurar, porque temos para ensinar”, disse.
Orgulho de ser a “cereja do bolo”
Questionado sobre o sentimento de ver o trabalho da sua equipe na avenida no dia dos desfiles, Sérgio disse ser muito gratificante, considerando que o que as bordadeiras fazem pode ser considerado a “cereja do bolo”, devido à importância das fantasias e adereços para abrilhantar a festa. Segundo ele, essas profissionais são a “peça principal” do evento.
“Sem elas, não tem como fazer isso. É motivo de orgulho, é maravilhoso mesmo ver que aquele brilho todo foi um trabalho que ficou praticamente o ano inteiro sendo feito à mão. Então a gente se sente bem, principalmente por elas”, disse. Ele acrescentou que as águias que vão compor o carro abre-alas da Portela, por exemplo, foram todas produzidas por elas. “A Portela está com um enredo muito bonito sobre Milton Nascimento. Promete ser um grande desfile, e as águias foram bordadas por elas”, concluiu.