Produção de videoclipe do rapper Jota Jr. é composta pelo Instituto Dagaz

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Nesta semana, o Instituto Dagaz de Volta Redonda acompanhou de perto a gravação de um videoclipe do rapper carioca Jota Jr.. o artista escolheu a Fazenda Santana do Turvo, no distrito de Amparo, em Barra Mansa, como cenário. O local histórico abriga o Ponto de Memória Afro da ONG, com exposição permanente do livro ‘A Cozinha dos Quilombos: Sabores, territórios e memórias’. A previsão, segundo o músico, é que o lançamento de ‘Desculpe por ser negro’ aconteça, não por acaso, em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, no canal Tudubom Records, no YouTube, mas para conhecer o novo disco, o público terá que esperar até o mês de janeiro de 2019.
Jr. contou que teve uma noção de como era a fazenda através das fotos que a Renata, coordenadora do Instituto Dagaz, mandou. “Mas quando chegamos lá, fomos de fato para 1846. Conseguimos sentir a energia do lugar e até comentei com a minha namorada, que também é minha produtora, que a gente sente que houve coisas tensas ali, mas como a gente tem a ideologia de levar coisas boas, recordar coisas bacanas, a gente sabe que quem está nos olhando está se sentindo representado e manda positividade para o andamento do nosso projeto”, declarou. O artista declarou ainda que com essa experiência sentiu o quanto está sendo aceito. Portanto, de acordo com ele, é uma grande responsabilidade que tem de carregar para o resto da vida. “Foi tudo muito além das expectativas”, completou.
Vale lembrar que, apesar de ser a primeira vez que o Instituto Dagaz, em Volta Redonda, participa de uma produção de Jota Jr., essa parceria começou em junho deste ano e quando a ONG exibiu o documentário ‘Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil’, no Condomínio Cultural, o rapper compôs a mesa de debate. E foi nessa ocasião que o músico soube do Ponto de Memória Afro e o fato de estar numa fazenda onde houve escravidão despertou nele o interesse para contextualizar com a letra de sua nova música. E, de acordo com ele, que antes de gravar só conheceu o lugar por fotos, foi surpreendente.
Jota Jr. utiliza lugares que conversam com a sua realidade ou com a mensagem que quer passar nas músicas como cenário, mas as projeções para ainda este ano vão muito além do Complexo da Penha, onde mora. Em dezembro, o músico e sua equipe vão fazer um tour pela Europa. Entre os planos está gravar um clipe em Portugal, disco e clipe na França e documentário na Holanda, mas ainda no Brasil, apresentará projeto em Campo Grande, sobre igualdade racial nas escolas, dará palestra para jovens em Porto Alegre, e será recebido também na Região dos Lagos.
PONTO DE MEMÓRIA
O Instituto Dagaz foi contemplado com o Prêmio Ponto de Memória em 2015 pelo Ministério da Cultura e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). E segundo a diretora executiva da ONG em Volta Redonda, Marinez Fernandes, essa parceria corrobora com o fundamento do Ponto de Memória Afro, uma vez que contribui para a preservação da história, assim como a obra que norteia o projeto do Dagaz, o livro “A Cozinha dos Quilombos”. Também por essa produção literária, o instituto conquistou o Prêmio de Cultura Afro-Fluminense, no mesmo ano.
A diretora executiva da ONG explicou que é gratificante e fortalecedor poder contribuir na produção desse projeto, pois é engajada no fomento da cultura afro e é uma forma de também divulgar esse espaço tão especial. “Tivemos as portas abertas pela Fazenda Santana do Turvo e nada mais justo do que perpetuar esse resgate histórico. Assim como o livro, esse videoclipe é um exemplo de reconhecimento, incentivo e fomento para a continuidade e sustentabilidade na perspectiva do Programa Ponto de Memória”, disse Marinez, comemorando mais essa parceria.
PONTO DE MEMÓRIA
A coordenadora Renata Ferreira participou da produção executiva do videoclipe e também destaca o significado que uniu o contexto do local com a temática abordada. Além disso, ela lembra que um dos objetivos do Ponto de Memória é cumprir a Lei 10.639, através do turismo pedagógico, que propõe o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana a crianças e jovens.
Renata relatou que sabe que para o Jota Jr. e sua equipe foi importante conseguir um lugar tão importante como cenário para gravar. “Mas para nós também é especial, pois temos um trabalho contínuo na luta e resistência para manter a cultura afro viva”, disse a coordenadora, lembrando que o Instituto Dagaz vem batalhando e acredita que iniciativas como essa, de forma cultural, além da educação, é que vão ajudar a fortalecer essa estrutura e disseminar os propósitos do Ponto de Memória.
DESCULPE POR SER NEGRO
Jota Jr., como é popularmente conhecido, sobretudo pelas redes sociais na internet, é João José Luiz Júnior, que apesar de estar há dez anos na música, ganhou visibilidade a partir de dezembro de 2017. Trabalhando como gari no Rio de Janeiro, origem do canal no YouTube “Fala tu Gari”, ele começou a fazer vídeos com comentários sobre o que ele observava no dia a dia, sobre comportamentos sociais, educação e machismo. E a música “Desculpe por ser negro”, de autoria própria, assim como o roteiro do videoclipe, promete ser polêmico, disse o rapper.
O rapper lembrou ainda que a ideia é fazer o que o pessoal mais odeia que o “mimimi”, como chamam. “Vai ser um choque de realidade, com uma abordagem bem lapidada. E foi um vídeo que eu fiz sobre as cotas raciais que me inspirou. E através desses vídeos eu sei que fez muita gente repensar. E a gente vai passar essa mensagem mais uma vez, de uma forma diferente, e vai ser bem polêmico”, relata o músico, que observou e comemorou o fato de todos os principais envolvidos no projeto serem negros. “A gente quebrou o padrão do que normalmente são as produtoras e os projetos. Está acontecendo tudo do jeito que tinha que ser mesmo, em um lugar bacana, com pessoas bacanas”, completou.
FICHA TÉCNICA DO VIDEOCLIPE “DESCULPE POR SER NEGRO”
Diretor: Luis Luix
Roteiro: Jota Jr.
Assistente de produção: Renato Jamessem
Produção executiva: Renata Ferreira (Instituto Dagaz)
Maquiagem: Vivian Regina
Cobertura fotográfica: Fran Kquinha
Personagens (escravos): Yves Mak e Miguel Guercy

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