Prefeito sofre tentativa de extorsão por advogado e professor, que são presos em flagrante

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ITATIAIA

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPERJ), realizou uma operação na manhã desta sexta-feira, em Itatiaia. Os agentes prenderam em flagrante o advogado Marcelo Tavares e o professor de Educação Física e presidente do Instituto Brasileiro de Transparência e Cooperação (IBTC) de Resende, José Luis de Carvalho Vargas. Eles estavam na Graal Itatiaia e foram conduzidos para a 99ª Delegacia de Polícia por crime de extorsão contra o prefeito Eduardo Guedes, o Dudu (MDB). Gravações que estão em poder das autoridades demonstram que o alvo principal das chantagens era o chefe do Executivo. A dupla solicitava altos valores em dinheiro, sob a ameaça de entrar com ações judiciais contra a prefeitura e o governante.

Prefeito Eduardo Guedes na porta da delegacia em Itatiaia – Carlos Henrique Moreira

Inicialmente, solicitaram R$ 80 mil para não seguir adiante com a possível ação judicial. Em seu depoimento na delegacia, o prefeito Eduardo Guedes disse que na quinta-feira, dia 25, foi procurado pelo vereador João Márcio Albino Silva (PRB) dizendo que ele havia sido também procurado por José Luiz e Marcelo Tavares. Os dois diziam que iriam entrar com uma ação contra o prefeito e a Prefeitura de Itatiaia, por contratos emergenciais de recolhimento de lixo urbano no município.

“Eles disseram que pra retirar a ação queriam R$ 80 mil. Procurei os advogados que orientaram e foram até o Ministério Público para relatar o ocorrido. O Ministério Público nos orientou como proceder”, conta o prefeito, citando que durante uma semana foram coletadas provas como ligação gravada, áudio de conversas via WhatsApp e mensagens, até que fosse marcado o encontro de sexta-feira, para a entrega do dinheiro da extorsão.

Dinheiro que seria entregue aos suspeitos – Reprodução

Segundo as investigações, os envolvidos entraram com a ação judicial inclusive noticiando a situação pelas redes sociais para reforçar a chantagem contra o prefeito e depois comunicaram o fato ao vereador João Márcio. “Depois da ação disseram que não era mais R$ 80 mil, subiram o pedido de propina para R$ 200 mil. E se não tivesse esse valor que aceitariam os R$ 80 mil mesmo”, comentou o vereador João Márcio, acompanhado do promotor do MP, Fabiano Rosemberg. O acerto seria de que o prefeito e o vereador entregassem R$ 40 mil, mas levaram apenas R$ 20 mil. O encontro assistido pelo Gaeco ocorreu por volta das 10 horas, foi no Restaurante do Caminhoneiro, na Graal Itatiaia. Isso porque, inicialmente, a reunião aconteceria numa padaria em Resende, mas José Luiz e Marcelo mudaram o ponto de encontro orientando que Eduardo Guedes fosse para a Graal Itatiaia.

Vereador João Márcio ajudou na ação – Carlos Henrique Moreira

FLAGRANTE

No local, o Gaeco apreendeu uma bolsa de plástico na cor vermelha, tendo no seu interior dois envelopes com logomarca da Prefeitura de Itatiaia. Em cada envelope havia R$ 10 mil. Era o dinheiro que a dupla acabara de receber no interior do restaurante. Por orientação do promotor Fabiano Rosemberg, as cédulas foram fotografadas. Toda a ação foi feita e orientada pelo Ministério Público. Na saída do restaurante os agentes abordaram José Luiz e Marcelo Tavares, que receberam voz de prisão em flagrante.

O Juiz de Direito, Gabriel Stagi Hossman, emitiu mandado de prisão preventiva contra eles. “Não concordo com esse tipo ação em querer extorquir para conseguir vantagens. Quando eu soube de tudo que aconteceu procurei os advogados e fomos até o Ministério Público buscar orientação. Tenho certeza do que estou fazendo e agindo dentro da legalidade com as minhas ações frente ao Executivo. Não fiz contrato emergencial. Se tivesse agido de forma errada poderia ter feito até o tapa-buraco que tanto a população precisa. Poderia até ter sanado o problema emergencial da cidade, mas estaria com um grande problema na Justiça. Mas, eu zelo pelo dinheiro público e a transparência dos meus atos”, disse o prefeito, Eduardo Guedes.

O advogado Marcelo Tavares chegando na delegacia – Carlos Henrique Moreira

Professor José Luis de Carvalho Vargas na delegacia – Carlos Henrique Moreira

TRANSPARÊNCIA

A prisão dos envolvidos gerou muita repercussão nas redes sociais nesta sexta-feira. Tanto o advogado Marcelo Tavares quanto o professor José Luiz, são assíduos em postagens de denúncias e críticas a administrações municipais, principalmente Resende e Itatiaia. José Luiz, por sua vez, é o atual presidente do Instituto Brasileiro da Transparência e Cooperação (IBTC). Acompanhando a prisão dos envolvidos, diante da 99ª DP, Eduardo Guedes criticou a postura dos envolvidos e questionou a falta de transparência e seriedade nas redes sociais. “São pessoas que dizem defender os interesses do povo, através das críticas e denúncias nas mídias sociais. Somos passíveis de erros, sim, mas não podemos concordar com algo ilícito. Defendo os interesses dos moradores de Itatiaia e jamais iria compactuar com essa extorsão. Não temos nada irregular nos contratos da prefeitura e lamento, que algumas pessoas insistam em usar as redes sociais para denegrir a imagem de quem trabalha diariamente pelo melhor na nossa cidade”, comentou o prefeito Eduardo Guedes, que na ocasião da prisão recebeu o apoio moral do prefeito de Resende, Diogo Balieiro (DEM) na 99ª DP.

Prefeito de Resende, Diogo Balieiro dando apoio ao colega de Itatiaia – Carlos Henrique Moreira

Para Balieiro, a ação do Gaeco é fundamental para resguardar os gestores que possam vir a sofrer coação de pessoas mal intencionadas. “Uma situação lamentável, mas essas pessoas maldosas, que vivem de chantagem, precisam entender que os novos gestores, a política mudou. Os novos prefeitos, cito como exemplo eu, o prefeito Dudu (Itatiaia), o prefeito Ailton Marques, de Porto Real, estamos na administração pública para fazer o certo. Não adianta querer chantagear, extorquir. Porque quando nós erramos, admitirmos e procuramos corrigir o nosso erro. Essas pessoas vivem de chantagem, de querer extorquir, de inventar situações. A política mudou e vivemos numa nova região, um novo país e, nós, gestores temos compromisso com a população”, disse Balieiro.

IBTC APOIA A INVESTIGAÇÃO

O Instituto Brasileiro da Transparência e Cooperação (IBTC) divulgou nota frisando o total apoio às operações que buscam transparência e prestar esclarecimentos sobre quaisquer acusações divulgadas na imprensa local. A nota diz: “Devemos buscar a prática do que é lícito. Também é nosso dever, como instituição, proteger e preservar as razões da sua existência, que na sua essência é o controle social e a transparência”, e mais, expressa o desejo de que a sociedade faça distinção entre o trabalho do instituto e o atual presidente, José Luis Carvalho Vargas, ressalta também que Marcelo Tavares não é membro do IBTC. “Gostaríamos que fosse entendida a separação entre a instituição (IBTC) e o Sr. José Luis de Carvalho Vargas. Igualmente, informamos que o senhor Marcelo Tavares não faz parte do quadro do Instituto. Dito isso, que fique a cargo das autoridades policiais e da Justiça brasileira fazerem toda denúncia, investigação e condenação por quaisquer atos ilegais supostamente praticados”, diz o documento assinado pelos membros do IBTC.

OAB ACOMPANHA O CASO

O presidente da 18º Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Resende), Samuel Carreiro, esteve na 99ª DP e comunicou que prestará assistência ao advogado Marcelo Tavares, preso pelo Ministério Público. “Neste momento a OAB não está vendo as questões relativas à acusação, até porque a gente desconhece que fatos são esses, só vi o mandado de prisão. Desde quando fui acionado pelo Ministério Público, o papel da Ordem é acompanhar as diligências de busca e apreensão nos endereços informados. Nosso papel é acompanhar e designar um defensor para o colega advogado, o que já foi feito, e definir onde ele ficará preso. Ele tem direito de aguardar numa sala separada e a delegacia não tem essa condição. Então se não for levado para Benfica (presídio na capital), vamos pleitear a sala do Comando dos Bombeiros (Itatiaia). Esse é o papel da Ordem no momento, não tenho como fazer qualquer juízo de valor sobre a denúncia pelo fato de desconhecê-la”, disse Samuel.

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