A quarta- -feira foi marcada pela tristeza e manifestos por uma cidade mais segura. Barra Mansa amanheceu de luto pela morte de um jovem universitário e pela tentativa de homicídio a outro. Eles foram vítimas de três criminosos na noite da última terça-feira, dia 31, logo após saírem do Centro Universitário de Barra Mansa, no Centro. A Polícia Civil investiga o caso e pede ajuda da população para encontrar os suspeitos. Representantes da instituição de ensino procuraram a prefeitura para cobrar mais segurança, não só no entorno do campus. Diante da tragédia, o prefeito Rodrigo Drable (PMDB) segue em comitiva com representantes da universidade e de vereadores para pedir ajuda ao governador Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido, para fortalecer e investir na segurança pública. Conforme divulgado na edição de ontem do jornal A VOZ DA CIDADE, Caio César Alves de Camargo, de 23 anos, que morreu antes de chegar à Santa Casa de Misericórdia, e Breno Pinheiro Caneda, de 19 anos, ambos estudantes do quarto período do curso de Psicologia do UBM, foram baleados após uma suposta tentativa de assalto próximo ao trevo entre as Ruas Dr. Mário Ramos e José Alves Caldeira, no Centro, por volta das 21h40min. Na ocasião, uma mulher também foi assaltada e os criminosos fugiram em direção a Rodovia Presidente Dutra, onde, após horas depois do crime, o veículo, um Gol ‘quadrado’, foi localizado depenado na Vila Principal. Em entrevista, o pai de Breno, que segue hospitalizado, Alexandre Caneda, presidente do Serviço de Obras Sociais (SOS), mesmo ainda em choque pelo ocorrido afirmou que o filho passa bem. Na tarde de ontem, a Santa Casa de Barra Mansa, por meio de sua assessoria, informou que Breno Caneda está internado na Unidade de Terapia Intensiva em pós-operatório. “No momento respira com ajuda de aparelhos e passa por cuidados clínicos intensivos. Quadro clínico geral do paciente é instável”, disse a instituição em nota.
SEM ACHISMOS
A equipe do A VOZ DA CIDADE conversou com o delegado da 90ª Delegacia de Polícia, onde o caso foi registrado, desde as primeiras horas da manhã até o fechamento desta edição. Questionado sobre uma suposta briga, ele foi enfático em dizer que não trabalha com suposições. “Nossa linha de investigação neste momento é de latrocínio. Tivemos aqui a jovem que foi assaltada depondo sobre o assunto. Não estamos trabalhando com o que as pessoas comentam em redes e grupos, mas contamos com a colaboração caso alguém tenha algum outro tipo de informação”, disse. O delegado ainda foi questionado se o carro usado pelos criminosos teria sido identificado como o mesmo usado por homens em um crime ocorrido no último mês no bairro Vila Elmira, o que chegou a ser mencionado, não confirmado, por policias na noite de quarta-feira. Ronaldo não confirmou o fato. Frisou que a polícia está a procura dos autores e qualquer informação a respeito do crime pode ser dada nos telefones 3328-4863 ou 3328.9576.
INSTITUIÇÃO CONSTERNADA
Na parte da manhã, por volta das 11h30min, o UBM reuniu a imprensa para falar sobre o assunto. A coletiva foi realizada pela diretora acadêmica, Sheila Filgueiras, Fabiano Miguel, diretor administrativo, Leandro Álvaro Chaves, reitor do UBM, e Fernando Vitorino, da Diretoria de Extensão e Educação Continuada. Os representantes da universidade foram questionados se os boatos de que teria ocorrido uma briga entre os alunos dentro do campus eram verídicos, tendo como resposta: “Houve um desentendimento sim na praça principal, onde nossos estudantes ficam concentrados nos intervalos. O local tem bastante movimentação e várias pessoas estavam lá na hora, inclusive fomos informados e fomos até lá validar”, contou Sheila. “Já conversamos com a mãe e com o estudante que se exaltou. Mas isso não tem nenhum tipo de ligação com o crime. Foi outra coisa”, completou. “Nossa instituição está totalmente consternada com o que aconteceu. Com essa onda de violência que atinge também o nosso interior. Com certeza, se pudéssemos, protegeríamos os nossos alunos até fora dos muros do nosso campus”, completou.
TIRO NA MÃO
O UBM hoje conta com mais de seis mil alunos. Não é a primeira vez que os estudantes são vítimas da violência saindo do Centro Universitário. Há pouco mais de um ano, no dia 27 de outubro do ano passado, outro estudante levou um tiro na mão, vítima de criminosos. Vinícius Demichei, na época com 19 anos, passava pela Rua Doutor José Alves Caldeira quando foi surpreendido por um assaltante, que tentou levar o seu celular. Diante da recusa, ele baleou o jovem. “Acontece muito assalto por aqui. Sempre orientamos os nossos universitários e pedimos que eles evitem andar com celulares expostos nas ruas e desçam em grupo. Fomos atendidos pela prefeitura, pedindo iluminação adequada na época; e policiamento, o que por um tempo durou”, comentou Sheila ontem na coletiva. “Hoje (ontem), estivemos na prefeitura e conversamos com o prefeito sobre as nossas angústias e preocupações e o mesmo ficou de nos ajudar. Estaremos indo com o mesmo e com vereadores até o Rio de Janeiro, para um encontro com o governador do estado, que precisa dar uma solução para o crescimento da violência, investindo em segurança”, comunicou a diretora acadêmica.
PREFEITO PEDE REFORÇO
O prefeito Rodrigo Drable realizou uma reunião ontem e reafirmou que será feito um pedido de reforço ao governador. “Queremos que a Polícia Militar intensifique suas atividades. Nossa Guarda Municipal está recebendo mais estrutura, como o Centro de Estratégia em Segurança Pública, com a Central de Monitoramento. Nos próximos dias estaremos recebendo nossas novas viaturas. Mas não podemos assumir o que é função da Polícia. Intensificaremos as atividades, mas não deixaremos de cobrar que o Estado faça o que é atribuição sua. Não podemos permitir que o terror que se vive na capital contamine nossa cidade.”, disse. A prefeitura informou ainda na reunião que a Ronda Escolar, formada por agentes da Guarda Municipal e Polícia Militar, será intensificada a partir da próxima semana, com a chegada de duas viaturas. O serviço é feito das 7 às 22 horas, atendendo as instituições de ensino do município. Segundo o Comandante da Guarda Municipal, Joel Valcir, a chegada das novas viaturas possibilitará uma prevenção maior de crimes nas instituições estudantis.
ILUMINAÇÃO PÚBLICA PRECÁRIA TAMBÉM CONTRIBUI PARA A FALTA DE SEGURANÇA
Diante do crime ocorrido na noite de quarta-feira, a equipe do A VOZ DA CIDADE recebeu várias denúncias de moradores criticando que a falta de segurança na cidade também se atribui a precariedade na iluminação pública. Uma moradora, que preferiu não se identificar, disse que a prefeitura não consegue fazer a manutenção dos 14 mil postes e quem sofre com o aumento da violência, assaltos e até assassinatos, é a população. “Uma cidade às escuras e com medo. Esta é avaliação de quem visita, passa ou reside em Barra Mansa. Os postes que compõem o sistema de iluminação pública da cidade estão deficitários, ultrapassados e uma grande parte, principalmente, em bairros estão apagados”, disse a denunciante. Outro que reclamou sobre a falta de iluminação foi o aposentado Sebastião de Oliveira Silva, morador do bairro Morada da Granja, na Região Leste. Para ele, a falta de iluminação aumenta a sensação de impunidade e cria uma onda de medo. “Não aguentamos mais essa escuridão. O povo está com medo. Já liguei para Susesp e para vários lugares e sempre falam que não tem recursos e nem lâmpadas. O povo está trancafiado em suas casas com medo de sair. As mulheres e as crianças não saem mais. O medo tomou conta da população”, reclamou. Barra Mansa possui 135 bairros espalhados por 500 quilômetros quadrados e mais de 180 mil habitantes. A prefeitura alegou em nota enviada à redação que não possui recursos e nem equipamentos para fazer a manutenção, troca de lâmpadas e modernização do sistema. A Susesp, que é responsável pela substituição de lâmpadas e manutenção dos postes, possui apenas um veículo para a operacionalizar o serviço. Questionada sobre o estado de conservação dos equipamentos, a prefeitura de Barra Mansa disse apenas que o caminhão passa por constante manutenção e passa maior parte na oficina.
HOMENAGEM E O ADEUS DA FAMÍLIA DE CAIO
O corpo do jovem Caio César Alves de Camargo foi enterrado ontem, por volta de 16h30min, no Cemitério Municipal, no Centro. Centenas de amigos e familiares do estudante prestaram uma homenagem durante o cortejo, mas preferiram não se manifestar sobre o assunto. O Centro Universitário de Barra Mansa chegou a informar ontem à imprensa que o velório seria realizado no Salão Nobre Professor Jayme Dantas, que estaria aguardando a remoção do corpo do Instituto Médico Legal de Três Poços, em Volta Redonda. Contudo, após a divulgação do assunto em nosso site e redes sociais, a família de Caio fez contato, dizendo que preferiu realizar a despedida do ente na capela do cemitério.
ATO DOS UNIVERSITÁRIOS
Às 18h30min de ontem, alunos do UBM se reuniram na praça da instituição, com o apoio da mesma, para um ato pedindo segurança e justiça pela morte do jovem e o atentado contra Breno. Os estudantes gritaram palavras de ordem e desceram até a Praça da Igreja Matriz de São Sebastião, todos vestidos de preto em luto pela morte do aluno.