Oscar Nora – Sassaricando – 9 de outubro de 2021

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Foto: https://pelethebest.blogspot.com

Em alta velocidade, o centroavante passou pelo primeiro marcador, driblou o segundo e o terceiro, entrou na área e se preparou para o chute fatal. Os torcedores se levantaram para comemorar, porém, o gol não aconteceu. O atacante, coitado, sozinho, tropeçou nas próprias pernas e se esparramou na grama.
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Em outra partida, um à direita, outro à esquerda e um em frente da bola, três jogadores se posicionam. Para desorientar o goleiro, os três partirão, quase ao mesmo tempo para a bola, mas apenas um deles dará o chute fatal. Mal treinado, o lance foi um fiasco. Os três passaram pela bola, um deixando para o outro e nenhum deles chutou para o gol.
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Diferente, estranho, esquisito, incomum, invulgar, o bizarro no futebol acontece muitas vezes e até esquecido. Um deles, porém, ganhou notoriedade quando ocorreu durante um evento de importância mundial, sendo personagem bizarro o rei desse esporte.
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Em 1970, quando se tornou tricampeão, o Brasil estreou demolidor na Copa do México, goleando a Tchecoslováquia por 4 a 1. Esteve perto de fechar um 5 a 1 quando Pelé, no círculo central recebeu a bola. Vendo o goleiro adiantado e o gol vazio, ele chutou por cobertura.
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Brasileiros, tchecos, mexicanos, torcedores no estádio Jalisco, de Guadalajara e o mundo inteiro que assistia ao jogo pela televisão, todos prenderam a respiração vendo a bola voar e Ivo Victor voltar desesperado para sua meta. Caprichosamente, ainda que raspando a baliza, a bola foi para fora.
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Na ocasião o saudoso Nelson Rodrigues escreveu com sua invejável inspiração poética: “foi um milagre não ter se consumado esse gol tão merecido. Aquele foi, sim, um momento de eternidade do futebol”.
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Também impressionado, o físico Carlos Eduardo Aguiar, com ajuda de um amigo, desenvolveu trabalhoso programa de computador para refletir, através dos números, o que aconteceu naquela tarde. Suas descobertas são interessantes.
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Pelé estava 5 metros atrás da linha divisória e 3 metros à direita do centro do gramado. Sua distância do gol adversário era de 60 metros. Uma grande distância, percorrida pela bola por três segundos, na velocidade de 105 quilômetros por hora. Para obter a sustentação da cobertura, Pelé chutou forte na base da bola que voou rodando para trás, obtendo o mesmo efeito físico da asa do avião. Infelizmente, a bola passou 20 centímetros ao lado do gol.
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Até hoje, depois de ter marcado mais de mil gols, depois de ter eletrizado e emocionado centenas de milhões de torcedores, depois de receber por aclamação unânime de seus súditos a coroa de rei do futebol, Pelé ainda detém o cetro do gol mais famoso do mundo que não foi feito.
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