Os limites entre humor e ofensa

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A repercussão do caso ocorrido no Oscar 2022, envolvendo os artistas Will Smith, sua esposa Jada Smith e Chris Rock, desperta uma necessária análise sobre os limites do humor. Na ocasião, enquanto apresentava a categoria de melhor documentário, o comediante Chris Rock disse que mal podia esperar para ver Jada estrelar uma sequência de “Até o Limite da Honra”. No filme de 1997, a atriz Demi Moore interpreta uma recruta que raspa os cabelos em razão de um treinamento militar. Para quem não sabe, Jada foi diagnosticada com alopecia areata em 2018, doença autoimune que provoca queda de cabelo. Em 2021, a atriz adotou o visual com os cabelos totalmente raspados.

Segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), cerca de 2% da população mundial sofre com essa condição. Diante disso, sabemos agora que a piada não afetou apenas Jada. São milhares de pessoas que sofrem com essa doença. É uma luta interna e, sobretudo, contra uma sociedade que estabelece padrões de beleza, tanto para mulheres, quanto para homens.

Percebendo o desagrado da esposa diante da piada, Will Smitt subiu ao palco e desferiu um tapa em Chris. Minutos depois, muito emocionado, Smitt recebeu o prêmio de melhor ator por sua performance no filme “King Richard: Criando Campeãs”. Chorando bastante, o ator disse: “Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica de Jada era demais para mim e reagi emocionalmente”.

Quando a brincadeira humilha e constrange o alvo da piada, não é mais brincadeira, mas sim desrespeito. E se não tem respeito, também não há motivo para rir. Afinal, tudo que ofende por si só não tem graça.

O humor tem a função de alegrar, de deixar a vida mais leve. Acredito que o humor cura, que fecha feridas, que transforma dor em riso. Cabe tudo no humor, menos narrativas ofensivas. Talvez o limite do humor realmente seja o bom senso, o respeito pelas dores e fragilidades do outro. Não há viés cômico na violação da intimidade de alguém.

Em contrapartida, resolver insatisfações por meio de ataques violentos não é um comportamento aceitável. Se todo mundo que se ofender, agir com violência, viveremos em um mundo sem controle. A violência nunca é o melhor caminho. É um exemplo ruim, um modelo de defesa a não ser seguido.

Nas redes sociais, Will Smith se desculpou. Na postagem, o ator disse que não há espaço para violência em um mundo de amor e bondade. Ele ainda completou que busca progredir sempre, pois é um trabalho em andamento.

Qual a lição desse episódio? É sempre possível aprender com os nossos erros e criar versões melhores de nós mesmos. Em um mundo diverso, em que as opiniões não são e nem precisam ser iguais, o respeito deve ser o ponto comum entre todos.

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