Operação Furna da Onça prende temporariamente dez deputados

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SUL FLUMINENSE

A Operação Furna da Onça foi deflagrada nesta quinta-feira pela Polícia Federal, com apoio do Ministério Público Federal (MPF) e Receita Federal para investigar a participação de deputados estaduais em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos e de mão de obra terceirizada, principalmente no Detran, que teria movimentado cerca de R$ 54 milhões. Foram emitidos 22 mandados de prisão, sendo 19 temporárias e três preventivas, e 47 de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), de forma unânime. Dos envolvidos da região estão os deputados André Corrêa (DEM), reeleito, de Valença, mas que morava no Rio de Janeiro, e Edson Albertassi (MDB), de Volta Redonda, licenciado da função e já preso em Bangu; além do deputado federal eleito Vinícius Farah (MDB), ex-presidente do Detran, de Três Rios; e o atual presidente do Detran, Leonardo Jacob, também de Três Rios.

Ao todo foram citados e tiveram mandado de prisão emitidos dez deputados estaduais, cinco deles reeleitos, investigados pelo uso da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) a serviço de interesses da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso, que pagava em troca o chamado “mensalinho” (propina mensal) durante seu segundo mandato (2011 a 2014) que chegava a R$ 900 mil. O loteamento de cargos acontecia desde o 2007, no início do governo Cabral, até os dias atuais.

De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. De forma ilícita, os parlamentares eram beneficiados ainda com o loteamento de cargos em diversos órgãos públicos do Estado, onde poderiam alocar mão de obra comissionada ou terceirizada. Além de Cabral, tinham função de comando na organização investigada os ex-presidentes da Alerj Jorge Picciani e Paulo Melo, presos antes na Operação Cadeia Velha e com novas ordens de prisão na operação de ontem. Segundo a PF, o esquema continuou mesmo após as operações do ano passado, quando Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi foram presos, em novembro do ano passado.

Os dez deputados estaduais presos foram: André Correa (DEM), Edson Albertassi (MDB, nova ordem de prisão), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (SD), Jorge Picciani (MDB, nova prisão), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinicius “Neskau” (PTB) e Paulo Melo (MDB, nova prisão). Além deles foram alvo da ação seis assessores da Alerj, três alvos do Detran, dois do Governo do Estado e um do grupo Facility/Prol.

As prisões temporárias foram emitidas, segundo o MPF, para interromper condutas como a ocultação da origem ilícita dos valores pagos aos deputados estaduais.

EXECUTIVO

Foi alvo da operação o secretário estadual de Governo, Affonso Monnerat, apontado como o canal entre Alerj e Palácio Guanabara – o governador, Luiz Fernando Pezão, não é investigado. Também estão presos o presidente do Detran, Leonardo Jacob, e seu antecessor, Vinícius Farah, em cujas gestões, são investigados pela distribuição de cargos públicos e de vagas de trabalho em empresas fornecedoras de mão de obra terceirizada, principalmente para o Detran – outro tipo de vantagem ilícita.

Os deputados repartiam os postos do Detran, segundo sua área de influência política, para indicarem pessoas a suas vagas de trabalho. Essas indicações viabilizavam a ingerência desses políticos sobre o Detran local, possibilitando desenvolverem seus próprios esquemas criminosos. Monnerat foi alvo de prisão por ter aparecido em conversas telefônicas e em planilhas encontradas na operação Cadeia Velha como intermediador de indicações políticas de mão de obra terceirizada.

QUANTO RECEBIA CADA DEPUTADO POR mês

  • André Correa (DEM): R$ 100 mil/mês
    • Edson Albertassi (MDB): R$ 80 mil/mês + R$ 1 milhão
    • Chiquinho da Mangueira (PSC): mais de R$ 3 milhões
    • Coronel Jairo (SD): R$ 50 mil/mês + prêmio
    • Jorge Picciani (MDB): R$ 400 mil/mês + prêmio
    • Luiz Martins (PDT): R$ 80 mil/mês + R$ 1,2 milhão
    • Marcelo Simão (PP): R$ 20 mil/mês
    • Marcos Abrahão (Avante): R$ 80 mil/mês + R$ 1,5 milhão
    • Marcus Vinicius “Neskau” (PTB): R$ 50 mil/mês
    • Paulo Melo (MDB): R$ 900 mil/mês + prêmio

Nome da operação

A operação conjunta do MPF, PF e Receita se chama “Furna da Onça” por se tratar do nome de uma sala com localização estratégica na Alerj usada por deputados para rápidas reuniões durante as sessões. Na Assembleia, há uma versão de que o nome “Furna (toca) da Onça” remete ao uso da sala para as discussões parlamentares mais influentes, nos instantes finais antes das votações em plenário.

O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS

André Corrêa disse que confia na Justiça do estado e do país. “Deus no controle sempre. Nunca envergonhei vocês. Quem não deve não teme. Lamento que no momento que 44 deputados assinam um compromisso com minha candidatura à Alerj isto aconteça. Repito que estou tranquilo. Quem me conhece sabe meu modo de agir. Continuarei de cabeça erguida. Não tenho sequer advogado”, disse em nota.

A assessoria de Edson Albertassi enviou uma nota dizendo que ele nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos e reafirma sua inocência. A assessoria de comunicação do deputado Marcus Vinícius Neskau (PTB) afirmou que o parlamentar recebeu a ordem de prisão temporária com muita estranheza, justo em um período de articulações políticas sobre a votação para a próxima composição da Presidência da Alerj – onde o deputado já havia se manifestado pelo voto a favor do deputado André Corrêa. “No entanto, o parlamentar segue seu compromisso com a população de dar transparência a seu mandato, colaborando com todas as investigações, prestando todos os esclarecimentos à Polícia Federal, Ministério Público e Justiça”, diz.

As demais assessorias dos deputados Chiquinho da Mangueira, Luiz Martins, Marcelo Simão, Coronel Jairo, Marcos Abrahão, Paulo Melo, não foram encontradas até o fechamento desta edição ou não responderam os questionamentos do jornal. Já assessoria do Governo do Estado em nota disse que o governador Luiz Fernando Pezão aceitou o pedido de exoneração do secretário de Governo, Affonso Monnerat, e determinou a exoneração dos demais servidores citados na operação hoje realizada, Carla Adriana Pereira, Shirley Aparecida Martins da Silva e o presidente do Detran, Leonardo Jacob. O governador reitera que não tem conhecimento dos fatos e tampouco do teor das acusações imputadas a esses servidores. O governador reafirma sua confiança na inocência do ex-secretário Affonso Monnerat. Já o Detran, a respeito de Leonardo Jacob, declarou que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento. “O sr. Vinicius Farah confia na Justiça e afirma que a situação será devidamente elucidada. Ele já se apresentou às autoridades em Brasília para os devidos esclarecimentos. Ele estava na cidade para agenda de trabalho”, declarou a defesa de Vinicius Farah. A defesa de Picciani afirmou que o Ministério Público tenta mais uma vez criar um fato sem provas e que há contradições no processo.

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