ONU 80 anos: entre discursos, conflitos e a memória de um repórter

Por Mônica Vieira
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Por Silas Avila Jr

Nova York – Setembro em Nova York tem um ritmo peculiar. As famosas sirenes se misturam a dezenas de línguas nas ruas, diferentes bandeiras tremulam na sede envidraçada da Organização das Nações Unidas, e ilha de Manhattan se transforma no epicentro da diplomacia mundial. São dias em que chefes de Estado, chanceleres e delegações de quase 200 países se cruzam pelos corredores da ONU tentando, ainda que por instantes, redesenhar o destino do planeta.

Este ano, porém, o clima é de aniversário. A ONU completa 80 anos sem ter muito o que comemorar. O mundo registra o maior número de conflitos desde 1945, com 61 guerras ativas em 36 países. Gaza e Ucrânia concentram parte dessa tragédia, que já ceifou mais de 100 mil vidas em 2024. A organização, que nasceu para impedir horrores como esses, parece cada vez mais impotente.

Sete anos cobrindo in loco a Assembleia Geral me ensinaram que a ONU é, ao mesmo tempo, palco e termômetro. Lembro de 2020, no aniversário de 75 anos: uma coletiva reduzida, apenas dez jornalistas diante do secretário-geral António Guterres. Eu estava lá representando A Voz da Cidade, e tive a honra de fazer uma pergunta a ele. Naquele momento, Guterres alertava para a urgência do multilateralismo. Cinco anos depois, suas palavras ressoam ainda mais duras: a ordem internacional que conhecemos pode não sobreviver.

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Credito: Valeria Bertoloti

Nos corredores, a tensão é visível. Diplomatas do Sul Global falam em “novo equilíbrio”, enquanto representantes ocidentais defendem velhas estruturas. O Conselho de Segurança, ainda preso ao desenho de 1945, não conseguiu se abrir às novas potências. A ampliação dos BRICS, que já superam o G7 em população e crescem em PIB, não se traduziu em cadeiras de poder.

E paira, acima de tudo, a sombra dos Estados Unidos. O governo Trump, em seu segundo mandato, ameaça cortar quase um bilhão de dólares do orçamento da ONU e até impedir delegações, como a palestina, de entrarem no país. Funcionários da organização temem que o discurso do presidente americano, esperado com apreensão nesta terça-feira, defenda sem disfarces o fim do multilateralismo.

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Credito: Valeria Bertoloti

No meio desse turbilhão, cabe ao Brasil inaugurar os discursos. Lula subirá ao púlpito da Assembleia defendendo a cooperação entre nações como saída possível para um mundo fragmentado. Para o Brasil, que construiu sua política externa apostando no multilateralismo, a ONU continua sendo um espaço vital de projeção e autonomia.

Aos 80 anos, a ONU respira por aparelhos. Mas, ao caminhar todos os dias pelas ruas fechadas de Nova York, entre grades, barreiras de segurança e jornalistas do mundo inteiro, ainda sinto que algo resiste. Talvez seja a teimosia da diplomacia, talvez o desejo humano de não repetir os erros da história. Por mais frágeis que sejam as Nações Unidas hoje, elas continuam sendo o último palco onde quase 200 países ainda se sentam frente a frente para falar, em vez de atirar.

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