É impossível ignorar os números alarmantes da violência contra mulheres no Brasil. Nos últimos 12 meses, mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão, muitas delas dentro de casa e na presença dos próprios filhos. A cada ano, repetimos estatísticas que expõem a insegurança e o sofrimento de tantas mulheres, mas precisamos ir além das datas simbólicas: a prevenção à violência deve ser um tema diário dentro dos lares, entre famílias, amigos e comunidades.
A neurociência nos ajuda a entender por que tantas mulheres permanecem presas a relações violentas, mesmo quando reconhecem os sinais. O cérebro humano, especialmente o das mães, que enfrentam sobrecarga emocional e múltiplas responsabilidades. O constante estresse prejudica a capacidade de tomada de decisões. Isso pode fazer a vítima não identificar a agressão corretamente e fazer ainda com que ela se sinta culpada e tenha dificuldades para reagir.
A violência raramente começa com um tapa. Ela se infiltra em palavras cortantes, no controle disfarçado de cuidado, na humilhação sutil do dia a dia. Muitas mães, sobrecarregadas e isoladas, absorvem essa dor em silêncio, sem perceber que seus filhos também estão sendo impactados. Estudos mostram que crianças expostas a ambientes violentos têm maior risco de desenvolver transtornos emocionais e dificuldades na regulação do estresse. Seus cérebros registram o medo como parte da rotina, criando um modelo de relacionamento que pode se repetir na vida adulta.
É por isso que falar sobre prevenção dentro de casa é tão essencial. O combate à violência contra a mulher não pode ser uma pauta exclusiva do Dia Internacional da Mulher ou de campanhas esporádicas. Deve estar presente nas conversas familiares, na educação dos filhos, na desconstrução de padrões que normalizam o abuso. Precisamos ensinar meninas e meninos desde cedo sobre respeito, autonomia e limites saudáveis, para que não cresçam acreditando que agressões emocionais, psicológicas ou físicas são parte natural dos relacionamentos.
Apesar da gravidade da situação, a busca por ajuda ainda é baixa. Muitas mulheres sofrem sozinhas por medo, vergonha ou falta de apoio. Mas há caminhos. Há redes de suporte, serviços de acolhimento e profissionais preparados para ajudar na reconstrução de uma vida livre da violência. Se você ou alguém próximo precisa de ajuda, não hesite em procurar apoio. Ligue 180 para orientações ou 190 em casos de emergência.
Que possamos lembrar que a luta contra a violência não pode se restringir a uma única data. Precisamos falar, educar e agir—todos os dias.
Vamos juntos!!
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.