Após um fim de semana marcado por pelo menos 234 mortes de palestinos, um comboio de alimentos foi alvo de disparos navais israelenses em Gaza nesta segunda-feira.
O diretor de assuntos da Agência da Organização das Nações Unida (ONU) para Refugiados Palestinos, Unrwa, Tom White, relatou que os ataques à equipe de ajuda que seguia para o norte da região não resultaram em feridos.
Poucos comboios conseguem passar
A tentativa da Unrwa de chegar ao norte sitiado surgiu quando o Programa Mundial de Alimentos, PMA, informou na sexta-feira passada que também não tinha conseguido chegar ao local pela terceira vez em uma semana.
O PMA conseguiu entregar apenas quatro comboios no mês de janeiro, o que representa cerca de 35 caminhões de alimentos, o suficiente para alimentar 130 mil pessoas.
Segundo o diretor nacional do PMA para a Palestina, Matthew Hollingworth, a quantidade não é “suficiente para evitar a fome”.
Ele descreveu como “desesperadamente difícil” a circulação de comboios de ajuda pelo enclave destruído após quase quatro meses de bombardeios ininterruptos israelenses.
O representante do PMA relatou a situação no centro de Gaza dizendo que existem “danos por toda parte, escombros, as estradas estão fechadas, mas também há combates ativos em diversas áreas da Faixa”.
Sobre a superlotação na província de Rafah, no sul, ele disse que mais de um 1,5 milhão de pessoas estão presas no local, “todas desesperadas e pedindo ajuda”.
Até o momento, o PMA alcançou cerca de 1,4 milhão de pessoas com suprimentos de emergência, alimentos enlatados, farinha de trigo e refeições quentes.
Segundo a entidade, cerca de 75% da população de Gaza, de 2,3 milhões de pessoas, foi deslocada.
Mais da metade são crianças que estão entre aqueles que enfrentam “escassez aguda de alimentos, água, abrigo e medicamentos”.
Carta aberta
Combates contínuos e intensos em torno de Khan Younis continuam levando milhares de pessoas para a cidade de Rafah, no sul do país, que já acolhe mais de metade da população de Gaza. A maioria vive em estruturas improvisadas, tendas ou ao ar livre.
No fim de semana, cerca de 800 funcionários governamentais de nações ocidentais publicaram uma carta aberta denunciando o apoio dos seus países à guerra, descrevendo-a como “uma das piores catástrofes humanas deste século”.
Acredita-se que os signatários sejam funcionários públicos e diplomatas de alto escalão dos Estados Unidos e de países europeus, incluindo França, Alemanha, Reino Unido e Suíça.
Tensões regionais
A carta surgiu em meio ao aumento das tensões regionais, com ataques dos Estados Unidos e do Reino Unido a milícias pró-iranianas no Iraque e na Síria na sexta-feira passada, depois de três militares americanos terem morrido num ataque a uma base americana na Jordânia.
Nesta segunda-feira, dia 5, o Conselho de Segurança realiza reunião, a pedido da Rússia, para discutir os ataques dos Estados Unidos lançados em 2 de fevereiro contra alvos ligados ao Irã no Iraque e na Síria.
Representantes da ONU fazem apelos contínuos para um cessar-fogo em Gaza e a libertação de todos os reféns e alertam para o risco de instabilidade regional devido aos acontecimentos no Mar Vermelho, onde os combatentes Houthis atacam navios com alegadas ligações a Israel.
Além disso, na fronteira de Israel com o Líbano, as trocas de tiros transfronteiriças entre o Hezbollah e o exército israelense também são motivo de preocupação.
* Luciano R. Pançardes – Editor-chefe