Museu Multitemático pode ser inaugurado ainda neste ano

2

BARRA MANSA

Dentro de três meses já deve estar em funcionamento o Museu Multitemático de Barra Mansa. Ele funcionará no bairro Santa Rosa, em um espaço construído pelo ex-vereador, o médico Francis Bullos. São milhares de peças, que Bullos não tem ideia do número exato e nem ousa “chutar”. Por ser uma infinidade de temas, tudo está catalogado em diversos livros que ele ainda não tinha tido curiosidade para contar. São itens de pinacoteca, porcelana, cristais, arte oriental, arte pré-colombiana, arte africana, arte sacra, gemologia (a parte de ciências naturais), moedas, filateria, antiguidade clássica, arte popular e africana, museu do som com mais de 800 títulos e uma biblioteca toda catalogada com aproximadamente 31 mil publicações.

“Não tem como tudo estar em exposição ao mesmo tempo, por isso será multitemático. Sempre trocaremos. No momento preciso de estagiários para colocar em funcionamento o museu”, contou. No local ainda haverá uma loja de conveniência, exigência do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), e também um café. O valor da entrada será de R$ 5, apenas para manutenção do local.

No Museu Multitemático, os visitantes poderão ver peças que não existem nem no Brasil. Segundo Francis Bullos, contribuir para que as pessoas conheçam as obras foi o principal objetivo da criação do local. “Acho de uma pobreza muito grande, um egoísmo, você que tem a ânsia de conhecer, afastar as pessoas dessa oportunidade. Desejo que as crianças que venham aqui tenham aquela vontade de ser geólogos, restauradores. Quero oferecer a visão de que existem muito mais profissões do que elas conhecem”, afirmou.

Na biblioteca que fica ao lado do museu e é toda de vidro, estão as mais de 30 mil obras, todas catalogadas. São livros das mais diversas áreas, além de um acervo com jornais antigos que Francis faz questão de mostrar. Ele tem o jornal que registrou o voo de Santos Drumond (Le Petit Journal), o da morte de Dom Pedro (Le Journal Illustré), exemplar do La Prensa, Le National, de diversas outras línguas, até mesmo árabe.

COMO TUDO COMEÇOU

Francis conta que foi por volta dos dez anos de idade que começou a se interessar em colecionar. As primeiras paixões foram moedas e selos. “Meu pai tinha uma loja de joias no Rio e, logo depois da Segunda Guerra Mundial chegou um alemão refugiado que queria vender. Para ajudar meu pai comprou a caixa de moedas antigas e me deu. De moedas hoje tenho 176 gavetas, sendo que dentro delas não sei quantas existem, mas são de várias épocas. Existem dez moedas no mundo de Brutus que matou César, a única imagem que existe dele, e tenho uma delas”, disse orgulhoso. De selos, brincou que se uma criança ficar catalogando os que possui e chegar na sua idade atual ainda estará contando.

Depois Francis começou a colecionar tapetes persas e paquistaneses. Após foi iniciada uma paixão por quadros no início da década de 80. Atualmente ele tem 725, de artistas como Tarsila do Amaral, Heitor dos Prazeres, Djanira, Gustavo Pelican, dentre muitos outros.

Ele lembra que quando seus amigos brincavam, ele gostava de ir a museus. Ia constantemente no Museu Nacional, que pegou fogo neste mês, e se lembra de estar sempre com um caderno anotando o que via. “Em 2005 estive em Paris, no Musée d’Orsay e vi uma senhora explicando para criança de cerca de um ano sobre um túmulo romano. Ela não estava entendendo nada, mas com certeza captou a importância que a mãe estava dando para a arte. Sempre observei nas minhas idas a museus de todo o mundo crianças, professores dando aulas em frente a peças magníficas. Quero ver esse museu de Barra Mansa lotado de crianças em busca do conhecimento pela arte e pela história”, disse emocionado.

E Francis Bullos não para por aí. Ele já manifestou também o desejo de fazer um Museu de Ciência e Tecnologia dentro de Barra Mansa. Ele já está até juntando material para isso.

“Foi como se alguém da minha família tivesse morrido”, disse o médico

Ao falar do Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 2 de setembro, que foi atingido por um incêndio de grandes proporções que só foi controlado no fim da madrugada do dia 3, Francis Bullos lembrou de sua infância, onde começou sua paixão por colecionar arte. O local tinha completado neste ano 200 anos e já foi residência de um rei e de dois imperadores.

“Estive lá em 2017 pela última vez e me emocionei muito quando ouvi a notícia do incêndio. Parecia que alguém da minha família tinha morrido. A perda é incomensurável”, afirmou.

Questionado sobre a segurança do museu que construiu, Francis disse que todos os museus do mundo foram adaptados. O nacional antes era um palácio, e essa adaptação é que gera problema. “Eu construí. Impedi que fosse construída uma pia dentro do museu. Não quero água, o banheiro é do lado de fora. A fiação elétrica do Museu Nacional era da década de 50, aqui ela é aparente. Minha construção de pedra e concreto. Não tem como pegar fogo. Já foi elaborado para não ter problema”, concluiu.

2 Comentários

Deixe um Comentário