RIO/VOLTA REDONDA
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Promotoria de Justiça da 36ª Vara Criminal da Capital, requereu nesta semana a condenação de todos os acusados pelo incêndio culposo que atingiu, na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, o Centro de Treinamento do Flamengo, o Ninho do Urubu. A tragédia deixou dez adolescentes mortos e outros três feridos. Entre as vítimas fatais, estava o jovem Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, de apenas 14 anos, morador de Volta Redonda.
Segundo o MPRJ, ficou comprovado durante a longa instrução criminal que o centro de treinamento operava de forma irregular, sem alvará de funcionamento e sem o certificado do Corpo de Bombeiros, mesmo após interdições e autuações. As falhas na manutenção dos aparelhos de ar-condicionado, além das estruturas dos contêineres com materiais inflamáveis e saídas de emergência inadequadas, contribuíram para o avanço do fogo e dificultaram a fuga dos jovens.
O Ministério Público sustenta que a tragédia poderia e deveria ter sido evitada, e que os acusados violaram seus deveres legais de cuidado, contribuindo diretamente para o resultado fatal. Por isso, pediu a condenação dos responsáveis como resposta penal justa e necessária diante da maior tragédia da história do Flamengo — uma tragédia que deixou cicatrizes profundas em famílias como a de Arthur Vinícius, que sonhava ser jogador profissional, mas teve a vida interrompida precocemente.
Um ano após a tragédia, em entrevista ao jornal A Voz da Cidade, Marília de Barros Silva, mãe de Arthur, relembrou a trajetória do filho no futebol e a dor de sua perda. Contou que o filho começou a demonstrar paixão pelo futebol aos três anos. A veia esportiva vinha de família: o pai do menino, que também jogou profissionalmente, foi assassinado quando Arthur tinha apenas seis anos. A partir dessa idade, a mãe o matriculou no futebol do Sesi, onde ele começou a se destacar. Botafoguense como o pai, o garoto não parou mais.
Aos 13 anos, Arthur foi aprovado em testes no Atlético Mineiro, Botafogo e Vasco, mas decidiu seguir para o Flamengo, onde disse ter se sentido bem acolhido. No dia em que levou o filho para a academia do clube, Marília relatou que chorou, assustada com a violência no Rio de Janeiro. “Uma pessoa que nos apresentou o local disse que, com 14 anos, ele poderia ficar no alojamento e estaria seguro, pois também estudaria lá dentro”, contou. Foi justamente nesse lugar, que parecia seguro, que o adolescente perdeu a vida.