SUL FLUMINENSE
Um dia de reflexão, choro e saudade. É assim que muitos encaram o Finados, lembrado nesta sexta-feira. Nos cemitérios da região a previsão era receber cerca de 60 mil pessoas. E o movimento nas cidades foi intenso. Em Barra Mansa os dois cemitérios existentes, o Municipal e o de São Francisco de Assis, receberam dez mil e três mil pessoas, respectivamente. Um dos que estavam visitando entes queridos era o aposentado Antônio Crispim, 71 anos. Ele disse que a lembrança não é apenas no Dia de Finados, mas por ser tradição muitos vão aos túmulos prestar homenagens. “Simbolicamente hoje foi o dia das almas e viemos no cemitério. É um dia que parece até que fica tudo mais triste, olha o tempo como está hoje”, disse, se referindo ao dia nublado.
Mas não são apenas os que vão em busca de render homenagens aos familiares e amigos que estiveram nos cemitérios no dia de hoje. Há os que vão para tentar acalentar os que estão vivos. A missionária Bruna Farat da Silva Mahamane Kakale, da Igreja Metodista Central de Barra Mansa, era uma delas. Bruna estava com um caixa de lenços de papel na mão e distribuía quando via emoção no rosto de quem estava visitando túmulos. “Vim para compartilhar um pouco do amor de Cristo nos corações compadecidos com a morte das pessoas. Saber que existe uma vida eterna, uma vida junto a Cristo, que não é só isso aqui na terra. Tem um lugar onde não haverá lágrimas, nem dor e tristeza”, disse, completando que quando teve oportunidade e abertura para tal falou isso para as pessoas. Para a missionária, não é preciso sair de sua cidade, estado ou país para fazer missão. Para alguns o chamado é esse, mas afirmou que a missão do cristão é compartilhar o evangelho em qualquer lugar.
Um grupo estava pela manhã no Cemitério Municipal de Barra Mansa cantando louvores. Eram integrantes do Coral Cume – Corais Unidos Metodistas. O regente Eliezer Martins, disse que tentaram levar alegria porque o brasileiro tem essa característica. “Mesmo sendo um dia de aparente tristeza trouxemos para cá a musicalidade da igreja quebrando talvez assim um momento que pode ser triste e transformando em uma coisa diferente, reconfortante”, destacou lembrando que além de membros da Igreja Metodista Central, a ação contou com a participação da Igreja Presbiteriana Viva.
VOLTA REDONDA
Mesmo com uma pequena redução em comparação aos anos anteriores, milhares de pessoas visitaram os cemitérios do município. Segundo a direção, pelo Cemitério Municipal Bom Jardim Isidório Ribeiro, no Retiro, o maior da região, passaram cerca de dez mil pessoas. E o Portal da Saudade, no Jardim Belvedere, recebeu mais de cinco mil visitantes. Como sempre, as saudações dos visitantes foram marcadas com flores, velas e orações. Quem tem costume de visitar os cemitérios no Dia de Finados, percebeu que este ano o número de pessoas nos locais teve uma leve queda. Muitos acreditam que essa redução de visitantes se deu pelo fato da data ter caído numa sexta-feira e a maioria das pessoas ter aproveitado para viajar.
A dona de casa Eunice dos Santos Santana, de 45 anos, além de visitar o jazigo da família, acompanhou a missa pela manhã. Disse que todos os anos tem o costume de visitar o tumulo da família e este ano mais que nunca ela não poderia deixar de ir, pois além de seus pais e tios, no local está sepultado também um filho dela. “No início do ano perdi um filho jovem e desde o sepultamento dele venho aqui uma vez por mês e hoje, data especial, não poderia deixar de vir. Quando a saudade aperta, a gente vem aqui e parece que ameniza”, contou a dona de casa, destacando a importância da oração para os entes queridos.
A comerciante Maria Amélia da Silveira, de 32 anos, é outra que esteve no Cemitério do Retiro. Disse que tem vários parentes sepultados no local e que desde pequena não deixa de visitar o túmulo no Dia de Finados. “Quando meus pais eram vivos eu vinha com eles. Depois que perdi meu pai vinha sempre com minha mãe e minha tinha. Há seis anos, venho com meu marido e minha filha. Espero que quando eu tiver aqui a minha filha venha também. Não adianta, a única certeza que temos é a morte. Não tem jeito”, declarou.
SAUDADE
O padre Alex Soares explicou o significado do dia e como o cristão deve se comportar diante da saudade dos que partiram. “O dia de comemoração de todos os falecidos já era celebrado no século IX num mosteiro na França. No século XIV, a celebração foi estendida a toda Igreja. Assim, continuamos hoje, proclamando a fé no Mistério Pascal de Cristo, a rezar por todos aqueles que se preparam para entrar na eterna felicidade”, contou o padre ressaltando que no Dia de Finados as pessoas têm vontade de chorar, mas que as lágrimas se transformem em lágrimas de conversão. “Que a vontade de lembrar dos mortos com flores, que a beleza do cosmos, que é obra de Deus, nos faça desejar estar um dia com o Criador, se temos vontade de acender velas para os falecidos, que esta luz seja um indicativo para um dia estarmos diante do Deus da Luz”, declarou.
VENDA DE FLORES
Se para muitos o Dia de Finados representa emoção, alguns veem na data uma oportunidade de venda. Trata-se dos comerciantes que vendem flores. Embora sejam unânimes em dizer que a cada ano as vendas caem cada vez mais, o lucro de ontem foi 100% maior do que em dia normal.
Jacir de Oliveira Paraviso tem uma floricultura e estava no Cemitério São Francisco de Assis, como todo ano. “No ano passado as vendas foram baixas, tive que jogar fora as flores que não vendi, mas nesse ano, o que comprei já vai acabar”, afirmou. Já para a proprietária de outra floricultura, que estava com parte da venda acontecendo no Centro e outra no Cemitério Municipal, Vanessa Ribeiro Macedo Delcourt, a cada ano as vendas nessa data caem, mas sempre conseguem superar os dias normais. As flores mais vendidas eram de vaso, como margarida e crisântemo, na faixa de R$ 10 a R$ 15.