VOLTA REDONDA
Cenário de diversos acidentes, muitos fatais, a Rodovia do Contorno, em Volta Redonda, tem causado polêmicas desde antes da sua inauguração em dezembro de 2017. A estrada liga a Via Dutra até a Rodovia Lúcio Meira (BR-393). O último acidente aconteceu no sábado, dia 28. Um bebê e três adultos morreram, após dois carros colidirem na altura do km 8. No mesmo acidente, outras duas pessoas, um jovem de 21 anos e um menino de oito, ficaram feridas. A criança foi socorrida em estado grave e levada para o Hospital São João Batista. Devido às lesões sofridas no acidente o menino precisou amputar uma das pernas.
O projeto da obra da Rodovia do Contorno, que custou mais de R$ 100 milhões e prometeu ‘desafogar o trânsito’, surgiu na década de 1970, mas a construção da rodovia só começou a ser realizada em 1995 e finalizada 22 anos depois. Durante esse tempo, a obra foi tema de diversas polêmicas que atrasaram a inauguração do local, algumas por suspeitas de irregularidades, outras por falta de verba e até por problemas ambientais.
Mesmo após ser inaugurada, os problemas e confusões não acabaram. Isso porque agora com a falta de manutenção do local, por indefinição de quem seria a responsabilidade do trecho, diversos acidentes são registrados ao longo da pista.
Thiago de Azevedo, de 35 anos, é sobrevivente de um dos muitos acidentes que já aconteceram na rodovia. “Em 2017, assim que a pista foi inaugurada, o meu carro deslizou pelo asfalto e capotou. Eu quase morri”, disse. Ele é um dos moradores dos condomínios às margens da rodovia e conta que em um ano já viu mais de 20 acidentes acontecerem. “É triste saber que as coisas continuam do mesmo jeito”, lamentou.
Sobre o acontecimento de sábado, o motorista Alexandre Farineli, de 31 anos, que passou pelo local no momento do acidente, conta que é difícil lidar com a situação. “Não tem como não se abalar. Eu chorei pensando no meu filho e na minha família e quando escuto sobre esse acidente, choro de novo. Não da mais para continuar assim, alguma providência precisa ser tomada”, falou.
Defeitos estruturais e falta de sinalização
A Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana de Volta Redonda realizou em 2023, um laudo técnico que apontou diversos defeitos estruturais na rodovia como afundamentos, fissuras, trincas e rachaduras, sem contar os problemas com a falta de sinalização do local.
De acordo com a prefeitura, por conta de trincas no pavimento, há um bombeamento de um fino material que compõe a base do pavimento em diversos trechos, o que cria uma camada de lama sob a pista, mesmo em dias sem chuva e colabora para que os acidentes aconteçam.
O morador e síndico de um dos condomínios que ficam próximos a Rodovia do Contorno, Felipe Leone, de 32 anos, conta que ajudou no resgate de um dos acidentes com vítima fatal que já ocorreram no local desde a inauguração da rodovia. “Uma vez eu estava pintando meu apartamento quando escutei o barulho de um acidente e desci para ver o que tinha acontecido. Dois carros tinham batido, em um deles tinham quatro adultos e uma criança e no outro carro tinha um homem, de 56 anos. O acidente tinha acabado de acontecer, na mesma hora eu ajudei como pude, mas infelizmente duas pessoas acabaram morrendo”, disse.
Felipe conta que em 2022 participou de diversas reuniões realizadas pela prefeitura para tentar solucionar os problemas na rodovia. “Eu tenho certeza que se esses problemas tivessem sido resolvidos antes, todos os acidentes que aconteceram em relação a má estrutura da pista teriam sido evitados”, falou.
Com a falta de sinalização na rodovia, os próprios moradores colocaram placas ao longo da pista tentando alertar aqueles que não conhecem sobre os perigos do trecho. “Essas placas são o retrato do desespero das pessoas”, afirma Thiago.
‘Chega de mortes’: manifestações e fechamento dos acessos à rodovia
Revoltados com a falta de soluções, no domingo, dia 29, os moradores das proximidades, realizaram uma manifestação pacífica solicitando que melhorias sejam realizadas no trecho. Ainda no domingo, a Prefeitura de Volta Redonda fechou os acessos à Rodovia do Contorno, em dois trechos dentro dos limites municipais e informou que tomou a decisão, mesmo sem ter jurisdição legal sobre a via, para evitar que novas tragédias aconteçam. O Poder Executivo reforçou que caso nenhuma solução seja apresentada pelos órgãos responsáveis, a rodovia pode ser completamente fechada.
Por enquanto, o tráfego no local segue restrito a veículos de moradores dos condomínios residenciais próximos a rodovia, ônibus e a carretas que ultrapassem as dimensões permitidas no âmbito urbano.
Quem são os responsáveis?
Questionada pelo A VOZ DA CIDADE, a prefeitura informou que a rodovia foi construída pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER) e trata-se de um prolongamento de rodovia federal (BR-393), então, por esse motivo, o Poder Público Municipal não tem jurisdição e nem amparo legal para fazer mais do que tem feito.
A prefeitura afirmou que durante todos esses anos, realizou inúmeras tentativas para promover o entendimento entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e o DER para que se defina de uma vez por todas quem é o responsável legal pela rodovia.
Na manhã desta segunda-feira, dia 30, o prefeito de Volta Redonda, Antonio Francisco Neto, se reuniu com vereadores e o deputado estadual eleito Munir Neto em seu gabinete para tratar sobre o assunto. Segundo o Poder Executivo, um ofício foi enviado para a 3ª Vara Federal de Volta Redonda afim de que ela marque uma audiência especial envolvendo DNIT e o DER para que eles decidam quem vai fazer as obras e a manutenção da Rodovia do Contorno. “Não temos prazo, agora estamos aguardando a justiça”, disse a nota enviada pelo órgão municipal.
O A VOZ DA CIDADE entrou em contato como DER, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Cidades (SEIC), que informou que nas próximas semanas serão colocadas as placas avisando da instalação dos redutores de velocidade, o que deve acontecer até a primeira quinzena de março, atendendo os critérios de prazo para a comunicação e a instalação de sinalização nas rodovias. O jornal também entrou em contato com o DNIT. Segundo o órgão, a rodovia não está sob administração da Autarquia.