NOVA IORQUE
Na Síria, minas terrestres e outros explosivos remanescentes de anos de conflito representam uma ameaça cada vez mais letal para as crianças.
Falando de Damasco nesta terça-feira, o coordenador de comunicação para emergências do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Ricardo Pires, disse que para esses menores, “cada passo que dão carrega o risco de uma tragédia inimaginável”.
“O futuro da Síria está sob risco e ainda mais com a situação de resíduos explosivos que não foram removidos e estão nos campos espalhados pelo país, nos vários governorados. Só em dezembro, mais de 100 crianças foram feridas ou mortas por explosivos. A situação é muito grave. As crianças realmente não têm como sair de casa sem pensar que algo ruim pode acontecer com elas, o que causa muito trauma, não só nelas, mas também nas famílias”, afirmou Pires.
Ele destacou que essa é a principal causa de vítimas infantis na Síria neste momento, assim como tem sido durante muitos anos. O representante do Unicef disse que a ameaça continuará existindo porque o solo continua infestado por mais de 300 mil minas espalhadas pelo país. O perigo afeta cerca de 5 milhões de crianças que vivem em áreas contaminadas por explosivos.
Nos últimos nove anos, pelo menos 422 mil incidentes envolvendo munições não detonadas foram relatados em 14 províncias da Síria, e metade das vítimas trágicas estimadas foram crianças.
Pires explicou que, mesmo quando os menores sobrevivem a essas explosões, “o drama não termina”. Eles sofrem lesões e deficiências que mudam completamente suas vidas e muitas vezes significam que não podem voltar à escola ou podem sofrer com a falta de cuidados de saúde adequados.
O coordenador de comunicação ressaltou que a ameaça só se intensificou desde a queda do regime do ex-presidente Bashar Al-Assad, em 8 de dezembro, quando muitas armas, incluindo explosivas, foram deixadas para trás, em Homs, mas também em Damasco. Além disso, as novas ondas de deslocamento agravaram o perigo. Segundo dados do Unicef, desde 27 de novembro, mais de 250 mil crianças foram forçadas a fugir de suas casas devido à escalada do conflito.
Pires sublinhou que, para os deslocados e aqueles que tentam retornar para casa, “o perigo de munições não detonadas é constante e inevitável”.
O representante do Unicef pediu maiores esforços humanitários de desminagem, educação sobre risco de minas e apoio aos sobreviventes. Ele realçou que, como parte das discussões sobre esforços de reconstrução apoiados pela comunidade internacional, “é fundamental que investimentos imediatos garantam que o solo esteja seguro e livre de explosivos”.
O porta-voz do Unicef, James Elder, ecoou esse apelo, enfatizando que, para financiar a desminagem, são necessários dezenas de milhões de dólares. Ele destacou que esse investimento salvaria milhares de vidas e ajudaria a Síria a recuperar seu antigo status de país de renda média.
Elder concluiu que esse “é um preço muito, muito baixo, que precisa ser pago”.
Pires adicionou que, além do risco das minas e explosivos, as crianças sírias sofrem com a falta de acesso à educação. Segundo ele, a situação é “catastrófica”, mesmo após a mudança política que ocorreu no dia 8 de dezembro. Mais de 7,5 milhões de crianças estão em necessidade urgente de ajuda humanitária, e 2 milhões delas estão fora das escolas.
*Luciano R. Pançardes – Editor-chefe