MEP ouve educadores em Volta Redonda sobre assassinato do jovem congolês no Rio

0

VOLTA REDONDA
Com os atos realizados ontem, dia 5, no Rio de Janeiro, em frente ao quiosque onde o jovem conglês Moïse Kabagambe foi brutalmente assassinado, o Movimento Pela Ética na Política (MEP) ouviu educadores e educadoras sobre a triste ocorrência. As atividades em solidariedade aos familiares e amigos da vítima, ocorreu também em outras cidades brasileiras.
A professora aposentada, Elvi Vasconcelos, residente em Volta Redonda, e que atuou como pedagoga entre 1982 a 1984, contratada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em Guiné – Bissau, falou sobre período pós-guerra de libertação nacional dos países lusófonos, comunidade formada pelos povos e nações que compartilham a língua e cultura portuguesas.
Elvi lembrou que de aldeia em aldeia encontrou um povo alegre e acolhedor. Disse que morou no Centro Máximo Cor, uma antiga missão Católica, onde 240 professores leigos africanos receberam orientações pedagógicas. No tempo em que trabalhou com outros colegas estrangeiros, nunca presenciou brigas ou abusos. “Povo carinhoso. Isso que aconteceu com Moïse é o racismo estrutural. É porque ele era negro. O africano não é agressivo, não levanta a voz, fala baixo. Isso precisa ser discutido porque o povo brasileiro precisa ter uma dimensão do que este povo tem para nos ensinar. Falam diferentes idiomas, são pessoas amigas. Eu acredito que o fato não foi só xenofobia; foi mesmo agressão por ele ser preto. É a cor da pele que o identificou. É preciso acabar com isso e levar esta luta à frente”, destacou indignada a pedagoga.
Como o povo brasileiro enxerga o continente africano
Já o professor Quintino Castro Tavares, na Universidade Federal Fluminense (UFF), Campus Aterrado, desde 2014, natural de Cabo Verde, e no Brasil desde 1996, analisa com profundidade como o povo brasileiro enxerga o continente africano. “Sobre a morte do Moïse, há uma questão central. Em primeiro lugar, claro, a brutalidade reflete as consequências do racismo no Brasil de forma extremada, como tem sido atualmente. Falta hoje um filtro social, em especial no Rio de Janeiro, dado os inúmeros casos. Problema de racismo passa da ideia de estrutura e já tem hoje efeito da destruição. Podemos dizer que há um projeto de genocídio da população negra, e isso acaba refletindo não só na população negra brasileira como também nos estrangeiros”, narrou o professor.
Destacou ainda que há um certo estigma de que os negros vindos da África são atrasados e violentos. “Tem um problema de racismo de fato, contudo, também, a xenofobia. Há uma predisposição de fazer uma avaliação genérica em relação ao continente africano. Pensa-se na raça negra como africanos, como povo atrasado, como povo que não merece direitos, etc. A avaliação genérica é perigosa”, lembrando que nem sempre a imigração se faz neste sentido, de africanos que estejam somente fugindo das guerras, de conflitos.
Forma generalizante
Ressaltou ainda o professor que o grande problema é quando se cataloga de forma generalizante, trazendo consequências outras, falta de reconhecimento de direitos, de empatia, de inclusão do outro, problema que precisa ser repensado. Para ele, não só a questão da tolerância em relação aos negros, mas questão central que é maneira como o brasileiro, via suas mídias principais, enxergam a África como um todo. “Assim, enquanto persistimos na ideia de uma África única, representada pela guerra e pela fome, avançaremos pouco. A África tem história e ânsias. Por fim, conheço vários brasileiros que estão na África, e nem por isso estão fugindo da guerra ou da fome. Estão bem por lá. O Papa Francisco tem chamado muito atenção para isso, a necessidade de abertura ao outro, ao diferente”, finalizou o professor Quirino.

Deixe um Comentário