Médico psiquiatra de Volta Redonda segue com campanha para ajudar quem precisa durante a pandemia do coronavírus

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 VOLTA REDONDA

Iniciativas pelo Brasil estão recebendo doações para as pessoas mais vulneráveis aos efeitos econômicos e de saúde durante o período de pandemia do coronavírus (Covid-19). As pessoas de baixa renda e trabalhadores informais já são os mais afetados pelos efeitos econômicos. Por isso, visando reduzir o sofrimento dos afetados, campanhas diversas vêm sendo realizadas de ponta a ponta do país. Em Volta Redonda, não é diferente. São grupos, empresas e muitas pessoas individuais com ações de solidariedade. Entre essas pessoas está o médico psiquiatra, Adriano Gannam, de 40 anos.

Há anos engajado em campanhas em prol das pessoas carentes, o psiquiatra de Volta Redonda, em plena pandemia do Covi-19 segue com suas ações de solidariedade. Contou que, recentemente, quando iniciou o isolamento social, medida extremamente necessária para a contenção da infecção pelo novo coronavírus, que como médico e cidadão apóia, imediatamente imaginou como ficariam as famílias mais necessitadas, que já passam por diversas dificuldades no dia a dia. “Diaristas, pedreiros, vendedores ambulantes, pessoas que vivem de “bicos”, trabalhadores autônomos, ou seja, a parcela mais vulnerável economicamente da população, que luta pelo pão nosso de cada dia. Eu não conseguia pensar em outra coisa, senão nas pessoas passando fome, porque não teriam de onde se sustentar. E eu precisava fazer alguma coisa”, informou que atualmente estão sendo beneficiadas com as doações famílias dos bairros Santa Cruz, Vale Verde, Verde Vale e Vila Brasília.

Foi quando o médico decidiu comprometer com a ajuda para cinco famílias e assim começou a pedir nas redes sociais que se alguém quisesse ajudar poderiam juntos fazer por mais pessoas. “E fui surpreendido, porque imediatamente uma série de pessoas começou a entrar em contato oferecendo ajuda e contribuindo com doações de cestas básicas e alimentos”, informou, ressaltando que ainda estava muito incomodado. “Eu sentia a necessidade de fazer mais e realmente eu podia fazer mais. Então, foi quando me comprometi a doar uma tonelada de alimentos para as pessoas carentes e continuou contando com a ajuda das outras pessoas”, explicou.

DOAÇÕES PARA PESSOAS E PROJETOS IDÔNEOS

O médico informou que todas as doações estão sendo encaminhadas para pessoas e projetos idôneos, de sua total confiança, porque nunca quis que este trabalho tivesse relação com denominações religiosas, política ou políticos. “Doamos a quem realmente precisa independente disso. E para isso é feita uma seleção rigorosa, porque muitos pedem, mas nem todos realmente precisam. Infelizmente temos que lidar com isso. E neste momento há muitas famílias em desespero e passando dificuldades. Muitas”, declarou o médico.

Lembrou ainda que desde o ano passado, teve a oportunidade de conhecer pessoas sensacionais e de confiança, que coordenam projetos anônimos em comunidades carentes. Uma delas é a Benizete Delgado, que fundou e coordena o Projeto Social Além da Dança. “Ela faz um trabalho espetacular com crianças carentes dos bairros Santo Agostinho e São Sebastião, oferecendo alimentação, aulas de alfabetização, reforço, dança, xadrez, caligrafia, leitura, música, tudo realizado através de voluntários dedicados a construírem um futuro melhor para elas, que recebem em troca amor e sorrisos”, relatou.

PEDIDOS DE QUEM ESTÁ PASSANDO FOME

O médico contou que tem recebido muitos pedidos de pessoas que já estão passando fome. “Semana passada, o entregador foi levar uma cesta para uma família numa comunidade e uma das crianças desmaiou. Desmaiou de fome. A fome sempre existiu e é a mais cruel e mortal das doenças. E com a nossa atual situação de isolamento social, muitas que até então conseguiam ter seu sustento não têm mais como trabalhar. E isso fez com que o número de pessoas necessitadas aumentasse muito, porque moramos num país pobre”, reconheceu Adriano, lembrando que se sente na obrigação de fazer a sua parte e espera estar honrando seu compromisso. “Até o presente momento, eu consegui atingir os 1000 quilos que prometeu, além de mais de 300 quilos que foram doados e que continuam chegando por pessoas que abraçaram a causa e entenderam que a fome não espera e que precisamos fazer nossa parte por estas pessoas”, completou.

Por estar trabalhando em horário comercial, o médico optou por fazer da sua clínica o ponto de coleta, que fica na Rua 13, 8, no bairro Conforto. Disse que as doações mal chegam e já são destinadas às famílias necessitadas, porque o número de famílias é muito grande. “Qualquer ajuda é bem vinda, porém por mais que as pessoas insistam, principalmente as que moram em outras cidades, é importante ressaltar que não recebo nenhuma contribuição financeira. Todas as doações devem ser feitas através de alimentos não perecíveis e itens de higiene.

QUANDO COMEÇOU AJUDAR AO PRÓXIMO

Disse o psiquiatra que seu interesse em ajudar ao próximo começou e criança. “Na verdade, se for me perguntar quando comecei essa corrente de ajuda ao próximo, eu me remeto aos meus 4 anos de idade, quando ganhei de natal um disco voador de brinquedo que andava pelo chão e acendia luzes. Certa vez, brincando com ele frente  ao prédio onde morava, passou um menino bem pobre, que ficou encantado com aquele brinquedo. Eu olhei para ele e perguntei se ele queria o brinquedo. Ele logicamente respondeu que sim e na mesma hora eu lhe dei meu disco voador”, falou,  frisando que sua mãe, ao vê-lo chegando em casa de mãos vazias, logicamente brigou com ele, mas ela já sabia que era assim. “Varias vezes escondido dela eu levava meus amigos mais pobres lá em casa, abria a geladeira e mandava eles escolherem o que quisessem. Acho que sou assim desde que me entendo por gente”, completou.

O médico lembrou ainda que depois veio a vida adulta com suas responsabilidades, quando se dedicou integralmente à medicina, trabalhando exaustivamente. “Em 2015 adoeci, contraí um câncer. Quando a ideia de morte é real e você toma ciência de que ela pode acontecer a qualquer hora, mesmo num jovem de 35 anos. Eu fui obrigado a parar e ressignificar minha vida”, contou. Disse ainda que, quando estava recuperado, fez uma viagem à África. “Decidi levar material escolar e de higiene bucal para as crianças. Na verdade, eu iria levar tudo por minha conta, anonimamente. mas pensou que não poderia deixar isso no anonimato”, concluiu.

 

 

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