RIO CLARO
Ela tem 17 anos e já foi vencedora de cinco torneiros leiteiros no estado do Rio de Janeiro, competições dominadas por homens. Ana Júlia Duque Ribeiro, de Rio Claro, conquistou as premiações competindo por conta própria. A mais recebe aconteceu no 35º Torneiro Leiteiro Interfazendas de Barra Mansa, realizado pelo Sindicato Rural, em parceria com a prefeitura e a Emater-Rio, cuja premiação aconteceu em novembro de 2017. Ela foi campeã com a vaca Fortaleza.
Ana Júlia contou que seu interesse inicial não eram as vacas. “Eu fazia hipismo e passava boa parte do tempo com os cavalos. Mas, quando eu tinha 12 anos, meu pai me pediu para ajudar no curral, com as vacas, e eu fui pegando gosto. Logo comecei a ir todos os dias. Estudava de manhã e ia para o curral de tarde. Descobri um talento e, mais do que isso, uma paixão”, revelou a filha de fazendeiros.
O pai de Ana Júlia, Marco Aurélio Ribeiro, contou que decidiu deixar a jovem competir sozinha. “Ela sempre mostrou interesse muito grande em aprender e realmente leva jeito. Então eu deixei que ela assumisse a frente das competições. Ela faz tudo sozinha e eu só fico ao lado para supervisionar, tanto nos torneios quanto na fazenda”, explicou o pai.
E a primeira premiação veio em 2014, quando participou do Torneiro Leiteiro do distrito de Antônio Rocha. Depois venceu duas vezes seguidas em competições na cidade de Itaguaí, e uma no distrito de Amparo, em Barra Mansa. Ana Júlia diz que o título de grande campeã do Interfazendas recebido em 2017 é o que mais dá orgulho. “O Interfazendas é uma competição de profundo aprendizado. Temos a oportunidade de conhecer colegas produtores, trocar experiências e crescer por meio desse intercâmbio. Sou muito grata por ter participado, pelo apoio que recebi dos meus pais e de toda a organização. Meu pai me supervisionou no dia da competição, mas foram semanas de preparo sozinha no curral. Então, essa vitória é mais importante porque ela foi resultado do meu esforço, de trabalhar em prol de um sonho e de não ter parado por nada até conseguir”, afirmou Ana Júlia.
O próximo passo da jovem é cursar Medicina Veterinária. Ela contou que tem certeza que quer trabalhar com animais de fazenda e pecuária leiteria. “Quero ser veterinária para fazer o melhor que eu posso, tanto para os animais quanto para o crescimento da nossa propriedade”, revelou a jovem, que já fez também um curso de inseminação artificial e é a responsável pelo procedimento na fazenda da família.
MULHERES NO MEIO RURAL
Ana Júlia confessa que teve que aprender a lidar com o pensamento de que meninas e mulheres não combinam com meio rural. Lembrou que no início tinha um pouco de vergonha em contar para os outros que trabalhava no curral, pois sempre ouvia que não era serviço para mulher. E foi aos poucos que aprendeu não ser vergonha alguma, além do fato de não existir trabalho de mulher, apenas amar o que faz. “Eu tenho um orgulho imenso da vida no campo. É raro ver meninas fazendo o que eu faço, mas, quando tem, a gente sabe que a pessoa está fazendo por amor. Porque, para mim, o que fazemos por obrigação nunca sai tão perfeito quanto o que a gente faz por gostar mesmo”, completou.
Para Adilson Delgado Rezende, presidente do Sindicato Rural de Barra Mansa e secretário municipal de Desenvolvimento Rural, a jovem é um exemplo de renovação. “Acompanho de perto a dedicação e o crescimento da Ana Júlia. O desenvolvimento dela só reforça a importância de se investir no processo de sucessão família. A atividade rural é, por tradição, um negócio de família e ver a Ana Júlia assumindo responsabilidades e seguindo os passos do pai com a pecuária leiteira nos faz acreditar em um ótimo futuro para o setor”, comemorou Adilson.