Ipea: total de desempregados em logo prazo sobe 42,4%

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SUL FLUMINENSE

O total de desempregados de longo prazo cresceu 42,4% em quatro anos, segundo aponta a análise de Mercado de Trabalho, divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo que toma como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE, revela que 3,3 milhões de brasileiros estão sem emprego há mais de dois anos. Essa parcela de desempregados subiu de 17,4% no primeiro trimestre de 2015 para 24,8% no mesmo período deste ano.

Uma situação enfrentada de perto por milhares de trabalhadores de municípios do Sul Fluminense. Em Resende, Carlos Alberto Macedo, 39, tenta oportunidades em escritórios de Recursos Humanos e postos do Sistema Nacional de Emprego para voltar a atuar na área de contabilidade. “Eu integrava o departamento de uma empresa, tendo seis anos de carteira assinada. Desde março de 2017 tento um emprego a altura do que preciso para manter minha família e o mercado não oferece esta oportunidade. Tenho feito alguns serviços paralelos, como orientação para imposto de renda, essas coisas”, afirma.

Moradora de Volta Redonda, a jovem Sandra Maria Feliciano, 23, já trabalhou com carteira assinada em lojas e empresas da região. Atualmente no ramo do comércio ambulante, a profissional de publicidade e propaganda. “São 20 meses fora do mercado formal. Tenho investido em revenda de roupas e bijuterias. Deixei currículos em diversos locais, fiz entrevistas, mas sempre parece faltar algo. A situação financeira do país não permite projetar algo grande e vou batalhando do meu jeito”, comenta.

DISTINÇÃO DE GÊNERO

E segundo dados do primeiro trimestre deste ano, o desemprego de longo prazo atinge mais fortemente as mulheres. Entre as desocupadas, 28,8% estão nesta condição há pelo menos dois anos, contra 20,3% dos homens desempregados na mesma situação – embora o crescimento tenha sido maior entre o público masculino. Na análise por faixa etária, 27,3% dos desocupados com mais de 40 anos insistem sem sucesso na busca por trabalho há pelo menos dois anos, mas o crescimento do desemprego de longo prazo é maior entre os jovens. “Meus pais pedem pra eu seguir estudando, fazendo cursos, capacitação. Eu quero trabalhar novamente, já tive emprego e sei como é bom ter o próprio rendimento. De fato, dificulta conciliar estudo e serviço, mas quero voltar a trabalhar na indústria. Fui operador de empilhadeira em Porto Real e saí há quase dois anos”, comenta o universitário Rodolfo Rodrigues, de Itatiaia.

RENDA FAMILIAR

Além do aumento no tempo de permanência no desemprego, o estudo mostra que os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho também vêm impactando a renda domiciliar. Em que pese algum ganho real, os dados da Pnad mostram que, no 1º trimestre de 2019, 22,7% dos domicílios brasileiros não possuíam nenhum tipo de renda proveniente do trabalho, e que os domicílios de renda mais baixa foram os que apresentaram menores ganhos salariais. A análise mostra, ainda, que a renda dos domicílios mais ricos é 30 vezes maior que a dos domicílios mais pobres.

A seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do Ipea também analisa os contratos de trabalho intermitente (temporário e esporádico) e de jornada parcial (até 30 horas semanais), que totalizam 15,5% do total de empregos com carteira assinada gerados a partir da entrada em vigor da reforma trabalhista. Das 507.140 novas vagas de trabalho abertas de novembro de 2017 a abril de 2019, 58.630 foram para trabalho intermitente e 19.765 para parcial, geralmente nos setores de serviços e comércio. Enquanto a maioria das vagas intermitentes foi destinada aos homens (63,6%), as mulheres formam a maior parcela das ocupações parciais (60,7%). A maioria dessas vagas está concentrada nas empresas de pequeno porte, com até 19 funcionários.

O estudo conclui que o mercado de trabalho brasileiro, portanto, segue bastante deteriorado, com altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados. Para o restante do ano, porém, a expectativa é de manutenção de uma recuperação gradual da ocupação e da renda média. Uma queda mais expressiva da taxa de desemprego e da desigualdade é esperada para 2020, a partir da retomada mais forte do nível de atividade, condicionada à aprovação da reforma previdenciária no 2º semestre de 2019.

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