Inventário na Arie Floresta da Cicuta mapeia espécies de aves e mamíferos

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A Floresta da Cicuta é uma Unidade de Conservação (UC) Federal da categoria Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie). Com 131 hectares (1,31 km2), a UC está localizada entre Barra Mansa (85%) e Volta Redonda (15%). Sua criação se deu em 9 de janeiro de 1985, através do Decreto 90.792, com o objetivo de proteger um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do tipo Floresta Estacional Semidecidual, vegetação que cobria todo o vale do Rio Paraíba do Sul, e todas as espécies animais que na Floresta da Cicuta encontram refúgio. Na sequência, foi aprovada a Lei Municipal de Volta Redonda nº 2016/1985, que criou o “Banco de Preservação Genética da Natureza de Volta Redonda”, destinado à perpetuação e fomento do reflorestamento do município com espécies naturais da região.

A Arie Floresta da Cicuta é gerenciada e administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é uma autarquia federal criado em 28 de agosto de 2007, pela Lei 11.516. Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), cabe ao ICMBio proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental por meio da gestão de Unidades de Conservação Federais, da promoção do desenvolvimento socioambiental das comunidades tradicionais naquelas consideradas de uso sustentável, da pesquisa e gestão do conhecimento, da educação ambiental e do fomento ao manejo ecológico. A categoria Arie é, em geral, de pequena extensão e sem ocupação humana, abrigando espécies raras ou características naturais extraordinárias que merecem ser preservadas.

A Arie Floresta da Cicuta exerce importante papel na proteção ao Rio Brandão e ao Córrego Água Fria, uma vez que a vegetação marginal atua como filtro natural das águas desses corpos hídricos, sendo o Brandão um dos principais afluentes da margem direita do Rio Paraíba do Sul e um dos rios que ao longo dos anos vêm sofrendo gravemente os efeitos da crise hídrica e também da poluição provocada pelo homem. A proteção da floresta envolve toda a sociedade e universidades como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Universidade de São Paulo (USP) que desenvolvem pesquisas científicas na região. Além disso, diversos projetos e atividades de educação ambiental, de pesquisa e de proteção (fiscalização) são desenvolvidos pela gestão local do ICMBio.

E é sobre os trabalhos de pesquisas científicas, não apenas pelas universidades, mas também pelos próprios agentes do ICMBio, que o engenheiro florestal, zoólogo e analista ambiental do ICMBio, Sandro Leonardo Alves, contou um pouco sobre os trabalhos realizados na Arie Floresta da Cicuta. “Desde o início de 2017, com o apoio de voluntários do Programa de Voluntariado do ICMBio, que são em torno de 10 voluntários constituídos por profissionais recém-formados da UFRRJ (Seropédica) e estudantes da área de Ciências Biológicas de instituições de ensino superior da região, principalmente do Centro Universitário de Barra Mansa (UBM), Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB/Ferp) e Cederj Polo Volta Redonda, que duas importantes pesquisas científicas estão sendo desenvolvidas na Arie Floresta da Cicuta com o objetivo de realizar o inventário (levantamento) das espécies de aves e mamíferos que ocorrem e que são protegidas por essa Unidade de Conservação Federal. Até o momento já foram identificadas 229 espécies de aves e cerca de 20 espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte”, contou o analista ambiental revelando algumas dessas espécies que já estão devidamente catalogadas e registras. “Dentre as espécies de mamíferos registradas está o cachorro-do-mato, o gato-do-mato-pequeno, a irara, o mão-de-pelada, o tatú-galinha, a paca, o tamanduá-mirim, a preguiça-comum, a lontra, a capivara e o tapiti” enumerou Sandro Alves.

O analista ambiental revelou, ainda, que no local existem espécies oficialmente ameaçadas de extinção seja a nível estadual, nacional e/ou internacional. “Registradas até o momento temos na flora (vegetação): gameleira-grande (Ficus cyclophylla), jequitibá-rosa (Cariniana legalis), a canela-preta (Urbanodendron verrucosum), a merimdiba (Terminalia januariensis), o catiguá (Trichilia sp.) e a bainha-de-espada (Sorocea guilleminiana); e na fauna (animais): o azulão (Cyanoloxia brissonii), o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a lontra (Lontra longicaudis), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) e a paca (Cuniculus paca)” citou Sandro.

Aproveitando, o analista ambiental comentou sobre Projeto de Lei n° 9139/2017, de autoria do deputado federal Deley que está tramitando no Congresso Nacional, sobre a mudança de categoria da floresta. “Esse projeto propõe a alteração de categoria da Floresta da Cicuta de Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) para Refúgio de Vida Silvestre (Revis) e também propõe a alteração dos limites dessa Unidade de Conservação para ampliá-la do tamanho atual de 131 hectares para 695 hectares, ou seja, mais de cinco vezes o tamanho atual”, que assim como os outros membros do ICMBio aguardam ansiosamente por sua aprovação.

Ele contou ainda que a campanha em defesa do projeto conta com a adesão de outras 11 instituições. “Além da Comissão Ambiental Sul, estão apoiando o Projeto de Lei a Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, a Ordem dos Advogados do Brasil – Volta Redonda (OAB-VR), a Associação Ecológica Vale do Paraíba, o Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda, a Associação Verde Que Salva, o Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade Federal Fluminense de Volta Redonda, dentre outros”, revelou. Assinaturas em um abaixo-assinado estão sendo coletadas como forma de apoio ao Projeto de Lei.

A EQUIPE DA ARIE

A equipe que atua na Arie Floresta da Cicuta, além do Analista Ambiental do ICMBio, gestor da UC, Sandro Alves, conta com os serviços da equipe de apoio formada por Márcia Porto, Gláucia Viana, Bianca Santos e Vanda Alves, e dos voluntários Christian Machado, Fúlvia Nelis, Gabriel Tavares, Hugo Leonardo, Jeferson Miranda, Pâmella Ferreira, Paulo Furtado, Samuel Rocha e Suênia Campos.

Falando em nome dos voluntários, o jovem Jeferson de Paula Miranda, de 26 anos, que é Biólogo formado pelo Centro Universitário de Barra Mansa (UBM) e estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Cederj Polo Volta Redonda, contou ao A VOZ DA CIDADE sobre a oportunidade de participar como voluntário nesse trabalho de inventário que está sendo realizado na Arie. “Fazer parte do grupo de voluntários do Programa de Voluntariado do ICMBio – Arie Floresta da Cicuta é uma grande honra e traz ampla experiência. O edital contou com 325 inscritos de todo o Brasil e destes, cerca de dez foram selecionados. Em uma região bem urbanizada e industrializada como a nossa, ter a oportunidade de trabalhar com a natureza é algo raro. Com um mercado de trabalho sempre exigindo um mínimo de experiência, ter este contato é muito importante para quem é recém-formado ou quem se formou há um tempo e não trabalhou na área como foi meu caso”, pontuou Jeferson, citando a bagagem curricular que carregará em sua carreira. “Além do enriquecimento curricular, o conhecimento que adquirimos a cada expedição de pesquisa é algo que iremos carregar pela vida toda. Durante o projeto descobrimos espécies e cenários que jamais imaginamos ter tão perto. Para mim esta oportunidade tem significado um grande crescimento pessoal, profissional e social, pois não ficamos restritos a coletas de dados, já participamos de seminários, mostra fotográfica, congresso internacional, além de outros encontros populares, enfim, abraçamos de fato a causa”, enumerou o voluntário.

Ele falou ainda sobre a importância do projeto de mapeamento das espécies que habitam a floresta. “Além de contribuir com dados científicos sobre a distribuição de espécies e com a base de dados sobre a Arie Floresta da Cicuta, o projeto e seus resultados servem para subsidiar a tomada de decisões na gestão, administração e manejo da Unidade de Conservação e, ainda, evidenciar o quão importante é esta área protegida. Em um Bioma tão degradado e fragmentado como é a Mata Atlântica, muitas espécies não conseguem mais sobreviver devido à perda de habitat em decorrência das atividades urbanas e rurais. Entretanto, na Arie Floresta da Cicuta elas encontram um refúgio protegido, e as descobertas de ocorrência de espécies nunca antes registradas reforçam ainda mais a sua significância biológica e demonstram que a Arie Floresta da Cicuta tem cumprido efetivamente com sua função de conservação da biodiversidade regional”, destacou Jeferson de Paula.

RECONHECIMENTO DO TERRENO

Bombeiros militares do 22° Grupamento de Bombeiro Militar, na semana passada, realizaram uma visita técnica na Arie Floresta da Cicuta.

De acordo com o Comandante do 22° GBM, o tenente coronel BM Leonardo Loyola, a instrução teve como objetivo realizar uma marcha de reconhecimento operacional, em virtude de o local ser considerado um ponto crítico regional, no que se refere aos eventos de incêndio florestal, uma vez que no ano de 2017 ocorreu o pior evento neste sentido, quando um incêndio devastou 12 hectares do local de preservação ambiental. “A integração entre os órgãos de conservação e prevenção, assim como a consciência de preservação coletiva, são as chaves no cuidado com o meio ambiente. Esses tipos de instruções visam o preparo da tropa para as ocorrências de incêndio florestal, que ocorrem, anualmente, no período de maio a setembro”, comentou o comandante reforçando que trabalhando desta forma, o Corpo de Bombeiros estará pronto para atuar nos eventuais incidentes.

VISITA GUIADA

A visitação com objetivos educacionais na Arie Floresta da Cicuta é permitida pela legislação, e qualquer pessoa ou grupo interessado em conhecer a Unidade de Conservação poderá entrar em contato com o ICMBio/Volta Redonda através do e-mail: [email protected] ou comparecendo no escritório do ICMBio, que está na Rua 18-A, n° 68 – Vila Santa Cecília – Volta Redonda, de segunda a sexta-feira, de 9 às 18 horas. As visitas acontecem sempre com o acompanhamento de um técnico da equipe gestora do ICMBio/Arie Floresta da Cicuta.

Mais informações sobre a UC poderão ser acessadas pelos endereços: http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/mata-atlantica/unidades-de-conservacao-mata-atlantica/2161-arie-floresta-da-cicuta ou https://www.facebook.com/florestadacicuta.

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