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Idosa desmaia durante ato ao ver o local onde a filha foi assassinada

Por Mônica Vieira

VOLTA REDONDA

Na manhã de hoje, um ato contra o feminicídio foi realizado em Volta Redonda. O manifesto foi organizado por João Paulo Peixoto de Oliveira, primo de Sirlene Ferreira de Lacerda, de 38 anos. Ela foi assassinada a tiros na madrugada do dia 21 de novembro deste ano, quando chegava de carro ao trabalho, na cantina do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), na Avenida Ministro Salgado Filho, no bairro Aero Clube. A mãe de Sirlene, hoje, ao ver o local onde a filha foi assassinada pela primeira vez, não segurou a emoção e acabou desmaiando. O ex-companheiro de Sirlene foi preso pela Polícia Civil, junto com um comparsa, há poucas horas do crime.

A idosa Antônia Maria de Lacerda, de 61 anos, teve uma queda de pressão ao chegar no local do ato. Ela foi amparada por familiares e ficou por alguns minutos sentada dentro de um carro e depois fez questão de acompanhar toda a ação. Sempre acompanhada pelos parentes, ela chorou a todo o momento e não quis falar, mas se manifestou varias vezes questionando “por que, meu Deus? Por que tiraram a vida da minha filha?”, dizia a idosa, que tem outros três filhos.

Sempre acompanhada pelos parentes, ela chorou a todo o momento – Mônica Vieira

João Paulo conversou com a equipe do A VOZ DA CIDADE, e disse que o objetivo do ato “É dar voz as mulheres que são vítimas de qualquer tipo de violência. A gente não quer que isso aconteça de novo”, disse. “Ela já estava sofrendo ameaças e muito tempo antes, teve medo de denunciar, não sabia as consequências. Por isso nosso tema hoje é Feminicído, Basta!”, completou.

Questionado sobre a relação da prima com o autor do crime, João Paulo explicou que ela viveu por dois anos com ele e que vivia um relacionamento conturbado. Eles já estavam separados há dois anos e ele não aceitava, fazia ameaças a ela e aos possíveis relacionamentos que ela tentava ter.

Perguntado se ele era agressivo, o primo de Sirlene disse que sim. “Sempre agressivo. Batia nela. Em 2017 ela fez registro de ocorrência e na semana que ela foi assassinada, ele já havia fechado o carro da Sirlene de moto e fez ameaças. Ele foi impedido pela Guarda Municipal, mas ela não esperou para fazer o registro”, contou, lembrando que ela deixou dois filhos.

Sirlene Ferreira de Lacerda foi morta dentro do carro a caminho do trabalho-DIVULGAÇÃO

João Paulo pede que as mulheres que sofrem essa violência procurem ajuda. “Não pode achar normal. Tem mulheres que são vítimas, mas não percebem. E quem presencia também tem que denunciar, pois a omissão tem tanta culpa quanto o homicida”, lembrou.

A vereadora Rosane Bergone, que mora na mesma rua que a família, acompanhou todo a ação e ficou ao lado da mãe da Sirlene. Ela disse que o ato serve de alerta para todas as mulheres que estão sendo vítimas de violência. “Queremos alertar a todas que são ameaçadas de qualquer forma. Denuncie. A Sirlene não teve chance.”, disse. “Mulheres, é muito bom estar com alguém, mas é bom estar com alguém que nos ame. Quem ama não mata. Quem ama trata bem. Quem ama cuida. Por que tanto ódio? Por que não ir viver a vida e deixar a outra pessoa também viver?”, questionou a vereadora, dizendo que a Sirlene tinha muitos sonhos, muitos interrompidos pelo crime.

Acompanhados da Guarda Municipal, que estimou mais de 100 participantes no ato, foi feito um culto no local do crime e os familiares e amigos soltaram balões brancos, pedindo paz. Em seguida realizaram uma carreata até a Vila Santa Cecília e depois, seguiram para a Escola Municipal Othon Reis Fernandes, no Vale Verde, onde foi feito um grafite com o tema feminicídio.

Ela foi assassinada a tiros na madrugada do dia 21 de novembro deste ano, quando chegava de carro ao trabalho – Mônica Vieira

CENTRO ESPECIALIZADO EM ATENDIMENTO À MULHER

Durante o ato no Aero Clube, representantes do Centro Especializado em Atendimento à Mulher (Ceam) estiveram presentes, dizendo ao A VOZ DA CIDADE que só este ano o local atendeu mais de 280 vítimas de violência em Volta Redonda. Em 2018 foram 230 casos e em 2017, 300. “Infelizmente, a violência sempre existiu, mas agora ela tem ganhado mais visibilidade. Nos trabalhamos com a prevenção, para impedir que isso ocorra. Orientamos e auxiliamos as vítimas em todos os procedimentos necessários, desde jurídico até psicológico, e a família”, disse Ludmila Aguiar, coordenadora do Ceam.

Ludimila, que estava acompanhada da assistente social, Paola Vicente, confirmou que Sirlene fez o registro na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) em 2017. Porém, recentemente não havia outros registros das ameaças e a equipe não tinha conhecimento do fato. “Por isso fazemos o alerta da importância de denunciar. Hoje, estamos amparando a família. Procuramos os filhos para saber se eles precisam de ajuda psicológica, mas eles não aceitaram”, disse.

O Ceam hoje conta com ajuda de assistentes sociais, psicólogos e ajuda jurídica para as vítimas. Já os homens que têm medida protetiva contra eles, passam por um projeto do Ceam com o Jurídico chamado ‘Desconstruindo o Machismo”. Ele acontece todo o mês e é ministrado por um policial militar da patrulha da Maria da Penha, dos Guardiões da Vida. O objetivo é que este homem, seguindo a vida em frente, não cometa mais violência também com as novas companheiras.

A coordenadora conta ainda que o Ceam possui com um abrigo de proteção para as vítimas, cujo endereço não é informado para dar mais segurança as mesmas, e que o local recebe demandas espontâneas e também da Deam.

O Ceam fica ao lado do Estádio Raulino de Oliveira, na Rua Antônio Barreiros, 232. O telefone para contato é o (24) 3339-9215. Já o telefone da Patrulha da Maria da Penha é 9 9245-0969. “Violência não é só física. É verbal, moral e até patrimonial, se o seu companheiro está pegando seu dinheiro, quebrando seus pertences, como celular, ou te ameaçando, diminuindo. Intimidação já é crime e vocês não podem aceitar, tem que denunciar”, finalizou Ludmila Aguiar, coordenadora do Ceam.

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