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Feira Cultural Xica Manicongo é promovida pela Secretaria de Políticas para Mulheres

Evento acontece no Memorial Zumbi e contará com apresentações culturais, economia criativa, serviços públicos e muito mais

Por Roze Martins
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VOLTA REDONDA

A Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos (SMDH) de Volta Redonda realiza neste sábado, dia 23, das 14h às 20h, a 2ª Feira Cultural Xica Manicongo, no Memorial Zumbi dos Palmares, na Vila Santa Cecília. Com entrada franca e desenvolvido para a população negra e LGBTI+, mas aberto para todo o público, o evento traz o nome de Xica Manicongo, reconhecida como a primeira travesti negra do Brasil.

A Feira Cultural inclui apresentações musicais de artistas da região, feira de economia criativa com empreendedores do município, serviços públicos de saúde, educação, empregabilidade, profissionalização e muito mais.

Entre os objetivos do evento está a promoção de visibilidade da luta da comunidade negra e LGBTI+, oferecendo serviços de políticas públicas, além de promover música, cultura e arte, atividades de extrema importância para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária.

“Esses eventos têm o poder de unir diversas lutas e vozes que muitas vezes estão marginalizadas ou invisibilizadas, trazendo para a pauta as questões de gênero, raça, etnia, classe e orientação afetivo-sexual e identidade de gênero”, afirmou secretária municipal de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos, Glória Amorim.

A assessora técnica da SMDH, Thamires Torres, que é responsável pela Promoção de Políticas de Gênero, aponta as conquistas com a realização da 2ª Feira Cultural Xica Manicongo no município:

“Eventos como esse que reúnem as comunidades negras e LGBTI+ têm um papel vital no fortalecimento da identidade e no desenvolvimento de políticas públicas de maneira transversal e que realmente vise a equidade de acesso. Também a promoção de cultura e música, que muitas vezes são as expressões artísticas e sociais mais potentes de resistência e afirmação dessas comunidades, cria espaços para a visibilidade, incentivo aos artistas do município, contribuindo para desmantelar estigmas e preconceitos. A cultura e a música simbolizam a resistência, sendo a cultura uma das maiores aliadas da nossa população, especialmente no Brasil, onde a cultura negra e LGBTI+ sempre esteve na linha de frente. Ao mesmo tempo, teremos espaços de orientação das políticas públicas municipais voltadas para educação, saúde, lazer, combate à violência, profissionalização, empregabilidade, assistência social e muito mais”, diz Thamires.

A assessora técnica Juliana Sampaio, da Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da SMDH, acrescenta que “a realização da II Feira Cultural Xica Manicongo em espaço público celebra essa cultura com apresentações musicais, danças e performances que enriquecem a identidade coletiva dessas comunidades. Mas também garantem que suas histórias e realidades sejam reconhecidas e respeitadas, fortalecendo a autoestima e a visibilidade dessas populações, permitindo que as pessoas se vejam representadas na sociedade”.


Juliana cita, ainda, outro fator que tem que ser observado nesta segunda edição do evento. “Outro aspecto importante desses eventos é o seu papel na educação e sensibilização da sociedade em relação a diversidade racial e de gênero. Ao levar essas discussões para a rua, para os palcos e para os espaços culturais, cria-se uma oportunidade de quebrar estereótipos e preconceitos, promovendo uma reflexão coletiva sobre o racismo e a LGBTIfobia”.

Quem foi Xica Manicongo?

Considerada a primeira travesti do Brasil, Xica foi uma pessoa escravizada que viveu em Salvador (BA) e trabalhou como sapateira na Cidade Baixa, segundo registros de documentos oficiais arquivados em Lisboa, Portugal.

Seu sobrenome, Manicongo, era um título utilizado pelos governantes no Reino do Congo para se referir aos seus senhores e às suas divindades. Dessa forma, podemos então traduzir o nome dela como “Rainha ou Realeza do Congo”.

No século XVI, as normas e regras de cisgeneridades eram ainda mais rígidas, mas Xica se recusava a usar vestimentas consideradas masculinas para a época e a se comportar “como um homem”. Por conta desta resistência, ela foi acusada de sodomia e julgada pelo Tribunal do Santo Ofício, instituição eclesiástica responsável por punir judicialmente crimes de “heresia”. Além destas denúncias, ela também foi acusada de participar de “uma quadrilha de feiticeiros sodomitas”.

Xica Manicongo foi condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Sufocada pela pressão social e para fugir da pena, ela abdicou de suas roupas e adotou o estilo de vida direcionado aos homens da época.

A história dela é uma representação simbólica da resistência e da luta contra a opressão, especialmente para a comunidade LGBTQIA+. Sua história inspirou até mesmo um prêmio em seu nome, criado pela Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (ASTRA-Rio), além de um quilombo urbano no Rio de Janeiro que leva seu nome. Xica Manicongo representa a luta das travestis brasileiras pelos seus direitos e reconhecimento.

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